sábado, 7 de julho de 2012

Livre docência na EACH-USP - uma história

Ontem o amigo Alexandre Panosso tornou-se o terceiro turismólogo a conquistar o título de livre docente no país. O concurso demorou dois dias (quinta e sexta-feira) e foi realizado na EACH-USP.


Essa foi a sala da defesa, ao lado da biblioteca. É um tipo de octógono acadêmico onde, às vezes, MMA parece joguinho de berçario. Como muita gente não sabe exatamente o que é a livre docência, vale uma rápida consideração a respeito. É o mais alto título acadêmico (mestre, doutor, livre docente), ou seja, o ápice formal de uma carreira, no que se refere aos títulos. O "titular", apesar do nome, não se refere a um títutlo e sim a um cargo e geralmente é disputado em turma (tipo, quatro candidatos(as) para uma vaga) e envolve uma nomeação com direito a um cargo. Já os títulos são um concurso em que o candidato(a) postula um título, joga só, mas não tem direito a cargo algum, a não ser que já seja concursado. No caso do Panosso, ele já é professor doutor concursado, sob o código de MS-3. Como ele já é da casa, depois que o concurso for homologado pela Congregação da EACH e ser publicado no Diário Oficial (lá por agosto ou setembro), ele passará a MS-5, o código dos livre docentes. O titular atende pelo código burocrático de MS-6 e só livre-docentes podem se candidatar ao cargo de titular (salvo raríssimas e quase nulas exceções). Esse concurso é muito comum nas universidades estaduais paulistas, mais na USP e Unicamp do que na Unesp. As universidades públicas federais possuem uma carreira similar mas a pessoa pode chegar a titular por tempo de serviço, articulações acadêmicas etc., mas não precisa, necessariamente, ser livre docente. Talvez isso mude em breve.


Muito bem, a livre docência é o concurso mais difícil da USP. É um  a cinco, o candidato(a) perante a banca, composta por livre docentes e titulares. Já participei de uma banca com um professor emérito, o venerável Ulpiano Bezerra de Menezes.


Na EACH, são dois dias de concurso (em alguns lugares pode ser três). Em geral começa com uma aula de erudição (uma hora) que precisa ser um arraso no conteúdo e nas considerações críticas. Depois vem a arguição do memorial, quando a banca toda pergunta sobre a vida, projetos, experiência e o que lhe der na telha sobre a vida do(a) postulante.No dia seguinte tem uma prova escrita com cinco horas de duração, onde um ponto (entre dez pontos previamente publicados) é sorteado e lá fica a pessoa escrevendo, escrevendo, escrevendo. A prova do Panosso teve 21 páginas. Escrita manualmente, imagine minha letra egípcia de trocentos garranchos... E finalmente tem a defesa da tese, que dura de três a cinco horas. Se fosse MMA, seria preciso uma UTI ao lado de cada ringue.


O Daniel e a Jerusa são membros da Equipe de Apoio da EACH, coordenada pela Bete, que garante a segurança, eficiência, presteza, correção jurídica e atenção à complexa logística que envolve esses concursos. Tudo é regulamentado por normas oficiais e cada etapa precisa seguir, religiosa e dogmaticamente, os desígnios da burocracia. Enfim, eles garantem que nós, professores(as), possamos focar nas provas e cumprir os procedimentos.


No final do segundo dia, ao cair da noite, as provas terminam, todo mundo se retira da sala e a banca fica deliberando as notas individuais de cada uma das quatro etapas e se houve - ou não - aprovação. Nem todos são aprovados. Então, fica o povo e o postulante em uma espera, como se fosse uma sentença de "condenado" ou "absolvido"; "viva" ou "pereça despedaçado pelas feras do circo máximo". É ali, naquela espera pública, que a gente sente o fio existencial se distender esmagando as diferenças entre alma, memória e angústia.


Depois todos entram e a banca, em pé, através da presidência, declara seu veredito perante a platéia (quando há platéia) estarrecida e congelada. Nessa altura o candidato já mergulhou em um torpor similar aos dos condenados à espera do golpe fatal que lhes transfigurará a vida.Aí estão, a partir da esquerda: Edson Leite (EACH, titular), o presidente da banca; Ricardo Uvinha (EACH, livre docente), Waldenir Caldas (ECA, titular), Mauro Wilton (ECA, titular) e Gilberto Martins (FEA, titular).


Declarada a aprovação, veio a festa. Os primeiros a chegar foram Glauber e Gabriela, e Renato Seixas e Mônica.


Os três turismólogos livre docentes do país: Mirian Rejowski foi a primeira (ECA, 1997), eu fui o segundo (ECA, 2003) e agora o Panosso (EACH, 2012). Uma foto que traz boas e fortes lembranças a cada um de nós.


Um violão com música popular brasilera, tocado por Kal Pinheiro, alegrou a reunião festiva para comemorar o novo titulo.


 O mestre compareceu. Mário Beni (centro) foi um dos pioneros nos estudos sobre turismo no Brasil. Professor titular aposentado da ECA-USP, começou e terminou a semana com festas. Na segunda-feira tivemos o lançamento de seu livro em São Paulo (veja postagem anterior) e na sexta-feira cumprimentou seu antigo orientando de dutorado, o Panosso. As orquídeas foram mandadas do Mato Grosso, pela fã clube do centro-oeste, professora Luciene (Faculdade Afirmativo, Cuiabá).


A turma da EACH festou junto: Sidnei e Ana, Panosso e Tatiana e o casal Alberto e Adriana Tufaile, nossos físicos hedonistas. A Tatiana Panosso foi a competente e discreta organizadora, gestora e anfitriã das festividades.


Marlene Matias (esq.) e Maria José Giaretta estão entre as primeiras amizades que Mário Beni fez no emergente campo do turismo, a partir da década de 1970. Hoje elas são professoras da PUC São Paulo.


Marília Ansarah (UNIP), tinha muito a conversar com a amiga Mirian Rejowski.



Reinaldo e sua esposa, Dirce; Sidnei e Edmur Stoppa, amigos de velhos tempos e festanças.


Ben Hur e sua esposa, Cristina, são vizinhos e amigos do Panosso. Jedalva é a orgulhosa mãe da Tatiana.



Renato Seixas e Reinaldo Pacheco (EACH) são companheiros do curso de Lazer e Turismo. Pacheco é o atual suplente da coordenação e o Renato foi suplente do Uvinha.


Alberto Tufaile admira-se ante a verve iracunda de Mário Beni, pontificando sobre alguma mazela do turismo global.

Quantas histórias, lutas, farras e vitórias vivemos juntos... Marlena, Panosso, Mirian, eu, Beni, Zezé e Marília.


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Para cortar o bolo, coberto de moranguinhos e chantilly, Panosso e Uvinha fizeram um corte epistemológico em conjunto porque aniversariam com diferença de apenas um dia. A turba se posicionou para fotografar e dar palpites sobre a ação que se revelou imprudente, mas eficaz.


E assim rolou a festa, pelo menos nas fotos publicáveis. Tatiana Panosso está de parabéns pelo carinho e detalhamento com que organizou a comemoração e o Alexandre merece festar sua titulação. Basta ler seu currículo Lattes ou pesquisar na WEB para entender o que viabiliza uma conquista como essa. A todos e todas que compareceram, valeu pela amizade e alegria do reencontro.


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