Texto: Luiz Gonzaga Godoi Trigo, 2015
VI – A história da qualidade em serviços
A American Society for Quality (ASQ - www.asq.org)
responde de forma breve à pergunta Por
que qualidade em serviço? O setor de serviços se defronta com um desafio
especial: atender às necessidades do consumidor ao mesmo tempo em que mantém
sua competitividade econômica. Apesar de os processos de automação significarem
fortes impactos no resultado final, o setor de serviços ainda depende de
trabalho humano intensivo e pode não haver substitutos para a interação pessoal
de alta qualidade entre profissionais em serviços e seus clientes. As vantagens competitivas ficarão com as
organizações que obtiverem sucesso garantir a lealdade do cliente através da
mais eficiente utilização de tecnologias e pessoas.
Nas
nossas atuais sociedades pós-industriais, altamente competitivas, com
tecnologias cada vez mais sofisticadas e integradoras, a Qualidade é um
diferencial fundamental, uma exigência básica e pode ser uma poderosa barreira
de entrada se uma empresa ou instituição conseguir fazer algo que as outras não
conseguem. Mas há uma história do processo de reconhecer a qualidade como algo
importante para as pessoas em geral, independente de seu poder de compra,
etnia, classe social ou lugar geográfico. Mas nem sempre foi assim. É
importante compreender o eixo histórico de como a qualidade tornou-se um dever
e um direito, um processo, um modo de trabalho.
Para se chegar ao atual consenso
sobre a importância da qualidade, vários anos se passaram. A preocupação
sistemática com a qualidade surge ao longo da Revolução Industrial, devido à
necessidade de se implantarem procedimentos de segurança, controle e
padronização nas indústrias que, aos poucos, surgiam em vários lugares do
mundo. Portanto, apenas nos séculos 18 e 19 surgem os controles e gestão de
qualidade, sendo aperfeiçoados ao longo do século 20, no início quase que
exclusivamente no setor industrial. As exceções restringiam-se aos serviços
extremamente caros e personalizados de algumas empresas de transporte marítimo
(Cunard e White Star Line, por exemplo), alguns hotéis de luxo, lojas
exclusivas ou instituições financeiras que atendiam à burguesia mais rica e
poderosa dos países desenvolvidos.
Pode-se falar em
qualidade nos serviços da antiguidade?
O interesse e a metodologia
aplicada à qualidade no setor de serviços, como conhecemos hoje, é bastante
recente. Considerando que a sociedades
pós-industriais surgiram por volta da década de 1970 e que os primeiros trabalhos
a respeito de qualidade fora da indústria aparecem após a Segunda Guerra
Mundial, temos cerca de meio século de pesquisas na área e três décadas de
estudos intensivos com foco nos serviços e como são oferecidos aos seus
consumidores.
Em seu livro A history of managing for quality (Uma história da gestão para
qualidade), J. M. Juran analisa o que seria uma preocupação com qualidade nos
antigos períodos históricos em lugares como China, Israel, Índia e Roma. Em um
período mais contemporâneo, Juran foca a qualidade na Alemanha, França, Reino
Unido e Japão, especialmente relacionada à indústria em geral ou à indústria
bélica, no caso da França.
A ASQ realça o fato de que, entre
os séculos 13 e 19, os artesãos da Europa medieval eram organizados em
corporações (em inglês, guilds)
responsáveis pelo desenvolvimento de normas muito rígidas para a qualidade de
produtos e serviços prestados aos seus clientes. Os comitês responsáveis pelas
inspeções dos produtos reforçavam as normas através de marcas ou símbolos que
eram aplicados aos bens. Em geral os próprios artesãos aplicavam uma segunda
“marca” em seus produtos inicialmente para identificá-los. Com o tempo essas
duas marcas, do comitê e do artesão, passaram a significar a boa reputação do
fabricante. É o início dos produtos considerados “de marca” e, portanto,
símbolos de prestígio, bom gosto e condição social e financeira privilegiada.
