sexta-feira, 6 de abril de 2012

Paradores - uma experiência espanhola de hospitalidade

Texto e fotos: Luiz Gonzaga Godoi Trigo

Os Paradores de turismo espanhóis são uma sociedade anônima de capital público com oito décadas de história e hoje administram mais de noventa estabelecimentos hoteleiros, sempre com gastronomia esmerada e atendimento de boa qualidade. Em geral as tarifas são bastante competitivas (a partir de 80 euros o apartamento, na baixa temporada local, com farto café da manhã). São localizados em parques naturais ou em edifícios históricos como palácios, conventos, fortalezas, mosteiros e castelos, alguns totalmente reconstruídos (como em Siguenza), outros restaurados e adaptados para hospedagem. 

Sua história é fascinante. Aqui copio um pequeno trecho do site:

Corría el año 1910 cuando el gobierno encargó al Marqués de la Vega Inclán el proyecto de crear una estructura hotelera, por aquel entonces prácticamente inexistente en el país, que diera hospedaje a los excursionistas y mejorara la imagen internacional de España.
En 1926, siguiendo este proyecto y desde la Comisaría Regia de Turismo creada en 1911, De la Vega Inclán impulsó la construcción de un alojamiento en la sierra de Gredos, que abriese al turismo las maravillas del paisaje de este lugar.
La idea entusiasmó al Rey Alfonso XIII, quien personalmente eligió el emplazamiento. En agosto de ese mismo año comenzaron las obras que se culminaron el 9 de octubre de 1928 con la inauguración, por él mismo, del que se convertiría en el primer establecimiento de la posterior red de Paradores de España, el Parador de Gredos.
Inaugurado este primer establecimiento, se constituye la "Junta de Paradores y Hosterías del Reino" y los esfuerzos se encaminan a perfeccionar la idea original y servirse de escogidos monumentos histórico artísticos y parajes de gran belleza natural para instalar nuevos Paradores.
La coyuntura de los felices años veinte, los resultados de la primera gestión y la inminente Exposición Ibero-Americana afianzaron el proyecto y animaron a la construcción de nuevos paradores, ya en edificios monumentales, como los inaugurados en Oropesa (1930), Úbeda (1930), Ciudad Rodrigo (1931) o Mérida (1933), entre otros. Al mismo tiempo, los primeros albergues de carretera que se fueron integrando en la Red también abrían al público, como Manzanares (1932), Bailén (1933) ó Benicarló (1935).
Para saber mais acesse o site: http://www.parador.es/es/ocho-decadas-de-historia 




Há cinco Paradores em construção e mais nove em projeto. Acima está o Parador de Ronda, uma cidade localizada nas serra perto de Sevilha. Note que ele se debruça sobre um abismo. "El Tajo", uma fenda geológica, portanto natural, tem 120 metros e divide a cidade em duas partes.


O edifício era a sede do governo municipal.


Em geral os Paradores possuem apartamentos amplos, bem equipados, onde o conforto e o bom gosto marcam o projeto. Esse era meu quarto em Ronda...


... e essa a visão que eu tinha da janela, debruçado sobre el tajo. Farei uma postagem só sobre Ronda, la ciudad soñada.


Nas serras e montanhas, nas ilhas, no Mediterrâneo ou ao lado de campos de golfe e florestas os Paradores se esparramam pela península ibérica espanhola (em Portugal há estabelecimentos parecidos, com outra denominação). Essa é a vista de Nerja, uma cidade balneária perto de Málaga e de Marbella, na costa do Mediterrâneo.


O Parador é moderno, amplo, claro. Há um Parador em Aiguablava, ao norte de Barcelona, na Costa Brava que foi construído sobre um promontório rochoso. É simplesmente lindo.


Em Nerja, também edificado sobre umas rochas, um elevador privativo leva os hóspedes até a praia. O Mediterrâneo se estende em placidez por vários quilômetros da costa pois lá não se constrói paredes de concreto com vinte ou trinta andares para poluir as praias, congestionar o trânsito e afogar o mar no caos urbano como em certos países deste planeta.


