A cidade de São Paulo tem aspectos fascinantes e é descolada, mas exige força e paciência de seus habitantes. O brilho cinzento da imensa urbe atrai e impressiona, mas as pessoas reconhecem que Sampa pode ter seus dias difíceis, porém é sempre instigante.
O domingo, último dia da Virada Cultural, amanheceu meio nublado mas pelo meio da manhã o sol prevaleceu sobre as sorumbáticas nuvens. Acima, a torre da igreja da Consolação e os prédios da praça Roosevelt (centro).
O Minhocão (um elevado monstruoso de concreto, com 3,4 km, que unde a praça Roosevent à Perdizes) fecha aos domingos e feriados e se transforma numa área suspensa de lazer. Nesse domingo foi tomado por tendas, barracas, decorações e um até carro (da Red Bull) que serviu de cabine de som e estúdio.
O espaço do Minhocão agrupa caminhantes, corredores, ciclistas, gente com cãezinhos, grupos de adolescentes perambulando bebendo cerveja e fumando maconha (sem incomodar ninguém), casais andando de mãos dadas, idosos tomando sol... Nesse domingo serviu de cenário para muitas câmeras e inspiração para outras tantas sensações lúdico-urbanas.
A novidade foi a Virada Gastronômica. Começou a meia-noite, com uma galinhada feita pela equipe do super-mega-hiper chef internacional Alex Atala, que preparou 500 jantares ao preço de R$ 15,00 cada. Imagine, servir um prato feito pelo dono do quarto melhor restaurante do mundo, conhecido por toda a sociedade paulistana (inclusive os emergentes e dissonantes), em cima do elevado e por quinze pratas? Foi a maior baderna. Eu não fui porque não precisa ser analista de cenários para prever encrenca. Li que invadiram a barraca, não respeitaram filas e queriam porque queriam a galinhada feita por uma das maiores celebridades gastronômicas deste planeta.No domingo foi mais tranquilo mas tinha filas e gente comendo no chão, na maior tranquilidade e satisfação.
Durante o dia chefs menos incensados pela mídia universal distribuíram suas giloseimas em umas vinte barracas. Note que o quadro aima é um espelho com o nome do prato.
O Minhocão (ou Elevado) é isso. Uma pista de concreto em cima de colunas de concreto que corta o início da zona oeste da cidade. Em alguns pontos passa a DOIS ou três metros dos prédios que ficaram, agora reféns de uma obra dos tempos do Maluf. Um túnel seria o ideal.
Tirei essa foto de cima do elevado e com pouco zoom. Durante o dia milhares de carros passam intermitentemente na frente dessas janelas fazendo barulho e jogando CO2. Das 22h00 até as 05h00 o elevado é interditado aos carros.
A avenida São Luís é um dos endereços mais vintage da cidade. Esses prédios são todos residenciais, com apartamentos antigos e bem grandes que ainda são desejados por quem gosta do centro, desde que se vire com estacionamento, pois os prédios não possuem garagem.
Mapas, folhetos, sites e outras sinalizações garantiram o fluxo de informação para mais de 100 palcos, 1.200 eventos e 24 horas de programação.
Nem a festa e o sol conseguem esconder os marginalizados que, por volta das 11h00, ainda dormiam em seus trapos imundos em uma rua perto do vale do Anhagabaú. A miséria e o abandono ainda são desafios para nosso país, tão recentemente levado à condição de potência emergente.
Artistas e assimilados aproveitaram as multidões que foram às ruas para se apresentar. Essas crianças estavam babando por esse Chavez dourado.
Um Ford antigo passa pelo Viaduto do Chá e a falta de outros carros na rua quase dá a impressão de uma foto antiga. Um dia ela o será.
Os paulistanos puderam flanar, divagar, passear e curtir sua cidade em um final de semana marcado pela arte e cultura, pelo lazer e entretenimento. Houve problemas, a saber: som baixo em alguns lugares, alguns eventos desarticulados e um mínimo de violência. Meu amigo, Prof. Reinaldo Pacheco, disse que foi por causa de maior controle na venda de bebidas alcólicas que houve menos problemas. Outro amigo, o Prof. Edmur Stoppa, que foi comigo à noite no show do Gil, comentou que o melhor desses eventos é a saudável agitação popular, mas que programas precisam ser feitos para manter as atividades durante todo o ano, para o maior número de pessoas. Um detalhe, ambos são doutores com pesquisa na área de lazer, sabem do que estão falando. E ambos também gostaram da Virada Cultural. Assim como casal acima (sei lá de onde vieram) sendo entrevistado nas ruas efervescentes da Paulicéia.
2 comentários:
Um bom olhar sobre a virada, amigo.
Fotografar o centro velho e (re)descobrir uma cidade com cara de Europa. Olhando bem, tem.
Parabéns!
Professor Trigo sou um aluno de Turismo da FATEC-SP meu nome é Joilson e venho dizer que assisti a sua maravilhosa palestra nessa tarde. Tenho que admitir apesar de conhecer o seu nome pelas suas publicações e pelas indicações de meus professores não sabia que o senhor é mestre em filosofia. Fiquei muito feliz em saber de sua formação pelo motivo de eu ser um iniciante na arte de apreciar a filosofia, chego à conclusão por meio da leitura das obras de outros filósofos de que a melhor forma de aprender e colocá-la em pratica é viajar e vivenciar sem preconceitos a cultura do próximo. E como o senhor disse hoje: Turismo e filosofia tem em comum o ato de viajar.
Agradeço pela agradável palestra, abraços.
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