domingo, 24 de junho de 2012

A viagem, segundo meus alunos(a)s


Fotos: Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Textos: dos alunos e alunas do primeiro semestre de Lazer e Turismo da EACH-USP, devidamente identificado(a)s.
  
Tenho uma disciplina chamada História da Cultura, do Lazer e do Turismo, ministrada no primeiro semestre de Lazer e Turismo, na EACH-USP. É uma viagem pelo sentido e significado da viagem, desde os primórdios mitológicos, religiosos e filosóficos passando pela arte em geral, literatura e todo tipo de relato relacionado às viagens. 



Nesse semestre corrigi 152 provas, dos períodos vespertino e noturno, e selecionei alguns trechos que acho interessante partilhar para que você veja como quatro meses de delírios e reflexões podem gerar algumas linhas plenas de saber e sabor, espontaneidade e constatações que envolvem a própria trajetória pessoal e os desafios de cada um na vida acadêmica, profissional e na sua existência em geral. Nem todos os trechos interessantes de outras provas aqui estão, o material é vasto e a seleção não foi muito apurada. Mas ficam aqui alguns dos bons pensamentos e sentimentos sobre a viagem e viajantes.

Meus agradecimentos às turmas que pensaram e escreveram coisas descoladas e refletidas sobre o ato de viajar, conhecer o mundo e conhecer a si mesmo. Nem todos aproveitam essas facetas possibilitadas pelos deslocamentos e jornadas afinal, como diz o velho ditado, “não é porque um jumento viaja que ele volta um corcel”.




Acreditando que a poesia é a grande vitamina da alma, fico com os sussurros de Carlos Drummond de Andrade:

‘... Restam outros sistemas fora do solar a colonizar.
Ao acabarem todos,
só resta ao homem (estará equipado?),
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo.”
 Fernanda Lopes Sortanji


A viagem representa a busca, a consciência de si mesmo no universo. O auto-conhecimento doutrina o olhar que se torna capaz de discernir sobre o mundo que o cerca. Porém o deslocamento não é sinônimo de auto-conhecimento. Para isso é necessário que o indivíduo esteja preparado e disposto a lidar com os ciclopes que poderá encontrar dentro de si. Nem sempre essa disposição existe.”
 Tatiani Ribeiro



“Para mim, um dos significados da viagem é o do auto-conhecimento, o momento que podemos tirar para nos organizarmos interiormente, colocar pensamentos em ordem, como também o momento de conhecer novas pessoas, histórias, lugares e paisagens...”
 Lucas Soares Brito Marques
  

“A viagem é necessária, é vivida, é uma experiência única; ela transforma, dá-nos o poder da possibilidade da metamorfose. ... A viagem é o nosso portal, não místico, mas ainda assim desconhecido e excitante.”
 Pablo Marcelo Pereira



“Contudo, a viagem é tão somente uma busca interminável pelos saberes que nos trazem a realização pessoal, que nos fazem aceitar como somos, agregando a nossa própria história e as experiências que se tornam riquezas no decorrer da trajetória de nossas vidas.”
 Marcelo Cordeiro de Oliveira



“Para se ter uma grande viagem como uma grande experiência, é necessário uma série de atitudes e saberes. A viagem precisa superar a banalidade, os aspectos triviais, estereotipados e convencionais e estruturar-se como uma experiência que nasça de uma riqueza pessoal do viajante em busca de momentos e lugares que enriqueçam sua história. Que seja algo sem retorno, levando ao auto-conhecimento e maior consciência das possibilidades e limitações, vitórias e derrotas. A busca do eu interior desconhecido.”
 Jaqueline Letícia Mesquita Silva

 “Muito além das águas e terras místicas, do imaginário mítico grego, bíblico, romano, italiano, das peregrinações e viagens pelas paisagens, esta matéria está nos fornecendo embasamento para criarmos nossas próprias experiências.”
 Stephannie Aoki Bezerra



