quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Arena do Corinthians, em Sampa

Com alguns colegas da USP, fui visitar as obras do estádio que sediará alguns jogos da Copa de 2014. É também um antigo sonho do Corinthians que começa a sair da terra, na zona Leste de São Paulo. O lugar é estratégico, há duas estações de metrô nas proximidades (inclusive  o terminal Itaquera) e um conjunto de acessos rodoviários estão sendo construídos.



 As obras estão um pouco atrasadas, mas cerca de 73% está concluído. Deve ficar pronto a tempo da FIFA fazer adaptações e implantação dos serviços especiais para a Copa do Mundo, como abrigar devidamente uns cinco mil jornalistas de todo o mundo, 68 mil espectadores e atendimento VIP para chefes de estado, realeza, presidentes corporativos e celebridades de primeira linha.

 
  
Na parte administrativa, um painel de fotos mostra como o complexo foi sendo edificado ao longo dos meses.


 Será um estádio com alta tecnologia ambiental, técnicas de construção inéditas, sistemas de sinalização e comunicação de ponta e, algo ainda raro no Brasil, conforto e segurança para os frequentadores. Mas acho que haverá poucos bares, há que se conferir.


Os professores da EACH-USP, Alexandre Panosso e Ricardo Uvinha, estavam na turma que visitou a Arena.


 O gramado está na fase inicial de implantação e ficará verdinho nas próximas semanas. Plantarão grama de inverno (a Copa é em julho) que será refrigerada no verão.

 Muita gente visita as obras, como a equipe da TV Bandeirantes que fez uma matéria sobre o estádio.



 A montagem dessas estruturas metálicas que sustentarão o teto, é um dos desafios arquitetônicos que sempre exigem alta performance dos operários e engenheiros.


 Placas de vidro no teto e nas laterais servem como decoração funcional. No caso da área frontal, essas placas fazem parte de um imenso telão que apresentará notícias, publicidade e entradas ao vivo de dentro do estádio.





 Esse corte mostra as entranhas dos dois edifícios principais de onde saem as arquibancadas e vias de acesso.

Alguns números do novo estádio do Corinthians em Itaquera, zona Leste de São Paulo:

Terreno: 198.000 m²

Área construída: 189.000 m²

Estacionamento descoberto para 1.900 vagas e coberto, para 990 vagas.

Camarotes: 89

Assentos: 48 mil (serão instalados mais 20 mil, provisoriamente, para a Copa)

Sanitários: 502

Lojas (em concessão): 59

Elevadores: 15

Escadas rolantes: 10

Restaurantes/bares: 4

Cobertura metálica: 31.500 m²

Fachada oeste em pele de vidro: 8.900 m²








quinta-feira, 23 de maio de 2013

Eduardo Sanovicz - A ABEAR e o setor aéreo brasileiro

Recentemente fiz duas postagens sobre a realidade da aviação comercial brasileira. Uma delas (29/04/2013) foi sobre os rankings da Skytrax World Airlines e a situação das empresas e aeroportos brasileiros, não muito bem colocados no cenário internacional. A outra (05/05/2013), foi uma entrevista com Lucas Batista, que trabalha no aeroporto de Viracopos (Campinas, SP) como despachante e é um jovem piloto.

Mas é importante que saibamos o que pensam as companhias aéreas brasileiras.
Recentemente foi criada a ABEAR para, justamente, articular questões estratégicas referentes à aviação comercial nacional.



Para a presidência foi convidado Eduardo Sanovicz, um conhecido executivo da área de turismo e eventos. Sanovicz é amigo pessoal e professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, onde somos colegas. Gentilmente abriu sua agenda para responder a algumas perguntas neste blog. Confira a entrevista para conhecer sua trajetória profissional e acadêmica, ideias e propostas. No final há um link para a Agenda 2020 da ABEAR, onde você pode acessar mais informações e detalhes.



1. Fale sobre você, sua história profissional etc.

 Sou Presidente da ABEAR e Professor Doutor do Curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atuei até recentemente como consultor-sênior em programas e ações na área de Marketing e Turismo. Graduado em História, sou Mestre e Doutor em Turismo pela Universidade de São Paulo. 

Entre 2007 e 2010 fui Diretor da Reed Exhibitions Alcantara Machado. Entre 2001 e 2007, Vice-Presidente da ICCA – International Congress & Convention Association

De janeiro de 2003 a agosto de 2006, presidente da Embratur, tendo sido responsável pela implantação do Plano Aquarela e pela criação da Marca Brasil. 

Entre janeiro de 2001 e janeiro de 2003, fui Presidente da Anhembi Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo e, entre abril de 1997 e dezembro de 2000, Diretor de Operações do São Paulo Convention & Visitors Bureau. Entre 1993 e 1996, Diretor de Turismo da Prefeitura Municipal de Santos.


