Acabei de ler Ensinar na Universidade – conselhos
práticos, dicas, métodos pedagógicos. O livro, do francês Markus Brauer, foi recém lançado pela
editora Parábola (São Paulo, 2012), em tradução correta e detalhista de Marcos Marcionilo.
O texto é fluído e elucidativo,
ótimo de se ler. O autor é psicólogo, com doutorado nos Estados Unidos e
trabalha na França com pesquisas educacionais. Possui vivências em sala de
aula, valoriza a relação aluno-professor, exalta e explica objetivamente as
boas técnicas didáticas e a necessidade da pesquisa. Seu texto está embasado em
uma vastíssima bibliografia (284 referências bibliográficas), além de trazer um
útil anexo, com um método que ensina a ler manuais e livros técnicos de modo a
aproveitar ao máximo sua compreensão e estudo. Há ainda a indicação de vários sites da internet capazes de auxiliar no
trabalho didático dos docentes.
O livro é dividido em 11
capítulos que se iniciam a partir de uma plataforma básica sobre o que é “ser
um bom professor”. O autor se estende didaticamente sobre o trabalho pessoal
dos estudantes, a importância de se fazer uma ementa de curso fundamentada e
informativa, como dar aulas expositivas e orientar estudos dirigidos, como
organizar e corrigir as provas, melhorar o desempenho educacional do mestre e
administrar o tempo. Para mim a cereja do bolo é a parte que trata do
relacionamento com os estudantes, a fonte e foco do nosso trabalho acadêmico de
ensino, pesquisa e extensão.
Algumas de suas colocações são
diretas e fundamentais para se entender devidamente a responsabilidade e
significado de dar aulas:
“O que determina a eficácia de um ensino são os métodos pedagógicos
utilizados.” (Pág. 18).
“A ‘relação’ entre professor e estudantes é fundamental. Lembre-se de
seus professores em seu tempo de escola.” (pág. 19).
“Fazer um curso sem leitura obrigatória não faz parte dos métodos
eficazes para reduzir a conversa fiada.” (pág. 45).
“A aula (meramente) expositiva é a forma pedagógica menos eficaz.”
(pág. 99).
Há uma parte específica sobre a
diferença e eficácia entre questões dissertativas e questões de múltipla
escolha. (pág. 172).
“Um derradeiro conselho é tomar consciência dos desvios de que somos
vítimas quando avaliamos o desempenho de nossos estudantes.” (pág. 184).
“É surpreendente que alguns professores pensem que os aspectos
relacionais não têm importância. Muitos gestores ficariam chocados com essa
atitude. Liderar pessoas, estimular colaboradores a serem performativos é quase
unicamente relacional, dizem eles. Enquanto professores, nossos objetivos não
são lá muito diferentes de um gestor, que tenta levar seus colaboradores a
adotarem determinados comportamentos. Nosso objetivo é levar nossos alunos a
adotarem comportamentos que maximizem sua aprendizagem: prestar atenção às
aulas, fazer a leitura obrigatória, fazer os exercícios, estudar regularmente
durante todo o semestre etc.”. (pág. 213).
Esses são alguns tópicos pinçados
das 280 páginas do livro. A pequena amostra permite vislumbrar a clareza e
objetividade com que o autor encara o sentido e o significado do ensino. É importante que os educadores mantenham um
aperfeiçoamento constante e uma reflexão aberta sobre seu trabalho, seja na
universidade ou no ensino médio e fundamental. Paradoxalmente, muitas vezes são
os professores universitários que, amparados na pretensa maturidade e
experiência de seus alunos - e preocupados com suas pesquisas -, que mais
relaxam a necessidade de incrementar seus métodos. Os professores de crianças e
adolescentes passam por mais formação didático-pedagógica que muitos de seus
colegas de ensino superior. Algumas vezes há até uma franca hostilidade ou
preconceito contra a pedagogia como instrumento valioso para melhorar
sistematicamente não apenas as aulas, mas a relação entre docentes e discentes.
Em geral esses preconceitos surgem de inseguranças ou de falhas na formação de novos
professores que chegaram às salas da universidade sem o devido preparo e
atenção por parte dos seus gestores ou coordenadores. Afinal, não é evidente ou
natural que um ótimo profissional ou pesquisador seja, sem nenhum preparo ou
acompanhamento específico, igualmente um bom professor.
Dar uma boa aula se aprende nas
escolas. Manter o pique como bom educador depende de formação constante e de
reflexão crítica sobre seus métodos, inclusive de avaliação, motivação e
relação com os alunos e seus próprios colegas.
Em todos esses campos o livro de
Markus Brauer pode auxiliar nosso trabalho nas universidades. Ele traz propostas
e dicas de maneira honesta, aberta e flexível. Não é dogmático ou mecanicista.
Preocupa-se com as ponderações contrárias, devido ao aspecto polêmico de algumas questões mais
complexas. É um texto recomendado para os que já são bons professores e para
aqueles que sabem ser possível melhorar a cada ano e a cada turma lecionada.
Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Professor titular da EACH-USP
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