“E por termos uma única vida, limitada, é preciso deixar de lado o apego pelo mundo, pela família, e ter a atitude de escolher com discernimento o que é melhor para si. Permita-se vivenciar momentos que mostrarão o que você realmente é, seus valores, defeitos; mesmo que algumas descobertas o assustem, elas são importantes ao serem reveladas.”
 Camila Carvalho Setuval


“No início do curso meu conceito de viagem era diferente, eu acreditava que viajar era somente visitar lugares, descansar e ter prazer. Agora vejo como uma busca pelo auto-conhecimento onde podemos passar por situações e adquirir sabedoria que não teríamos em nossas casas, em nossa zona de conforto.”
 Claudia Sayuri Zamami



“Sou uma viajante rouca, pois gritei a minha liberdade e cá estou eu em busca da voz, da vida, do sentir que já possuo. Mas sou incompreendida. Insatisfeita. Eterna insatisfação. Eu quero sempre mais.”
 Vanessa Souza Fiore

  
“A experiência de você entrar em contato consigo mesmo é muito clara... O prazer meio que some e o medo junto da emoção que com ele vem, aparece de forma que não é colocada para fora, externalizada. É uma espécie de euforia intensa combinada com um turbilhão de emoções internas. É o ser humano realmente entrando em contato consigo, só e desprotegido e, apesar de o medo remeter a um sentimento ruim, o resultado disso é maravilhoso.”
 Gabriela de Mesquita

  
“A viagem é um encontro consigo mesmo, com sua história e suas memórias e para isso é preciso coragem.”
 Giulia Cescatto Berti


quarta-feira, 20 de junho de 2012

INFRAERO - exemplo de incompetência no país

A INFRAERO possui uma história nada edificante neste país, com vários casos de má gestão e maus exemplos pelos aeroportos do país. O aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, chamado Bagulhos pela mídia, é o maior exemplo de descaso e incompetência devido à importância do aeroporto, localizado na maior cidade do continente. Mas há outras mazelas tropicais. Uma delas é o desastre de São Luís, no Maranhão, onde estive recentemente.


Esse é o terminal novo, interditado desde março de 2011 porque o teto ameaçava cair apesar de ser novo.


A foto acima foi tirada em16 de junho de 2012, sábado. A placa que os relapsos da Infraero colocaram promete o término da obra no dia 31 de março. Nem para tirar a placa que mostra o atraso da obra eles servem e os atrasos se sucedem, ninguém sabe exatamente quando o terminal ficará pronto. É a comprovação da incompetência de uma empresa obsoleta. Ainda bem que privatizaram alguns poucos aeroportos no sudeste, espero que as empresas sejam decentes.


Olha o que é o terminal hoje. A Aerotenda. Uma cidade que é uma das portas da Amazônia brasileira tem um arremedo de circo como aeroporto.


Tem placa em inglês (e em português) enrolando os clientes com papos sobre segurança. Se houve problema de segurança para os passageiros foi graças à imprudência e incapacidade oportunista da empresa. Se tivessem planejado e coordenado devidamente a construção, a obra não teria entrado em colapso. Aliás, no dia 3 de abril, já com o teto remendado, uma funcionária da GOL se feriu porque uma das placas de acrílico, (mal) colocadas como remendo do teto, caiu sobre ela.



Dentro da tenda é assim. Apertado, amontoado, de qualquer jeito, parece uma rodoviária pobre de interior. Essa é a área do check in.


Essa é a sala de espera, depois que se entra na área restrita do embarque.


Há pouquíssimas lojinhas e o pessoal da Chilli me disse que as vendas caíram muito depois que saíram do terminal para a tenda. Claro. Que prazer as pessoas têm em esperar o voo numa espelunca improvisada.


Mas as taxas de embarque são descaradamente cobradas.O passageiro tem a obrigação de pagar mas a Infraero não tem a obrigação de oferecer um serviço minimamente decente.


Isso é o que a Infraero entende que pode ser um aeroporto no Brasil. Em 2012. Mas que concepções medíocres de conforto e qualidade...