2. O que é a ABEAR? Quais seus objetivos, metas, estrutura.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) foi criada pelas cinco principais companhias aéreas brasileiras – AVIANCA, AZUL, GOL, TAM e TRIP, com a missão de estimular o hábito de voar no Brasil. Nosso foco de trabalho está centrado no tratamento de questões institucionais do setor aéreo. As estratégias de atuação da ABEAR compreendem planejar, implementar e apoiar ações e programas que promovam o crescimento da aviação civil de forma consistente e sustentável, tanto para o transporte de passageiros como para o de cargas.

Além de contribuir para o fortalecimento de toda a cadeia produtiva da aviação, a ABEAR atua em constante relacionamento junto aos setores público e privado, entidades de classe e consumidores.

A criação da ABEAR se deu a partir de um estudo da Fundação Dom Cabral, a pedido do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA). Em 2011, o SNEA identificou a necessidade de uma reorganização da forma como as companhias aéreas dialogam com o público, em um momento em que o total de usuários de avião já supera o de transporte rodoviário. Em parceria com o SNEA, que se dedica exclusivamente aos temas trabalhistas e jurídicos, a ABEAR trata das questões institucionais e dos temas relacionados à segurança e operação de voo do setor aéreo.

Nossa estrutura é bastante simplificada. As decisões são tomadas por um Conselho Deliberativo que conta com um representante de cada empresa associada. O trabalho é posto em prática a partir de dois comitês: um Institucional, que discute estratégias e ações de relacionamentos institucionais e corporativos da entidade; e um de Comunicação, destinado a dialogar com diversos públicos de interesse.






3. Como você analisa a situação da aviação comercial brasileira hoje, com os problemas econômicos das empresas etc.?
Hoje o Brasil é o terceiro maior mercado doméstico do mundo, atrás somente de EUA e China. De 2002 até 2012, o número de viagens domésticas e internacionais aumentou 161%, saindo de 38 milhões de passageiros transportados para mais de 100 milhões. O aumento do poder de compra do brasileiro, assim como a inclusão de novos consumidores nos últimos dez anos são responsáveis por este salto, também provocado por uma redução brutal no preço das tarifas aéreas. 

Em média, de 2006 até 2012, os valores caíram 46% e hoje o avião é considerado o meio de transporte mais barato para viagens planejadas de longas distâncias no Brasil. Tais fatos colaboram para a geração de 1,2 milhão de empregos e a adição de R$ 73 bilhões ao PIB brasileiro. As companhias aéreas brasileiras são fortes, estruturadas e eficientes. Mas trabalham com margens bastante apertadas, muito em função dos altos custos, inerentes do setor e ao modelo brasileiro. Uma parte importante do trabalho da ABEAR é justamente tratar essas questões (custo de combustível, ICMS, aperfeiçoamento profissional etc.) junto aos principais interlocutores para tornar o transporte aéreo brasileiro ainda mais competitivo em nível mundial.

4. A crise aérea acabou mesmo? 
Aquilo que se convencionou chamar de crise aérea foi um período marcado por uma série de questões peculiares por volta de 2006. Desde então o mercado continuou crescendo, passou pelos ajustes necessários e  atingiu um grau de maturidade bastante grande. Hoje temos pelo menos quatro grandes empresas robustas e que prestam um excelente trabalho aos passageiros.  Não sem razão, chegamos a 2012 com 100 milhões de passageiros transportados no Brasil. Esse é o fato que melhor mostra que aquele período foi superado. Para continuarmos crescendo com sustentabilidade, entretanto, estamos sempre atentos e em contato com os demais interlocutores do setor para que todas as áreas que compõem essa complexa atividade estejam adequadamente preparadas, incluindo-se aí a força de trabalho, composta pelos aeronautas e aeroviários, a infraestrutura aeroportuária e de navegação, além das próprias companhias aéreas.

5. A infraestrutura de transportes no Brasil é muito criticada. Como você analisa a situação no que se refere ao transporte aéreo?
A má distribuição geográfica para o transporte aéreo e a sobrecarga dos aeroportos são problemas que impactam diretamente na infraestrutura do setor no Brasil. Hoje o transporte aéreo de passageiros está concentrado em poucas regiões e, dos 12 maiores aeroportos do país, oito já estão com utilização igual ou acima da capacidade reportada. Uma infraestrutura aeroportuária deficiente prejudica o setor, limitando muitas vezes o tráfego aéreo e obrigando as companhias a voar com uma capacidade menor do que poderiam oferecer. Com as novas concessões acreditamos que este quadro começa a mudar. Só com um amplo investimento conseguiremos dobrar, nos próximos dez anos, o volume de passageiros no país, algo plenamente factível.

