De vez em quando, especialmente
no dia dos professores, aparecem palavras e pensamentos bonitinhos sobre
educação, escolas e os educadores. A mídia, as redes sociais, os políticos, as
escolas, todos gostam de defender e apoiar, de alguma forma, a educação e os
educadores(as). Mas essa aparência corresponde à realidade nacional?
Claro que educação é importante.
É fundamental para formar melhores cidadãos, profissionais, empreendedores e
todo tipo de pessoas, além de viabilizar uma sociedade também mais justa e
desenvolvida, pelo menos em teoria. Todo tipo de relatório, político,
corporativo ou social, enaltece as virtudes e vantagens da Paidéia, do processo pedagógico para aprimorar a cultura e a
civilização. Todo esse processo didático-pedagógico depende dos profissionais
da área. Aí entram o(a)s homenageados(as), que são as estrelas locais do 15 de
outubro, o dia do professor(a), no Brasil.
Para percebermos a importância
disso, pensemos sobre os educadores. Pense nos seus professores. Alguns surgem
rapidamente na memória, são os (as) que marcaram sua infância e sua
adolescência, até mesmo a juventude. Tenho na minha memória, muito claramente,
todas (os) que influenciaram minha educação, no bom e no mau sentido. Um desses
mestres, o Régis de Moraes, foi meu professor de filosofia na PUC-Campinas e
depois meu orientador de doutorado na Unicamp, além de responsável pelo
primeiro texto que publiquei. Ele organizou um livro chamado Sala de aula – que espaço é esse?,
lançado pela editora Papirus, em 1986. Está na 22ª edição. Eu era estudante de
filosofia e escrevi realmente o que pensava em um capítulo do livro onde todos
os outros autores(as) já eram experientes educadores. Hoje, como professor,
assinaria o texto com a mesma convicção.
Acho que vale reproduzir alguns
dos últimos parágrafos.
“A escola pode construir relacionamentos humanos profundos, integrais e
duradouros. Relacionamentos que envolvam a pessoa humana em toda a sua
potencialidade, em sua riqueza de experiências, que propiciem o enriquecimento
mútuo e o crescimento dentro de suas paredes, entre professores e alunos ou
entre os colegas.
Porém às vezes a escola trouxe relacionamentos lastimáveis, destrutivos
e plenos de amarguras, personalidades truncadas e doentias, laços tão repletos
de ódio e rancor que comprometeram futuros relacionamentos.
Na letra da música de Pink Floyd, temos exatamente o que não se quer em
uma escola. Não se quer educação com controle mental, que significa livros
escolares medíocres e censurados, aulas expositivas com restrições a apartes
dos alunos e cerceamento de comportamento. Não se quer sarcasmos por parte dos
educadores que vêem o aluno como um inferior, destinado exclusivamente a
receber as informações, cimos e estivesse fazendo um favor à plebe ignara. Marilyn
Fergunson, em ‘The Aquarian Copnspiracy’ escreve sobre novos conceitos de
educação, onde a ênfase no contexto e no processo devem substituir os velhos
esquemas das escolas. Uma educação flexível, não autoritária, participativa,
integrada em grupos de idades diferentes para maior troca de experiências. A
educação como processo criativo e integral, não apenas livresco ou explanado em
salas, mas vivido pela vida afora, além dos muros das escolas, não desprezando,
contudo, seus bancos e professores.” (Trigo, 1986, p. 80).
A realidade educacional
brasileira mudou ao longo desses anos, melhorou um pouco, mas de forma bastante
desigual pelo país. Porém, no geral, os índices de aproveitamento educacional
ainda são muito baixos e o Brasil continua nos últimos lugares nos rankings internacionais (como o PISA,
por exemplo). Um dos problemas é que, na verdade, a sociedade civil não dá a
devida importância à cultura e à educação. Basta ver os salários baixíssimos
dos professores e como as pessoas (pais, familiares, autoridades, políticos)
não os respeitam. Não há uma movimentação eficiente e responsável da sociedade
civil para garantir uma melhoria consistente do sistema educacional. A
valorização da cultura existe em alguns lugares e ocasiões, mas o grande fluxo
cultural acontece na superficialidade dos meios de comunicação privados e na
cova rasa do entretenimento fácil e simplista. A cultura é frágil e a educação
tornou-se um simulacro cujos rótulos valem mais do que seus parcos conteúdos. Fala-se
um pouco, faz-se quase nada. As boas escolas são ilhas excepcionais em um
oceano de mediocridade e carências de todo tipo.
Os resultados finais são a baixa
produtividade dos nossos profissionais; a falta de mão-de-obra altamente
qualificada em vários setores, especialmente quando envolve processos mais
complexos ou alta tecnologia; uma alienação social no que se refere a deveres e
responsabilidades da cidadania; uma despolitização profunda; uma série de
relações que oscilam entre o cinismo, o rancor ou a indiferença, tudo o que não
deve existir em uma sociedade ou, no que seria ideal, em uma comunidade.
Para mudar essa realidade a
educação é importante e os professores, especialmente os de ensino fundamental
e médio, são indispensáveis. Qualquer país só se desenvolve plenamente quando
estrutura seu ensino público básico
e gratuito com elevada qualidade.
Esse é o nosso desafio, dos
professores e da sociedade civil em geral. Isso, se queremos um país melhor; se
pensamos, responsavelmente, nas novas gerações; se almejamos uma velhice com
melhor qualidade de vida e respeito por parte dessa sociedade.
Então, um ótimo dia dos
professores para meus colegas, alunos e para todos que se importam com uma das
vertentes essenciais da humanidade que é a educação.
Enfim, adoro minha profissão e
vocação. Considero-me razoavelmente
realizado na minha carreira acadêmica. Tenho orgulho das minhas escolhas e dos
meus trabalhos. Acredito que fazemos a diferença e que podemos contribuir de
alguma forma para sociedade. O conhecimento será, cada vez mais, a principal
fonte das benesses, riquezas e poderes das sociedades atuais.
Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Um comentário:
Grande Mestre Prof.Dr. Luiz Trigo.
Concordo em gênero e número, com o seu verdadeiro, atual e inteligente texto. Sempre uma luz no momento certo.
Beijos, carinhoso e fraterno abraço Lima Trigo. limatrigo@gmail.com confrariareinetuno.blogspot.com
Postar um comentário