domingo, 14 de outubro de 2012

Mais um dia do professor(a)






De vez em quando, especialmente no dia dos professores, aparecem palavras e pensamentos bonitinhos sobre educação, escolas e os educadores. A mídia, as redes sociais, os políticos, as escolas, todos gostam de defender e apoiar, de alguma forma, a educação e os educadores(as). Mas essa aparência corresponde à realidade nacional?

Claro que educação é importante. É fundamental para formar melhores cidadãos, profissionais, empreendedores e todo tipo de pessoas, além de viabilizar uma sociedade também mais justa e desenvolvida, pelo menos em teoria. Todo tipo de relatório, político, corporativo ou social, enaltece as virtudes e vantagens da Paidéia, do processo pedagógico para aprimorar a cultura e a civilização. Todo esse processo didático-pedagógico depende dos profissionais da área. Aí entram o(a)s homenageados(as), que são as estrelas locais do 15 de outubro, o dia do professor(a), no Brasil.

Para percebermos a importância disso, pensemos sobre os educadores. Pense nos seus professores. Alguns surgem rapidamente na memória, são os (as) que marcaram sua infância e sua adolescência, até mesmo a juventude. Tenho na minha memória, muito claramente, todas (os) que influenciaram minha educação, no bom e no mau sentido. Um desses mestres, o Régis de Moraes, foi meu professor de filosofia na PUC-Campinas e depois meu orientador de doutorado na Unicamp, além de responsável pelo primeiro texto que publiquei. Ele organizou um livro chamado Sala de aula – que espaço é esse?, lançado pela editora Papirus, em 1986. Está na 22ª edição. Eu era estudante de filosofia e escrevi realmente o que pensava em um capítulo do livro onde todos os outros autores(as) já eram experientes educadores. Hoje, como professor, assinaria o texto com a mesma convicção.

Acho que vale reproduzir alguns dos últimos parágrafos.

“A escola pode construir relacionamentos humanos profundos, integrais e duradouros. Relacionamentos que envolvam a pessoa humana em toda a sua potencialidade, em sua riqueza de experiências, que propiciem o enriquecimento mútuo e o crescimento dentro de suas paredes, entre professores e alunos ou entre os colegas. 

Porém às vezes a escola trouxe relacionamentos lastimáveis, destrutivos e plenos de amarguras, personalidades truncadas e doentias, laços tão repletos de ódio e rancor que comprometeram futuros relacionamentos.

Na letra da música de Pink Floyd, temos exatamente o que não se quer em uma escola. Não se quer educação com controle mental, que significa livros escolares medíocres e censurados, aulas expositivas com restrições a apartes dos alunos e cerceamento de comportamento. Não se quer sarcasmos por parte dos educadores que vêem o aluno como um inferior, destinado exclusivamente a receber as informações, cimos e estivesse fazendo um favor à plebe ignara. Marilyn Fergunson, em ‘The Aquarian Copnspiracy’ escreve sobre novos conceitos de educação, onde a ênfase no contexto e no processo devem substituir os velhos esquemas das escolas. Uma educação flexível, não autoritária, participativa, integrada em grupos de idades diferentes para maior troca de experiências. A educação como processo criativo e integral, não apenas livresco ou explanado em salas, mas vivido pela vida afora, além dos muros das escolas, não desprezando, contudo, seus bancos e professores.”  (Trigo, 1986, p. 80).

A realidade educacional brasileira mudou ao longo desses anos, melhorou um pouco, mas de forma bastante desigual pelo país. Porém, no geral, os índices de aproveitamento educacional ainda são muito baixos e o Brasil continua nos últimos lugares nos rankings internacionais (como o PISA, por exemplo). Um dos problemas é que, na verdade, a sociedade civil não dá a devida importância à cultura e à educação. Basta ver os salários baixíssimos dos professores e como as pessoas (pais, familiares, autoridades, políticos) não os respeitam. Não há uma movimentação eficiente e responsável da sociedade civil para garantir uma melhoria consistente do sistema educacional. A valorização da cultura existe em alguns lugares e ocasiões, mas o grande fluxo cultural acontece na superficialidade dos meios de comunicação privados e na cova rasa do entretenimento fácil e simplista. A cultura é frágil e a educação tornou-se um simulacro cujos rótulos valem mais do que seus parcos conteúdos. Fala-se um pouco, faz-se quase nada. As boas escolas são ilhas excepcionais em um oceano de mediocridade e carências de todo tipo.

Os resultados finais são a baixa produtividade dos nossos profissionais; a falta de mão-de-obra altamente qualificada em vários setores, especialmente quando envolve processos mais complexos ou alta tecnologia; uma alienação social no que se refere a deveres e responsabilidades da cidadania; uma despolitização profunda; uma série de relações que oscilam entre o cinismo, o rancor ou a indiferença, tudo o que não deve existir em uma sociedade ou, no que seria ideal, em uma comunidade.

Para mudar essa realidade a educação é importante e os professores, especialmente os de ensino fundamental e médio, são indispensáveis. Qualquer país só se desenvolve plenamente quando estrutura seu  ensino público básico e  gratuito com elevada qualidade.   

Esse é o nosso desafio, dos professores e da sociedade civil em geral. Isso, se queremos um país melhor; se pensamos, responsavelmente, nas novas gerações; se almejamos uma velhice com melhor qualidade de vida e respeito por parte dessa sociedade.

Então, um ótimo dia dos professores para meus colegas, alunos e para todos que se importam com uma das vertentes essenciais da humanidade que é a educação.

Enfim, adoro minha profissão e vocação. Considero-me  razoavelmente realizado na minha carreira acadêmica. Tenho orgulho das minhas escolhas e dos meus trabalhos. Acredito que fazemos a diferença e que podemos contribuir de alguma forma para sociedade. O conhecimento será, cada vez mais, a principal fonte das benesses, riquezas e poderes das sociedades atuais.


Luiz Gonzaga Godoi Trigo


Um comentário:

Confraria Rei Netuno disse...

Grande Mestre Prof.Dr. Luiz Trigo.
Concordo em gênero e número, com o seu verdadeiro, atual e inteligente texto. Sempre uma luz no momento certo.
Beijos, carinhoso e fraterno abraço Lima Trigo. limatrigo@gmail.com confrariareinetuno.blogspot.com