Então dá para parar e olhar o horizonte que, fora do verão, guarda uma tranquilidade secular.


Esse é o restaurante do Parador de Córdoba. A gastronomia sempre é regional, a carte de vinhos é ampla e variada, os preços são competitivos (de 20 a 40 euros por pessoa, dependendo dos pratos e, claro, dos vinhos).


Sala de estar no lobby do Parador em Córdoba ...


... e o terraço ao ar livre, cercado de laranjeiras, limoeiros e flores. É algo típico do Mediterrâneo e suas ilhas, uma mescla de hortas, jardins e pomares que à noite exalam odores que, junto com o vinho, o azeite de oliva e as estrelas, fazem nos sentir mais "humanos, demasiadamente humanos".

Essa era a vista do meu quarto em Córdoba, na parte alta da cidade e a uns três quilômetros do casco histórico. Esses são os jardins e a piscina do Parador ...


... e do outro lado a amplidão da periferia árida da cidade.


Acordar com luz e espaço é reconfortante para a existência, tão excitada pelas viagens.


Em Nerja, os modernos páteos internos convidam ao convívio, consigo e com os outros.


No Parador de Granada, localizado em Alhambra num antigo convento franciscano, os páteos internos no estilo mouro nos lembram que a história, pessoal e coletiva, é algo incognoscível e, às vezes, contraditório. Portanto, há que se viver e desfrutar dessas paisagens ...


... e edificações com vontade e prazer ante o mundo. O Parador de Granada é um doa mais caros (a partir de 200 euros o apartamento) por estar em Alhambra, o conjunto de palácios mais formoso da Andalucia islâmica.


Em todos eles há muita arte. São quadros, esculturas, objetos, ilustrações, livros, mapas e tudo o que se relacione com a história e cultura da região onde estão instalados. Esse anjinho é de Córdoba.

Uma preocupação

Quando estive agora, em fevereiro, na Andalucia, conversei com um maitre do Parador de Córdoba e ele me disse que há conversas para vender a rede de Paradores a um grupo hoteleiro internacional por causa da crise espanhola. Certamente nãos e conseguirá manter a qualidade de serviços com as tarifas praticadas, pois os atuais empregados são funcionários públicos mas pelo nível do serviço percebe-se claramente que eles se importam e cuidam bem das propriedades e dos vários atrativos que garantem um fluxo contínuo de visitantes. Percebi que há algum desperdício (muitas amenidades nos quartos, a manutenção deve ser cara devido ao tamanho dos parques, jardins e áreas construídas) mas isso pode ser resolvido. Não acredito que vender um patrimônio nacional desse porte seja uma solução razoável. Um grupo estrangeiro imediatamente elevará as tarifas, racionalizará os serviços diminuindo sua qualidade e implementará um padrão anódino aos Paradores, ou seja, impessoal, frio e simplesmente eficaz. Hoje eles são eficazes e possuem uma alma, um estilo, uma personalidade que se sente na atmosfera pluralista de lugares catalães, bascos, andaluzes, de castilla y león, da Galícia e das ilhas e serras, das florestas e campos da Espanha. Que a crise econômica não atinja os brios e a força da hospitalidade ibérica tão presente nos Paradores e que as próximas gerações possam continuar a ter a experiência de dormir em contextos naturais e culturais fora da mediocridade barata, limpa e confortável dos hotéis de rede hodiernos. 

Um comentário:

Luzia Neide Coriolano disse...

Trigo, nossa vejo seu Blog mil vezes e não me canço e como aprendo. Vou com um grupo da UECE passar 45 dias em Toledo e rodando por esses lugares lindo ai que você nos mostra.
Sim vi o debate webTV brasiliana e adorei sua posição e suas informações. Lembrei que estava com você restaurante de espirito Santo que age com responsabilidade social.
E seu níver esta chegando, vou tomar bastante vinho comemorando sua vida e seu sucesso. Grande abraço e parabéns meu amigo.
Luzia Neide