Hoje, início do inverno, faz 40 anos que o Brasil conquistou o tricampeonato mundial de futebol. Eu vivi a experiência. Tinha 11 anos de idade e vivia em um país que tentava se descobrir ao mundo, imerso na tragédia da ditadura militar que geraria uma série de crises econômicas nas próximas duas décadas. Mas, em 1970, éramos felizes e não sabíamos ser uma sensação falsa e efêmera.
... teve o Rei Pelé na capa e uma reportagem ficção sobre a conquista do terceiro campeonato consecutivo de futebol naquele ano. Mas, foi só em 1970, com um time dos sonhos, que o desejo tornou-se realidade. O país parou. As ruas encheram-se de pessoas gritando, portanto flâmulas e bandeiras verde-amarelas e eu, um garoto de classe média sem nenhum arroubo nacionalista, via o povo delirar sobre um país do futuro que nunca passou de um tosco cenário de sua época. Só duas décadas depois o gigante adormecido mostraria seus músculos ao mundo, no contexto dos regimes civis e democráticos e de uma dinâmica dupla que envolveu regionalização e globalização em doses razoáveis. Hoje o Brasil do Penta nada tem a ver com o país que vivi nos anos 1970. Ainda bem.
Como eu era com 11 anos, em 1970? Está aí, acima. Pequeno, magro, cabelinho vasto e olhar pré-adolescente de garoto a caminho do existencialismo pós-1968 na vasta periferia do mundo civilizado.
Aí estou ao lado de minha avó materna (Elisa), meu tio Jose Godoy e sua esposa Zulma (extrema esquerda). Portava minha nova câmera Kodak Rio 400 e olhava sério para as lentes de alguém da família. Foi num domingo, em Campinas, no almoço no Palácio do Chopp, um restaurante que já não existe e servia um lombo de porco delicioso. Assim foi o ano de 1970, o ano em que vivemos uma doce ilusão política e um forte sentimento de vitória esportiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário