Reservei cinco dias das
férias para rever Belém do Pará. Fique na casa de um velho amigo de Campinas, hoje
diretor financeiro numa grande empresa no estado. Na viagem de ida li Equinociais – Viagens pelo Brasil dos
Confins. O texto foi escrito pelo francês Gilles Lapouge ( ex-jornalista
econômico do jornal O Estado de São Paulo)
e publicado pela Pontes Editores, de Campinas, em 1994. Foi presente do
Reinaldo Pontes, ao saber do lançamento do livro sobre viagens que escrevi ao
longo dos últimos quatro anos. Meu livro não descreve viagens, é uma reflexão
sobre o viajar e o conhecimento adquirido sobre o mundo, as outras pessoas, a
sociedade e, principalmente, sobre nós mesmos.
O livro de Lapouge
(ainda disponível em http://www.ponteseditores.com.br/)
relata o Brasil de meados da década de 1970. Foi uma delícia ler seus relatos,
pois foi por essa mesma época que comecei a viajar e percorrer o Brasil profundo, tão diferente e
excitante, em cada uma de suas regiões, rincões e cidades.
O país mudou
intensamente ao longo das décadas recentes, mas suas características básicas de
beleza, culturas diversificadas, selvageria e violência foram mantidas.
Ao voar sobre o norte
de Goiás e Tocantins mesclava as páginas do livro às visões da seca e escrevi,
nas margens de uma página em branco do livro, o que via e sonhava da janelinha
do avião: As terras esturricadas se
estendem por dezenas de quilômetros ao redor da aeronave que percorre um céu
azul pálido. Sem nuvens, apenas um ar ligeiramente embaçado, com réstias
nebulosas nos indistintos horizontes distantes. Todos os tons de marrom terroso
salpicado de minúsculas formas geométricas, pintadas com um verde sujo e cortadas
por retas desviantes de terra clara que terminam ao pé de mesetas áridas,
debruçadas sobre planícies monótonas, tão similares aos seus platôs, igualmente
ressecados, imensos... De repente um rio, de água terrosa, que mal se distingue
dos solos, corta o mundo sem tingir suas margens de verde. As cores marrons
dominam a paisagem até que a Amazônia se impõe e seus verdes desvairados cobrem
as terras até encontrar o mundo de águas fluviais que parecem mares.
Faz mais de uma década
que não vinha a Belém. Logo na aterrisagem a cidade me impressionou pelo número
de torres novas, com 30 ou 35 andares, que hoje são comuns em várias cidades
brasileiras.
Conheci a Amazônia no
início da década de 1980, a bordo do navio Funchal, onde trabalhava na equipe
gestora da Abreutur. A Abreu fretava o navio português e percorríamos o lado
Atlântico do continente, de Manaus a Mar del Plata, em um total de sete
cruzeiros de verão. Depois foram as viagens aéreas, com os roteiros turísticos
pelo norte do país e finalmente comecei a viajar para dar palestras ou cursos.
Por quatro vezes
percorri o rio Amazonas, da foz até Manaus, a bordo do Funchal. Era um sonho.
Ficava na ponte de comando, nas muitas horas vagas, encantado com a beleza
estranha e profunda da selva, dos rios, dos cenários que se moviam naquele
mundo líquido e misterioso para alguém como eu, que sempre viveu em cidades no
sudeste do país.
O Brasil ainda era
muito fechado ao exterior e Manaus era um porto livre com laivos imaginários de
uma Miami equatorial por causa dos produtos importados, sonho de consumo de uma
classe média jeca e carente de novidades. O navio saía de Manaus carregado de
vídeo cassetes, roupas, perfumes, pequenas tralhas eletrônicas e outros
cacarecos importados. Em Belém tomávamos sorvetes e as compras eram na Paratur,
vasos e peças de cerâmica marajoara.
Belém é faosa pela natureza, os rios e as mangueiras nas ruas. Esse é o tronco de uma delas, coberto de outras plantas.
No parque Emílio Goeldi há um pequeno lago com vitórias-régias.
Essa é uma delas florescendo. A folha se abre aos poucos sobre as águas.
Meu velho amigo, Laderlei, que está trabalhando em Belém. Visitamos alguns restaurantes ótimos. O La Madre, especializado em cozinha contemporânea, possui excelente serviço.
O ponto alto da cidade são as docas. Reformadas em 2001, a exemplo de Puerto Madero (Buenos Aires) e Bayside Miami, os antigos armazéns hoje possuem área de eventos, restaurantes, bares e lojas.
Esse é o filhote, um peixe, servido com arroz e jambu e batatinhas noisette.
Almocei com Álvaro Espírito Santo, o secretário adjunto do turismo do estado do Pará, primeiro turismólogo graduado na UFPA (com sua esposa, Ângela) e grande amigo dos velhos tempos. Almoçamos nas docas.
O Mangal das Garças é um parque novo, com animais, restaurantes, plantas e amplos espaços de lazer.
Uma visão dos armazéns das docas, todos com ar-condicionado e muito conforto.
O forte do Presépio é outra área renovada (juntamente com as docas, casa das Onze Janelas, igrejas e casarões).
Foram cinco dias intensos e deliciosos. Agora vamos ao final das férias.