Caso
- Grinling Gibbons (1648-1721)
Nascido
na Holanda, de pais ingleses e tendo estudado para tornar-se escultor, Gibbons
deixou a Holanda aos 19 anos e foi para a Inglaterra, onde se tornaria famoso
por seus entalhes em madeira – decorativos detalhistas e naturalistas. A partir
de 1677, Gibbons passou a trabalhar no castelo de Windsor e alguns de seus
melhores trabalhos estão na sala de jantar privativa: em volta de um quadro em
cima da lareira, a caça abatida, frutas e flores são dispostos em grinaldas
sobre pencas de laços. Ele também trabalhou na corte de Hampton e no palácio de
Kensington. No último, suas peças incluem as molduras barrocas douradas para os
dois espelhos ornamentais na Galeria da Rainha, entalhados de modo a
representar cortinas, trombetas e guirlandas de folhagens. Sua técnica
brilhante resultou em feitos realistas notáveis como o entalhe de um colarinho
de renda em Chatsworth, Derbyshire.
Fonte: MALLALIEU, Huon (org.) História ilustrada das antiguidades. São Paulo: Nobel, 1999. pág.
43.
Marcas famosas surgiram nos
variados setores de ornamentação, joalheria, artesanato e mobiliário. Os nomes
de artesãos e manufatureiros famosos viraram marcas conhecidas por toda a elite
mundial da época que procurava artefatos e objetos exclusivos, não importava o
preço. Atualmente essas peças são preciosos artigos para colecionadores de
antiguidades.
Na França, entre os séculos 16 e
19, um restrito número de 14 fabricantes de móveis entrou para a história como
referência de qualidade de suas épocas. Possuíam diferentes formações
profissionais e um grande apego à excelência de seus produtos. Eram arquitetos
como Jacques de Cerceau (1515-1585), Abraham Bosse (1605-1676) ou Charles
Lebrun ((1619-1690); escultores como Charles Cressent (1685-1768); ou o famoso
Bernard Vanrisamburgh (1696-1766), considerado o maior fabricante de móveis do
período Luís XV.
As
referências apontam como os principais designers
de móveis europeus, entre 1860 e 1920, apenas uma dezena de nomes muito
exclusivos:
Charles
Francis Annesley Voysey
Gustave
Serrurier-Bovy
Louis
Majorelle
Victor
Horta
Josef
Maria Olbrich
Hector
Guimard
Koloman
Moser
Charles
Rennie Mackintosh
Joseph
Hoffmann
August
Hendell
Fonte: MALLALIEU, Huon (org.) História ilustrada das antiguidades, p. 111.
Charles
Rennie Mackintosh
Exercício:
Acesse seu site de busca na internet e veja algumas das obras desses designers e observe como suas peças possuem
linhas que até hoje agradam os olhares e estilos. Se você fosse decorar uma
casa, um escritório ou outro espaço comercial, qual deles você utilizaria como
inspiração? Você consegue identificar influências de seu estilo nos móveis
vendidos nas grandes lojas?
Na antiguidade os diversos
produtos passavam por processos artesanais. As peças destinadas às classes
dominantes (nobreza, dirigentes, sacerdotes) eram confeccionadas com cuidados
extremos pelos mais competentes artesãos locais ou trazidos de outros lugares.
Pode-se dizer que nesse processo havia uma sistematização de qualidade, mas
apenas nas peças destinadas às elites da época. Não havia democratização ou
produção em massa.
Inúmeros artefatos foram
produzidos e alguns sobreviveram em museus, galerias de artes, antiquários ou
em coleções privadas (veja a seguir o site do Louvre Des Antiquaires):
Tapeçarias
Bordados
Trabalhos com retalhos (patchwork) e acolchoados
Chintz e outros algodões
estampados
Renda
Roupas
Xales de caxemira
Esculturas
Pinturas
Vidros
Cerâmica
Ourivesaria
http://www.louvre-antiquaires.com/
Essa produção pré-industrial
floresceu na Europa, na Ásia e no Oriente Médio e mescla os aspectos
utilitários com a expressão artística mais acabada e representativa de
determinada cultura ou civilização.
Algumas dessas artes
desenvolveram-se para objetivos aparentemente prosaicos como saber as horas,
escrever ou localizar-se no espaço. Os primórdios da revolução industrial viram
nascer relógios, canetas, bússolas e astrolábios cada vez mais precisos,
resistentes e bem desenhados. As navegações exigiam esses instrumentos para sua
segurança e controle. Os mosteiros precisavam dos relógios mecânicos, que
começaram a ser usados em 1350, para saber as horas das orações. Em meados do
século XVI várias cidades européias possuíam uma torre com um relógio público e
a partir desse modelo outros foram instalados nas prefeituras, igrejas e nos
estábulos das fazendas, sendo chamados de relógios de torreão.