6. Os governos mais ajudam ou atrapalham as empresas aéreas?

Três fatores são cruciais para que possamos, juntos com o governo, melhorar a situação do setor e também das empresas aéreas: infraestrutura, custos e regulação. É necessária a viabilização de investimentos em ampliação, manutenção e construção de aeroportos, controle de tráfego aéreo e desenvolvimento de novas rotas aéreas. Com relação aos custos, o principal fator é o do QAV e a alíquota de ICMS deste combustível. A abertura de um diálogo com a Petrobras para revisão da fórmula de precificação do QAV e a equalização do ICMS entre os estados, além da garantia do marco regulatório, são pontos de extrema importância para alcançarmos nossas metas até 2020.





7. Como fica a situação nos megaeventos que se aproximam? Há vários terminais aéreos com atraso em obras, vias de acesso etc. Por favor, comente.

 Os eventos são casos muito pontuais. É sempre possível gerenciar a demanda adicional gerada com reforços de voos e de equipes. Além disso, é sabido que durante o período dos eventos o mercado faz um ajuste natural, uma vez que, por exemplo, as empresas acabam por agendar compromissos e viagens para outras datas, criando uma folga para o atendimento do público dos eventos. Quanto às obras em cursos, a expectativa é que sejam concluídas dentro dos prazos estipulados, de forma que possamos obter uma melhora para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo. 

Em 2013, a ABEAR fez um estudo nomeado de Agenda 2020, no qual demonstramos nossas perspectivas até o ano de 2020. Acreditamos que o setor aéreo deverá demandar entre R$ 42 bilhões e R$ 57 bilhões em investimentos na infraestrutura aeroportuária, organizar a construção ou reativação de 73 aeroportos, além da expansão de 47 aeroportos, assim como o investimento em aeronaves entre R$ 26 bilhões e R$ 36 bilhões.

8. Espaço livre para suas manifestações sobre o que desejar.

Até 2020, a ABEAR espera que, com o comprometimento dos setores públicos e privados para a solução dos problemas do setor,  o transporte aéreo brasileiro alcance um novo patamar. No Agenda 2020, afirmamos a necessidade de investimentos entre R$ 26 bilhões e R$ 36 bilhões, do setor privado e entre R$ 42 bilhões e R$ 57 bilhões, do setor público. Com isso, a projeção para 2020, é que dos atuais 100 milhões, passemos para 211 milhões de passageiros; 73 aeroportos a mais estejam funcionando, totalizando 169; 316 novas rotas sejam incorporadas, alcançando 795 no país; sejam gerados 660 mil novos empregos, chegando a 1,9 milhão o número de empregados pelo setor; e a adição de 526 novas aeronaves, chegando a 976 aviões.


Para conhecer os detalhes da Agenda  2020 da ABEAR e conhecer mais sobre o assunto, acesse o link:

http://www.abear.com.br/uploads/pdf/releases/agenda2020_230413174200.pdf


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Virada Cultural 2013 - festa e polêmica


São Paulo teve a nona edição da Virada Cultural, uma maratona que reúne dança, música, teatro, artes plásticas, performances, cinema, gastronomia, bebedeira, pegação, drogas leves e pesadas, arrastões e eventualmente uma violência mais hard, como assassinatos (foram dois, este ano) e algumas facadas. Em suma, uma típica festa metropolitana, hiper-moderna e latino-americana, com laivos inconfundíveis de fogosa brasilidade. Mais de 900 eventos dividiram espaços e tempos com tribos, classes e nichos da maior cidade do país. A famigerada classe média local vê a festa com desconfiança e participa com cuidado. Os emergentes, naufragados e submersos se jogam de diversas formas e estilos. As elites ignoram solenemente a plebe - rude, ignóbil e ignara - que pulula pelas ruas, como nos piores pesadelos de Lovecraft.


Os mais cautelosos (como eu) perambularam pela farra apenas durante o dia. Adoro ver a cidade dos negócios intensivos virar uma teia de ócios, prazeres, entretenimento, artes e sacanagens. Às noites, todos os gatos e outros bichos são pardos e indefinidos, portanto há que se deslizar pelas ruas com a ardilosidade das serpentes e com a astúcia das raposas. Preferi passar a noite entre meu sofá e a cama.


Mas durante o dia saí da toca para ver o povo curtir a festa no pedaço mais descolado da América do Sul. É só ver a curtição, com muito relaxo, que ela toma conta de nossas mentes e almas. O espetáculo acontece nos palcos e nas ruas, sucede com a gente mesmo.


