quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Viagens pós-hodiernas


Comecei a dar aulas na faculdade de turismo em 1988, na PUC-Campinas. Já tinha experiência em viagens por ter sido guia internacional da Abreutur, na época uma operadora top no Brasil. Era novato como professor, mas me sobrava informalidade e espontaneidade na sala de aula. Gostava de ler, adorava pensar sobre o futuro e as tendências, acompanhava o que rolava nos Estados Unidos e arredores. Num mundo pré-internet, a possiblidade de ler muito, ver filmes, ir ao teatro e viajar ao exterior fazia uma grande diferença.
Eu sabia muita coisa do que rolaria porque lia e via isso acontecendo nos países desenvolvidos. O Brasil era fechado e distante, vivíamos meio ocultos perante o mundo, mas já despontavam coisas muito interessantes por aqui. Porém, por mais que eu sonhasse com o futuro, jamais, no final dos anos 1980, eu escreveria algo assim...

“Cheguei no aeroporto em São Paulo, fiz o check in num totem eletrônico apenas digitando um número. Depois despachei a bagagem e mostrei o passaporte. No voo acompanhei a rota da aeronave pelo terminal de entretenimento de minha poltrona da classe econômica, onde havia também filmes, música, jogos e canais de TV.
Ao chegar no destino, comprei um bilhete de trem numa tela, fui direto do aeroporto ao hotel e para fazer meu outro check in só apresentei o passaporte. Minha reserva estava feita e paga, segundo o sistema informatizado. Não há mais bilhetes aéreos, vouchers, papelada e documentos, apenas cópias em papel que algumas pessoas fazem para o caso de algo dar errado, o que não é muito comum, vale o que está armazenado na memória das redes globais.

No apartamento liguei meu computador, ele achou a rede local, conectou-se e acessei a internet (a rede mundial de computadores, a custo zero para os hóspedes) para saber as notícias, ver e-mail, curtir rede social e escrever algo para meu blog, além de postar a foto do quarto.”
Eu não tinha imaginação ou coragem para escrever isso há quase 25 anos, porque era tão fantasioso que ninguém poderia acreditar.

Entretanto, agorinha, do apartamento do meu hotel em Amsterdam, acabo de relatar como foram as minhas últimas 24 horas. Isso tudo é extremamente banal para os mais jovens, porém uma ficção cientifica consumada para quem é mais ou menos da minha idade e seria feitiçaria braba para meus avós. Então, criatura, imagine o que os seus netos farão...  


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