Entre os séculos XVI e XVII havia
relojoeiros famosos como os ingleses Joseph Knibb, Daniel Quare e George Graham,
o francês Isaac Thruet ou o matemático suiço Jost Burgi (1552-1632), um dos
inventores do logaritmo, dividindo a glória da descoberta com o matemático
escocês John Napier. Eles produziram relógios de carrilhão, de pêndulo e de
mesa, globos mecânicos e relógios de bolso. Utilizaram as técnicas mescladas da
matemática e da mecânica para forjar maravilhas tecnológicas cada vez mais
precisas que até hoje encantam pela beleza estética, engenhosidade e, algumas
vezes, luxo.
Caso:
Abraham-Louis Breguet
Nascido
na Suíça, em 1717, Breguet viveu em Paris em torno de 1762. Abriu sua própria
loja em 1775, mas fugiu para a Suíça na Revolução Francesa (1793). Retornou em
1795, recebeu a insígnia de Chevalier de la Légion d´Honneur, e foi
eleito (1816) para a Academie Royale des Sciences. Breguet ficou conhecido
devido aos seus montres perpétuelles
(relógios automáticos), que se carregavam por meio de um peso pivotante. A
idéia não era originalmente sua, mas ele a aperfeiçoou, fabricando o peso que
reagia ao menos movimento do relógio. As conquistas técnicas e o estilo
elegante tornaram Breguet o pai do relógio de pulso moderno.
Seu
trabalho, de alta qualidade inovadora, foi recompensado (medalhas, títulos,
recompensa financeira) e, o mais importante, tornou-se referência de mercado e
um marco histórico de determinada categoria – relógios de pulso. São as maiores
glórias que um artista, artesão ou profissional pode ambicionar.
Essa época pré-industrial foi
marcada por um utilitarismo que já preconizava a moderna indústria. Além dos
relógios, surgiram outros instrumentos científicos de precisão e bastante
sofisticados provocando admiração e fascínio. Eram os instrumentos de navegação
como sextantes, ampulhetas, astrolábios e bússolas; globos terrestres;
barômetros, barógrafos e outros instrumentos meteorológicos; relógios de sol;
instrumentos ópticos como telescópios, microscópios e caleidoscópios;
instrumentos médicos; aparatos de medição, pesagem e mensuração.
Exercício:
Esses instrumentos marcam um momento importante da Revolução Industrial quando
a “perfeição” mecânica atinge os mais elevados parâmetros de funcionalidade,
estética, precisão e confiabilidade. Antes do surgimento da eletrônica e do
espaço virtual, a mecânica era a expressão mais compreensível sobre o mundo
real. Até hoje esses instrumentos de precisão, como os relógios, representam status e poder. Veja os sites de algumas
dessas pequenas e sofisticadas máquinas de mensurar o tempo:
www.breitling.com – Design arrojado. Sua
imagem está ligada à aeronáutica e à precisão exigida pelos pilotos.
www.omegawatches.com – Design sóbrio e elegante. É o relógio do
James Bond, o 007 e também dos astronautas. Imagem ligada à exclusividade e
luxo.
http://us.tagheuer.com/ – Design
sóbrio, porém mais esportivo. Imagem relacionada à esportividade. É o relógio
do piloto de F! Lewis Hamilton.
www.rolex.com – Design clássico. Imagem associada ao luxo e exclusividade.
www.girard-perregaux.com – Vários
tipos de design. Imagem ligada à
exclusividade. Seu slogan é Watches for the few since 1791 (Relógios
para poucos, desde 1791).
www.wempe-chronometerwerke.de
– Design clássico. Imagem de alta
precisão. O site está em alemão. Veja a
introdução e a lista dos produtos de precisão.
Repare
como esses sites possuem uma estética
e estrutura muito bem cuidada e em várias línguas. A mecânica de precisão
inserida no marketing virtual mais avançado.