Por trás da aba da tenda está o páteo das aeronaves. Para embarcar é só atravessar a pista. Para desembarcar, os ônibus pegam os passageiros e deixam num barracão, no outro lado do aeroporto, de onde pegam as malas e embarcam nos carros ou ônibus. Tudo tão precário e desconfortável quanto a área de embarque.


Parece um aeroporto desses países arruinados e perdidos nas franjas da civilização.


Essa é a primeira e última visão que se tem de São Luís para quem chega de avião. Uma cidade histórica, com culturas ricas e complexas, natureza deslumbrante e que sofre a mais de um ano com o descaso da infraero que construiu mal o novo terminal e nunca acaba de reformar a ruína. Há outros aeroportos ruins pelo país (Goiania, Vitória, Guarulhos-SP. Viracopos em Campinas etc.). Infelizmente a infra-estrutura aeroportuária brasileira é medíocre, mas os passageiros, tripulações e empresas de aviação não reclamam como deveriam. Quem sabe um dia as coisas mudam, nada é impossível.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

RTD-6¨na EACH - USP

A 6ª Conferência Internacional sobre Turismo Responsável nos Destinos, RTD-6, acontece de hoje (18) até quarta-feira (21) na EACH-USP. É um evento de médio porte, com participantes de uns vinte países e de vários estados brasileiros e se insere no conjunto de atividades relacionadas à Rio +20.


A Conferência está sendo veiculada e gravada para servir de plataforma de consulta e orientação para os assuntos inerentes ao Turismo Responsável.


Os presidentes do evento, o inglês Harold Goodwin, da Leeds Metropolitan University e Eduardo Sanovicz, da EACH-USP, abriram as atividades às 13h20. Também estiveram presentes o diretor da EACH, Prof. José Boueri, e o prefeito de Itu, Herculano Passos Junior, presidente da Aprecesp (a associação das estâncias paulistas).


Aí estou com o quarteto que trouxe o evento para o Brasil e tornou-o possível: Marcelo Vilela, Mariana Aldrigui, Karina Solha e Cynthia Correa, todos da EACH-USP.



Xavier Font e Harold Goodwin, da leeds University, lideraram um grupo de estrangeiros que se reúne pela sexta vez para discutir sustentabilidade, ética, responsabilidade social e novas tendências para um turismo mais estruturado e descolado.


Teve bastante espaço e tempo para discussões, troca de experiências e conversas informais.



O evento continua nas tardes de terça e quarta-feira.


Apesar das culturas e línguas diferentes todos se entenderam ajudados, claro, pela língua franca universal, o inglês e pela vontade de se compreenderem mutuamente, que é o mais importante.


Alunos e alunas do curso de Lazer e Turismo foram selecionados e orientados para atuar na organização e estão curtindo conhecer gente de todo o país e do mundo. Estudar turismo e receber  pesquisadores e empreendedores da área é uma maneira bem legal de aprofundar os conhecimentos e  se divertir.

domingo, 17 de junho de 2012

São Luís do Maranhão: UFMA e festas juninas

Sexta-feira acordei de madrugada e fui para o aeroporto, rumo a São Luís, Maranhão. Apesar da greve das universidades federais, a Universidade Federal do Maranhão - UFMA, planejara um evento para os alunos de turismo e hotelaria e o manteve. Dei uma palestra sobre Tecnologias de Informação e Comunicação e o turismo.


Cheguei e me levaram ao restaurante Senac. Lá estavam as professoras (es) do curso e o meu velho amigo João dos Santos Filho (segundo da dir. para esq.), da Universidade Estadual de Maringá (PR), um dos dois palestrantes convidados de fora do Maranhão.


No Senac tinha um peixinho bem gostoso, fora os outros bufês de guloseimas.



O evento foi no auditório da UFMA e os alunos(as) organizaram tudo. No hall havia a exposição de painéis, com resultados de algumas pesquisas realizadas.


A foto oficial com os colegas docentes ...


... e as fotos com as alunas e alunos ...


