Que bom seria se o dia
da mentira fosse apenas um, ao longo do ano.
Que bom, se as mentiras
nos fossem contadas apenas pelas outras pessoas.
Que delícia, se
pudéssemos discernir imediatamente entre verdades e mentiras.
Como seria ideal se
soubéssemos a verdade sobre nós mesmos e não nos escondêssemos sob os véus de
mentira e da dissimulação. Escondemos coisas e memórias de nós mesmos. Mentimos
para satisfazer nossos delírios, aplacar nossas frustrações e enfeitar nossa covardia
perante o mundo.
Mentimos
sistematicamente, especialmente para nós. Milênios de espiritualidade ou
filosofia, décadas de psicanálise,
séculos de literatura, tudo isso revela como evitamos olhar o fundo do nosso
ser, no espelho atormentado de nossa alma. Como distorcemos os fatos,
interpretamos as coisas conforme queremos e organizamos a memória de acordo com
nossos valores maculados.
Desde o templo de
Apolo, em Delfos, os sacerdotes escreviam no frontispício: “Conhece-te a ti mesmo, pois quem conhece a
si próprio desvenda os segredos do universo.” Mas evitamos olhar para
nossos receios. Mascaramos nossos comportamentos negativos, nossas emoções
vergonhosas, nossa sombra existencial, sob as raivas, invejas, mesquinharias,
falsidades, cobiças, ressentimentos, lascívias, tendências homicidas ou
suicidas.
Nossa verdade está na
coragem de confrontarmos nossa sombra. O psicanalista Nelson Prado Roque,
escreveu em um antigo texto: “O
reconhecimento de nossa Sombra pode acarretar efeitos marcantes sobre a
personalidade consciente. A própria noção de que o mal que vemos na outra
pessoa talvez esteja em nós mesmos, pode provocar choques de intensidades
variadas. É preciso coragem e ânimo para não tentar fugir ou ser esmagado pela
visão da própria Sombra; é preciso muita honestidade interior para assumir a
responsabilidade pelo próprio eu inferior. A Sombra, quando adequadamente
percebida, é uma fonte de renovação criativa, é a porta para nossa
individualidade. Nenhum progresso ou crescimento são possíveis até que a nossa
Sombra seja realmente conhecida. Só depois de termos ficado realmente chocados
ao ver como somos de verdade (em vez de ficarmos no autoengano contemplando
nossa imagem grandiosa e falsa na superfície espelhante do lago narcísico), é
que podermos caminhar rumo à realidade individual.”
E você, quanto de
verdade pode suportar ao olhar, sinceramente, para sua vida, seus sonhos, seus desejos ... e suas limitações? Tem
coragem de assumir seus sonhos? De fazer
suas escolhas? De pensar profundamente sobre s mesmo para melhor escolher e
assumir sua vida?
O que temos a ganhar
com nossa verdade? Apenas a liberdade, a paz interior e a satisfação de
vivermos de acordo com nossas verdades.
Felizes dias da
mentira. Ou dias de verdade. Depende de cada um.
Luiz
Gonzaga Godoi Trigo
Um comentário:
Isso mesmo! mentiras e verdades de cada um. Adoro ler e ouvir esse filósofo, que é tambem turismólogo.
Piores são as mentiras que contamos a nós mesmo. A verdade exige coragem!
Bela reflexão grande T R I G O !
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