Policiais a cavalo me lembram a ditadura, os anos de chumbo, porém nos dá uma sensação de segurança que remete às cidades desenhadas por Moebius ou Bilal, com roteiros de Jodorowsky. Essa foto foi ao lado do antigo São Paulo Hilton, cuja rua se destaca, há décadas, por uma decadência descarada.


Nossa sociedade machista latina é tão evidente que o Banco Mundial fez uma campanha publicitária no metrô contra a violência às mulheres. O lutador Anderson Silva (que abriu mão do cachê) mostra que macho que é macho respeita as mulheres. E se faz respeitar, pois caráter e carinho são boas bases de relações.


Vários bares viraram camarotes para abrigar voyeurs, preguiçosos e adoradores dos efeitos etílicos.



A estrutura do viaduto do Anhagabaú serviu de apoio para vários balanços que planavam sobre as pedras das calçadas.


Ao lado, uma aranha feita de madeiras articuladas era parte de muitas instalações artísticas espalhadas pela cidade.


Ficou claro que Dance pole ( ou pole dance...) não é apenas para mulheres. Esse aí refestelou-se em um dos palcos das ruas.


O velho coreto repaginado do início da Av. São João é um point entre engraxates de luxo, bares mais caros (e nem tão bons assim) e o mundo das finanças do centro velho, onde (nos dias de semana) executivos e executados se espremem pelas ruas estreitas imaginando que são astros ou figurantes de Wall Street.



Mas no domingo os olhares se voltaram para as artes e performances que tomaram as praças e avenidas.


Há uma série de instalações do artista Eduardo Srur, intitulada Sonhos e Pesadelos. Uma das instalações é esse farol náutico com oito metros de altura, no vale do Anhagabáu. Vê sua base? Olhe mais de perto...


Identificou?


Ela está coberta por milhares de ratos de borracha e exerce um fascínio táctil, unido à repugnância espontânea ao insólito que negamos por respeito à nossa saúde mental. Para saber mais sobre esse artista que já fez muitas intervenções na cidade acesse:  http://artenalinha.wordpress.com/2013/04/09/sonhos-e-pesadelo-de-eduardo-srur-no-centro-da-cidade/  



As linhas arquitetônicas são clássicas. Após décadas fazendo parte do cenário urbano, como um imenso muro torto, o edifício Copan ainda atrai nossos olhares por sua ousadia e volume. No início da década de 1980, quando era estudante da ECA, morei no 30º andar da torre. Veio daí minha paixão pelas alturas das cidades imensas, coalhadas de prédios e histórias.  




Quem se dispôs a enfrentar as ruas ficou gratificado.  Todo mundo se aboletou como podia para ver, curtir e interagir com a cidade e suas obras culturais.


Há um sentido de pertencimento em sentar nas calçadas para ver alguma coisa acontecer, passar, viver, rolar... Como nas pequenas cidades do interior ou ao lado dos boulevares litorâneos,  as pedras do chão podem servir de arquibancadas para ver um outro mundo, com outros olhos, de outros modos.


Ver, ser visto, possibilitar que outros vejam, reproduzir e compartilhar as imagens e sensações. Experimentar as ruas. Teve festa, violência, alegria, porrada, curtição, bebedeira, amores, discussões, experiências de vida. O Eduardo Suplicy teve a carteira roubada enquanto assistia um show e subiu ao palco para pedir a devolução. Diz a lenda que devolveram só para ele parar de falar, ou para evitar que cantasse, coisa que adora fazer e ali seria difícil de segurar. O jornalista Gilberto Dimenstein teve seu celular roubado num arrastão, mas não se juntou ao coro dos que criticaram e execraram a Virada Cultural. Ele disse que o fato de ter artes, cultura e atividades de prazer organizadas é muito bom para a cidade e ajuda a diminuir a violência. A molecada e as pessoas enquanto curtem não fazem asneiras, em geral. Concordo com ele. Desde Roma, pão e circo fazem parte de políticas públicas. Claro que os eventos podem ser aprimorados e anualmente os erros são sanados. A violência é parte da cidade e se expressa igualmente em festas, paradas, jogos, carnaval, locais públicos e privados de diversão. Ela não é intensificada por essas festas, mas é resultado de condições sociais existentes. Enfim, a festa é fundamental. 

Quem quiser ver a entrevista do Dimenstein acesse: http://cbn.globoradio.globo.com/cbn-sp/2013/05/20/VIRADA-CULTURAL-DIMINUIU-A-VIOLENCIA-EM-SP.htm  

Assim passei o domingo, com todas as ambiguidades, incoerências e paradoxos urbanos na grande festa popular que tomou a urbe pelo imaginário, pelo prazer e pelo tesão existencial. Com muita estética e sensações, num típico jardim paulistano.