quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ensinar na Universidade - uma leitura instigante



Acabei de ler Ensinar na Universidade – conselhos práticos, dicas, métodos pedagógicos. O livro, do francês Markus Brauer, foi recém lançado pela editora Parábola (São Paulo, 2012), em tradução correta e detalhista de Marcos Marcionilo


O texto é fluído e elucidativo, ótimo de se ler. O autor é psicólogo, com doutorado nos Estados Unidos e trabalha na França com pesquisas educacionais. Possui vivências em sala de aula, valoriza a relação aluno-professor, exalta e explica objetivamente as boas técnicas didáticas e a necessidade da pesquisa. Seu texto está embasado em uma vastíssima bibliografia (284 referências bibliográficas), além de trazer um útil anexo, com um método que ensina a ler manuais e livros técnicos de modo a aproveitar ao máximo sua compreensão e estudo. Há ainda a indicação de vários sites da internet capazes de auxiliar no trabalho didático dos docentes.

O livro é dividido em 11 capítulos que se iniciam a partir de uma plataforma básica sobre o que é “ser um bom professor”. O autor se estende didaticamente sobre o trabalho pessoal dos estudantes, a importância de se fazer uma ementa de curso fundamentada e informativa, como dar aulas expositivas e orientar estudos dirigidos, como organizar e corrigir as provas, melhorar o desempenho educacional do mestre e administrar o tempo. Para mim a cereja do bolo é a parte que trata do relacionamento com os estudantes, a fonte e foco do nosso trabalho acadêmico de ensino, pesquisa e extensão.


Algumas de suas colocações são diretas e fundamentais para se entender devidamente a responsabilidade e significado de dar aulas:

O que determina a eficácia de um ensino são os métodos pedagógicos utilizados.” (Pág. 18).

A ‘relação’ entre professor e estudantes é fundamental. Lembre-se de seus professores em seu tempo de escola.” (pág. 19).

Fazer um curso sem leitura obrigatória não faz parte dos métodos eficazes para reduzir a conversa fiada.” (pág. 45).

A aula (meramente) expositiva é a forma pedagógica menos eficaz.” (pág. 99).

Há uma parte específica sobre a diferença e eficácia entre questões dissertativas e questões de múltipla escolha. (pág. 172).

Um derradeiro conselho é tomar consciência dos desvios de que somos vítimas quando avaliamos o desempenho de nossos estudantes.” (pág. 184).

É surpreendente que alguns professores pensem que os aspectos relacionais não têm importância. Muitos gestores ficariam chocados com essa atitude. Liderar pessoas, estimular colaboradores a serem performativos é quase unicamente relacional, dizem eles. Enquanto professores, nossos objetivos não são lá muito diferentes de um gestor, que tenta levar seus colaboradores a adotarem determinados comportamentos. Nosso objetivo é levar nossos alunos a adotarem comportamentos que maximizem sua aprendizagem: prestar atenção às aulas, fazer a leitura obrigatória, fazer os exercícios, estudar regularmente durante todo o semestre etc.”. (pág. 213).


Esses são alguns tópicos pinçados das 280 páginas do livro. A pequena amostra permite vislumbrar a clareza e objetividade com que o autor encara o sentido e o significado do ensino.  É importante que os educadores mantenham um aperfeiçoamento constante e uma reflexão aberta sobre seu trabalho, seja na universidade ou no ensino médio e fundamental. Paradoxalmente, muitas vezes são os professores universitários que, amparados na pretensa maturidade e experiência de seus alunos - e preocupados com suas pesquisas -, que mais relaxam a necessidade de incrementar seus métodos. Os professores de crianças e adolescentes passam por mais formação didático-pedagógica que muitos de seus colegas de ensino superior. Algumas vezes há até uma franca hostilidade ou preconceito contra a pedagogia como instrumento valioso para melhorar sistematicamente não apenas as aulas, mas a relação entre docentes e discentes. Em geral esses preconceitos surgem de inseguranças ou de falhas na formação de novos professores que chegaram às salas da universidade sem o devido preparo e atenção por parte dos seus gestores ou coordenadores. Afinal, não é evidente ou natural que um ótimo profissional ou pesquisador seja, sem nenhum preparo ou acompanhamento específico, igualmente um bom professor.


Dar uma boa aula se aprende nas escolas. Manter o pique como bom educador depende de formação constante e de reflexão crítica sobre seus métodos, inclusive de avaliação, motivação e relação com os alunos e seus próprios colegas.

Em todos esses campos o livro de Markus Brauer pode auxiliar nosso trabalho nas universidades. Ele traz propostas e dicas de maneira honesta, aberta e flexível. Não é dogmático ou mecanicista. Preocupa-se com as ponderações contrárias, devido ao  aspecto polêmico de algumas questões mais complexas. É um texto recomendado para os que já são bons professores e para aqueles que sabem ser possível melhorar a cada ano e a cada turma lecionada.

Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Professor titular da EACH-USP


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