Existiam também os chamados
instrumentos “filosóficos”. Eram giroscópios, círculos de inclinação magnética,
instrumentos de cálculo como o ábaco, os primeiros geradores elétricos,
instrumentos pneumáticos (bombas a vácuo) ou químicos (retortas, alambiques,
pilões e almofarizes, buretas e pipetas). Esses artefatos feitos em metal
brilhante, vidro ou madeira tinham formas e estilos inéditos devido às suas
finalidades também inéditas. Apesar de serem feitos para uma utilidade
específica, esse utilitarismo não relegou a estética, o capricho e o design a um segundo plano. Esses objetos
serviam a uma finalidade objetiva, mas também podiam ornamentar uma mesa, uma
estante ou um ambiente. Hoje são preciosas antiguidades e muitas dessas
ferramentas impressionam por seu porte aristocrático e harmonia das formas.
Exercício
– O mercado internacional de artes e antiguidades oferece opções dos mais
diversos produtos e preços para o colecionador ou amante da beleza artesanal ou
dos primórdios da indústria. Algumas dessas lojas e agentes mais exclusivos
sequer aparecem na internet. É o caso da Sra. Corinne Duplouy, responsável pela
Monte-Carlo Art Collections S.A.M. no Principado de Mônaco. Ela atende na
galeria Sporting D´Iver, na Praça do Cassino. Seu nome ou a sua empresa não
constam na internet (pode procurar no google
que você não vai encontrar) porque seus produtos são exclusivos e custam a
partir de algumas centenas de milhares de euros. É esse tipo de produto ou
serviço que alguns autores denominam de “alto luxo” ou “luxo exclusivo”. Há
também o “luxo de massa” como os carros BMW e Mercedes Benz, os hotéis
Ritz-Carlton ou Four Seasons ou jóias e relógios vendidos em shopping centers e em free-shops de aeroportos e portos. Isso
não quer dizer que sejam baratos, mas são produzidos ou distribuídos em uma
escala muito maior.
Para conhecer
alguns desses produtos
Visite
o site www.tresserra.com. É uma empresa
espanhola (Barcelona) com filial em Paris que produz alguns dos belos móveis do
mundo.
Gosta
de maravilhas artísticas? Visite o site www.louvre-antiquaires.com. Veja
como há milhares de temas e tipos de produtos oferecidos em dezenas de lojas
nesse shopping altamente sofisticado e especializado localizado em Paris.
Quando
você for ao exterior aproveite para ver essas maravilhas de perto, afinal a
região que compreende Sanit Tropez, Cannes, Nice e Monte Carlo é uma das mais
sofisticadas do planeta e com um dos maiores índices de qualidade. Sem contar
Paris, Milão, Barcelona, Zurique...
O mundo passou pelas revoluções
burguesas na Inglaterra e na França. A metafísica e a lógica tornavam-se a
matemática e a física modernas. A alquimia originou a química e as misteriosas
ciências da vida cederam lugar às pesquisas biológicas. A astrologia transformou-se
em astronomia. As
corporações cheias de segredos dos construtores, marceneiros, serralheiros e
joalheiros foram substituídas pelas escolas politécnicas de engenharia,
mecânica ou de arquitetura. O capitalismo comercial venceu as batalhas contra a
nobreza feudal e as terras conquistadas nas Américas, na Ásia e na África
garantiram matérias primas, mercados consumidores e terras férteis para
potencializar a riqueza européia. Havia um conjunto de conhecimento, recursos
naturais e capital disponível para detonar a Revolução Industrial e ela
aconteceu.
A indústria e os parâmetros de qualidade
No início do século 19, a indústria manufatureira
nos Estados Unidos acompanhava o antigo modelo europeu de aprendizagem baseada
nos mestres. Isso fazia com que jovens aprendizes passassem anos com seus
mestres aprendendo um ofício ou função. Como muitos manufatureiros vendiam seus
bens no próprio local de sua produção e de sua moradia, eles zelavam pelos
padrões de qualidade exigidos pelos seus clientes. Esse foi o início da
qualidade na indústria moderna, mas ainda era um processo individual, subjetivo
e dependia das características culturais e técnicas das diversas regiões.
No
século 19 ainda não existia um padrão reconhecido nacional ou
internacionalmente para a qualidade. O que havia eram alguns produtos
excepcionalmente bem produzidos que se tornavam referências ou objetos de
desejo das classes dominantes.
O sistema fabril desenvolvido na
Inglaterra, entre os séculos 18 e 19, espalhou-se pela Europa e depois por todo
o mundo, devidamente turbinado pelo método gerencial e pelas tecnologias
desenvolvidas pelos Estados Unidos na primeira metade do século 20 e que lhe
garantiram supremacia na Segunda Guerra mundial.
