terça-feira, 27 de abril de 2010

Crime, baixada santista e os Estados Unidos


Essa notícia é da Folha OnLine de 27/04/2010: O órgão do governo dos EUA responsável pela segurança de seus cidadãos no exterior recomendou, em comunicado, que os norte-americanos "evitem viajar" para quatro das maiores cidades do litoral paulista --Santos, Guarujá, São Vicente e Praia Grande-- até que a onda de violência da última semana esteja encerrada.A última vez em que o órgão fez um alerta semelhante sobre cidades paulistas foi em 2006, após a segunda onda de ataques do PCC, quando recomendou aos americanos evitar "viagens desnecessárias" para o Estado.O novo comunicado se baseia em informações da polícia e em notícias de jornais sobre a série de mortes ocorridas na semana passada. Seis pessoas foram assassinadas em três dias no Guarujá --para efeito de comparação, a cidade teve 53 vítimas de homicídio em 2009, ou menos de cinco por mês. Com medo da violência, comerciantes baixaram as portas. Aulas em escolas e em uma universidade foram suspensas.

É normal? Sim. O Brasil precisa aprender cada vez mais que visibilidade internacional possui prós e contras. Não adianta as autoridades locais falarem que "isso prejudica a imagem da região e está tudo normal". Não está, tanto que os comerciantes, as escolas e uma universidade fecharam suas portas. E seis assassinatos (no Guarujá) em três dias tampouco é normal, a não ser em zonas de guerra. Mas isso tem uma história antiga e um contexto perverso.

Essa capa é do jornal argentino Clarín, de 8 de fevereiro de 2001. Reparem que é "outro" turista assassinado e esse estava com sua família, dentro do seu apartamento de hotel em Foz do Iguaçu, não estava no bordel e nem na favela comprando drogas. Tem que dar capa de jornal.

Essa página do Time (12/03/1990) foi uma das primeiras reportagens sobre "uma onda crescente de bandidagem traz medo à atmosfera festiva do Rio". Foi um escândalo no Brasil. Nada se fez e a situação piorou ao longo dos anos.

Em 1 de novembro de 1994, o jornal Chicago Tribune publicava essa matéria de página inteira. Foi quando o Itamar Franco colocou o exército nas ruas do Rio para controlar a bandidagem.


Há uma prática ineficaz e hipócrita na América Latina que pode até aceitar uma coisa errada mas não admite que outras pessoas falem sobre ela, nem que isso afete a "gente de fora". Lembro de quando, em janeiro deste ano, critiquei os péssimos serviços do porto de Santos ao ficar três horas para embarcar num navio. Eu fui criticado por comprometer a imagem da cidade. Quem compromete a imagem de cada cidade são os responsáveis por ela, em geral. Estamos a quatro anos da Copa do mundo de 2014 e no contexto de um mundo onde os serviços possuem uma exigência de qualidade e segurança cada vez maior. Nossos dirigentes ainda possuem uma imaturidade em aceitar as críticas, levam ao nível pessoal, ficam ressentidos, acham que os outros querem prejudicá-los e que não merecem tal exposição. Isso é o passado, o Brasil cresceu e precisa assumir sua realidade e ela implica e ter imaturidade para resolver problemas. Lembro quando havia assassinato de turistas em carros alugados na Flórida, em 1993, deu capa da Newsweek (veja abaixo), uma revista norte-americana. O que o estado da Flórida fez? Reclamou que falavam mal de sua terra? Não. Resolveu a questão. Mudou as placas dos carros alugados para não serem diferenciados entre turistas e residentes e o trade espalhou folhetos informando sobre as medidas de segurança (veja exemplo acima).

Eu estava na Flórida nessa época e lembro bem de como as locadoras de carros, as associações hoteleiras e as Câmaras de Comércio, juntamente com políticos e a polícia, administraram a situação. Tenho todas essas reportagens e folhetos guardados em minha hemeroteca, pois a memória é falha e a gente precisa fazer as análises com visão histórica e metodologia científica. Ficar bravo e ressentido com as críticas é a pior viagem para o turismo local.

O problema da Baixada Santista tampouco é só da região e nem é o mais grave. O governo do estado e o governo federal são co-responsáveis. E, no país, cada estado tem que resolver os problemas de suas áreas com altos índices de criminalidade (as maiores são o Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, mas áreas como Vitória, Porto Alegre, Salvador possuem problemas crescentes).

E não adianta falar que crime tem em todo lugar do mundo. Tem, mas com índices menores que os do Brasil. Vinte anos após uma das primeiras matérias internacionais sobre criminalidade ainda não dominamos a situação, apesar das melhoras pontuais e aperfeiçoamento de algumas polícias. É preciso melhorar mais. Só assim o Departamento de Estado dos EUA deixará de nos monitorar apontando perigos - que são reais e objetivos. O resto é, como diriam os gringos, bull shit.








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