... que participaram so simpósio. Conversei com bastante gente e ganhei um livro com a história das missões jesuítas no Maranhão e no Pará.


O João mediou a minha palestra e de minha parte gostei muito da conversa, do debate e da turma.


Depois do evento acadêmico teve festa popular. É época das festas juninas assombrosas e fantásticas do nordeste brasileiro e no Maranhão tem o bumba-meu-boi (não confundir com o boi bumbá de Parintins-AM) e rola festa por toda a cidade.


As professoras Linda e Thays me levaram na Lagoa, onde vários grupos se apresentam nas noites juninas.


São amplos espaços, com palcos imensos, coloridos, iluminados, decorados.


Os sons e as danças, os detalhes complexos das roupas e ornamentos, ...


...articulam a beleza de uma história contada milhares de vezes e interpretada pelas diversas comunidades, conforme sua sensibilidade e elegancia próprias.


É o que Ariano Suassuna denomina de Brasil Real. A festa na rua é o lugar físico (com suas concepções imaginárias) onde o povo se expressa, sempre de forma ligeiramente diferente, acentuada de acordo com suas idiossicrassias e frescuras.


No entorno do palco restam as barracas com comidas atávicas e saborosas, cerveja gelada, gente de todo tipo andando, olhando, curtindo, vivendo.


É bom de admirar e sentir ...


...de ver as novas gerações persistirem na representação - e vivência - da beleza de seus anscestrais e cuidando da cultura que merece ser mostrada, discutida, reproduzida e transformada ao longo do tempo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

EACH - USP: o início de uma tradição

A EACH, Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, ou USP-Leste, é jovem. Seu projeto é de 2003 e sua estréia aconteceu em fevereiro de 2005.


Apesar de sua recente história, a nova unidade da USP se insere no contexto de uma Universidade com quase oitenta anos. A maioria dos seus 260 professores (100% doutores) é jovem e ingressou na nova unidade. Mas alguns professores vieram do Butantã já com uma carreira consolidada, portanto não é estranho que já aconteçam os processos de aposentadoria, um momento na carreira acadêmica que deve ser valorizado e reconhecido.


Foi o que aconteceu hoje (quarta-feira) quando a Congregação da EACH homenageou três recém-aposentados, os professores doutores Manoel Cabral, Dante de Rose Junior e Waldir Mantovani.


Uma unidade acostumada a olhar sempre para o futuro também precisa preservar a sua história, a memória dos fatos e das pessoas que possibilitaram a implementação do projeto.



O vice-diretor, Edson Leite (esq) e o diretor, José Boueri, presidiram a 47ª Reunião Ordinária da Congregação que terminou marcada pela homenagem. Foi uma das reuniões significativas, um dos belos momentos solenes da EACH.


Docentes, funcionários e alunos foram cumprimentar os veteranos mestres.


Manoel Cabral (professor associado) veio da ESALQ, a USP de Piracicaba, forte nas áreas de agronomia e ciências da terra.


Waldir Mantovani (professor titular) é especialista em meio ambiente e, apesar de aposentado, continuará a atuar no mestrado e doutorado na EACH.



Dante de Rose Junior (professor titular) é da área de Educação Física, especializado em basquete e corinthiano incurável. Foi o primeiro diretor eleito da EACH e fez várias amizades por lá, especialmente com nossa turma de Lazer e Turismo. Também continuará atuando em cursos, palestras e dando palpites no futebol e no basquete, esportes que adora.



Todos fizeram breves e significativos discursos, com humor e ironia que caracteriza gente inteligente e de bem com a vida.


Levaram um diploma de reconhecimento pelos seus serviços e atenções que deixaram na Universidade. Perceberam que fizeram alguma diferença na história e nos processos de uma instituição. Isso bem vale uma carreira.


Entre essa moçada que começa sua vida acadêmica e a maturidade de uma longa carreira bem curtida, há muita vida, brigas, amores, risadas, atritos, estudos, pesquisas, festas e um mundo a ser explorado.