Nesse sistema europeu os diversos
setores manufatureiros foram sendo transformados em áreas altamente especializadas.
Isso significou a necessidade de se reunirem os empregados em galpões fabris,
cada um com suas tarefas e máquinas específicas, vigiados por gerentes,
coordenadores ou supervisores que acompanhavam cada passo da produção e
garantiam pontualidade, eficiência, disciplina e segurança. Os empregados
tiveram cada vez menos autonomia e poder de decisão no local de trabalho. O
antigo artesão ou manufatureiro virou proletário urbano. As cidades cresceram,
os campos se esvaziaram, a poluição ambiental tornou-se desastrosa e as
condições de exploração e insalubridade no trabalho pioraram sistematicamente.
É evidente que com esse tipo de tratamento dado aos funcionários, o grau de
qualidade dos produtos era razoavelmente questionável apesar das constantes inspeções
e auditorias. Cada empregado especializava-se em uma função, era supervisionado
e acompanhado por superiores, mas esse sistema estava longe da perfeição
organizacional e administrativa.
Foi quando a ciência voltou-se
para aperfeiçoar as crescentes burocracias, os sistemas de transporte
ferroviário, telefonia e energia elétrica, além dos processos industriais.
Surgiam os procedimentos baseados em metodologia científica para garantir eficácia e eficiência, ou seja, qualidade ao longo do processo industrial.
Algumas
pessoas confundem esses dois termos. Eles se complementam, mas são sutilmente
diferentes:
EFICÁCIA – Virtude ou poder de (uma
causa) produzir determinado efeito; qualidade ou caráter do que é eficaz; real
produção de efeitos.
EFICAZ
– Que tem a virtude ou o poder de produzir, em condições normais e sem carecer
de outro auxílio, determinado efeito, efetivo; seguro, válido, ativo,
infalível, santo.
EFICIÊNCIA – Poder, capacidade de uma
causa produzir um efeito real; qualidade ou estado de ser efetivo, efetividade.
EFICIENTE
– Que se caracteriza pelo poder de produzir um efeito real.
Fonte: Dicionário
Houaiss da língua portuguesa
A eficácia é o ato concretizado;
a eficiência é a potência do ato, ou seja, a capacidade de produzir um efeito.
A pessoa eficaz é aquela que cumpre um projeto respeitando orçamento,
cronograma e especificações, objetivando a excelência no cumprimento de seus
objetivos. A pessoa eficiente é aquela que tem o poder de realizar um projeto e
portanto possui credibilidade, experiência, conhecimento adquirido e
confiabilidade.
O ato (eficácia) e a potência (eficiência). Ambos se completam. De
nada adianta ser eficaz em um projeto ou em um período e não manter um elevado
padrão de qualidade e confiabilidade.
O progresso científico do século
19 voltou-se para pesquisas onde os objetivos eram garantir a eficácia e a
eficiência da produção industrial de uma maneira que pudessem ser reproduzidos
em várias fábricas e instituições em todos os lugares. Buscava-se um sistema,
um método para não apenas garantir um patamar mínimo de qualidade, mas para que
esse patamar pudesse ser constantemente aperfeiçoado e ampliado.
O tratamento científico da qualidade industrial I –
Os princípios de Taylor
Os princípios de Taylor
No final do século 19, os Estados
Unidos romperam com a tradição industrial européia e passaram a adotar um
gerenciamento científico da qualidade nas suas indústrias e escritórios.
Um dos principais inovadores
nesse campo foi Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Foi mecânico, operário e
graduou-se em engenharia mecânica em um curso noturno. É considerado o pai da
administração científica e ficou famoso através de seu livro intitulado Princípios da Administração Científica,
publicado em 1911 e aplicado em indústrias nascentes como a Ford, em parceria
com Henry Ford. Os termos taylorismo
e fordismo provém justamente dessa
parceria que revolucionou os primórdios da indústria e lançou os Estados unidos
na vanguarda do processo industrial de qualidade na primeira metade do século
20.
Taylor é uma figura controversa.
Seu método tornou possível incrementar imensamente a produtividade sem aumentar
o número de empregados qualificados. Ele analisou o “chão da fábrica” e
organizou as tarefas dos operários em etapas que se sucediam logicamente ao
longo do processo de fabricação de um produto. Cada operário especializava-se
em uma determinada tarefa e ficava em um posto de trabalho pré-estabecido, as
peças lhe chegavam às mãos e ele apenas as inseria no lugar pré-determinado.
Peças e procedimentos, ajustes e atividades complementares foram organizadas em
um roteiro dentro da fábrica que possibilitaria o máximo de eficiência,
racionalidade, economia, qualidade e segurança. Nascia assim a linha de
montagem industrial. Por outro lado, essa obsessão pela precisão e organização,
essa racionalidade cartesiana, lhe garantiram a acusação de destruir a “alma”
do trabalho, de transformar operários em robôs, de desumanizar as fábricas.
Algumas das críticas mais contundentes ao taylorismo
e ao sistema industrial capitalista foram os filmes Tempos modernos (1936), de Charles Chaplin e Metrópolis (1927), do diretor Fritz Lang.
O método de Taylor foi aplicado
também nos processos burocráticos de escritórios particulares e governamentais,
nos sistemas de controle de ferrovias, correios, telefonia e distribuição de
energia, na época amplamente manuais, pois não havia a automação
computadorizada que apenas foi disseminada no final do século 20.
O método de Taylor previa:
padronização de equipamentos e pessoal;
divisão de funções entre
dirigentes (engenheiros e gestores), intermediários (supervisores e fiscais) e operários;
objetivos claros;
e rígida disciplina.
Seus quatro princípios de administração eram:
O
desenvolvimento de uma ciência própria
A
seleção científica dos funcionários
A
educação científica e desenvolvimento do trabalhador
Cooperação
íntima e amigável entre gestores e operários
Taylor criou departamentos
estanques dirigidos por engenheiros e lhes deu a responsabilidade de:
Desenvolver
métodos científicos para o trabalho
Estabelecer
metas de produtividade
Estabelecer
sistemas de recompensa para os que atingirem as metas
Treinar
o pessoal em como usar esses métodos e atingir as metas ou objetivos.
Nem sempre essa racionalidade e
disciplina absolutas funcionaram bem para garantir elevados padrões de
qualidade. As antigas fábricas tornaram-se lugares sombrios, monótonos,
exaustivos e impessoais. Os engenheiros e administradores sentiam-se superiores
e infalíveis, arrogantes e à parte do trabalho manual exercido por operários
oprimidos apesar de razoavelmente remunerados e inseridos em uma lógica
industrial capitalista que os via como “heróis” do vigor econômico do início do
século 20.
Análise:
“A data inicial simbólica do fordismo é 1914,
quando Henry Ford introduziu seu dia de oito dólares e cinco dólares como
recompensa para os trabalhadores da linha automática de montagem de carros que
ele estabelecera no ano anterior em Dearbon, Michigan. As inovações tecnológicas
e operacionais de Ford eram mera extensão de tendências bem-estabelecidas. A
forma corporativa de organização de negócios, por exemplo, tinha sido
aperfeiçoada pelas estradas de ferro ao longo do século 19. Os “Princípios de
administração Científica”, de F. W. Taylor – um influente tratado que descrevia
como a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentada através da
decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da
organização de tarefas fragmentadas segundo padrões rigorosos do tempo e estudo
do movimento – tinham sido publicados em 1911. E o pensamento de Taylor tinha
uma longa ancestralidade, remontando, através de experimentos de Gilbreth, na
década de 1890, às obras de escritores da metade do século 19, como Ure e Babbage.
A separação entre gerência, concepção, controle e execução também já estava
avançada em muitas indústrias. O que havia de especial em Ford (e que distingue
o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que
produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução
da força de trabalho.”
Note
que o gerenciamento científico da produção industrial, e do aumento consistente
de sua qualidade, exige conhecimentos de engenharia, administração, direito,
economia, sociologia e política. No início do processo industrial no século 20,
essas concepções ainda eram relativa novidade mesmo nos países mais
desenvolvidos. Os Estados Unidos foram pioneiros nas pesquisas sobre
racionalização e aprimoramento do trabalho industrial, ao lado dos ingleses e
alemães.
Harvey,
David. A condição pós-moderna. São
Paulo: Loyola, 1993. pág. 121.
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