Claro que navios são muito seguros, mas todo ano algumas pessoas somem a bordo ou sofrem acidentes fatais. Em termos estatísticos são uma ínfima minoria, mas não custa prevenir chatices e encrencas a bordo.
Nos anos anteriores, o verão brasileiro dos cruzeiros marítimos terminou com algumas mortes, o que fez a imprensa especular sobre as causas e como evitá-las. A realidade é que as pessoas sofrem acidentes ou mal estar fatal inclusive nas férias em hotéis, ônibus, aviões e ... navios. Veja, por exemplo, no site www.cruisebruise.com o que pode dar de errado a bordo. Com o aumento de navios e passageiros nas costas brasileiras é estatisticamente provável que ocorram algumas mortes a cada estação, como acontece em outros lugares do mundo. Na década de 1980, trabalhei no navio Funchal, fretado pela agência Abreu, durante quatro temporadas e presenciei três mortes. Uma passageira (64 anos) morreu dormindo em sua cabine; um passageiro (70 anos) passou mal e morreu, também em sua cabine apesar dos cuidados médicos; o professor de ginástica, um senhor de 60 anos, sarado e saudável, teve um ataque cardíaco na minha frente às dez horas da manhã nas costas do Ceará, assim que terminou sua aula de ginástica e antes do torneio de tiro ao alvo que eu organizaria. Desci correndo, chamei o médico de bordo, levamos o professor para as instalações médicas (bastante austeras), mas o ataque foi fulminante.
Muitas mortes são evitáveis. Daniel DiPietro, 21 anos, viajava com amigos no Mariner of The Seas, da Royal Caribbean, a caminho de Bahamas. Desapareceu na noite de 15 de maio de 2006. Seus amigos reportaram o fato na manhã seguinte. A empresa avisou a Guarda Costeira no final da tarde. No meio de três mil passageiros algo assim passa desapercebido. Analisando as câmeras de bordo acharam o rapaz bebendo até se acabar em um dos bares de bordo e o funcionário parou de servir devido à intoxicação evidente. Ele foi para outro bar e bebeu mais. Depois ficou só numa das cadeiras do convés dormindo. Acordou, foi vomitar, debruçou-se na amurada de proteção e caiu ao mar. Seu corpo nunca foi encontrado. Muitas vezes o excesso de bebidas, combinado com o uso de drogas ilegais, pode provocar mal estar fatal em adolescentes e jovens. Por que bebem tanto? Porque estão longe de casa, os amigos bebem, eles já bebiam em suas casas ou em festas apesar de muitas vezes serem menores de idade e perdem a noção do perigo. O que fazer? Informar sobre os perigos que existem em um navio. Algumas vezes a intoxicação alcoólica e por outras drogas pode degenerar em convulsões, asfixia no próprio vômito na cama, problemas cardio-respiratórios e outras encrencas perigosas.
Sem contar que debruçar-se, especialmente bêbado ou drogado, para vomitar por cima da murada representa um enorme risco de queda no mar. Mesmo se for de dia, até o aviso chegar à ponte de comando, a ordem de parar máquinas ser cumprida, o aviso de “homem ao mar” ser dado e um barco de resgate ser lançado, já se passaram várias milhas e minutos. Se a pessoa não souber nadar, manter a alma e esperar o resgate, já era. Isso se for durante o dia e o mar estiver calmo. Se for à noite ou com mar agitado, já era também. Há exceções. Ouvi o relato de um passageiro que caiu, à noite, pela amurada, boiou até o amanhecer e foi encontrado por um barco de pesca que o resgatou. Sorte excepcional.
Há a possibilidade, pequena porém real, de eventuais crimes a bordo (veja no site acima indicado a seção murder, sex rape etc.). Lembro de um artigo (perdi a referência) onde um analista comentava que no Caribe e no Mediterrâneo, maiores destinos de cruzeiros do mundo, é preciso se prevenir contra roubos, ataques sexuais e até homicídios, pois em centenas de milhares de passageiros e com cruzeiros razoavelmente baratos, a possibilidade de embarque de pessoas mal intencionadas aumenta.
Mas viajar em um navio de cruzeiros é uma das experiências mais seguras que existem. Basta informar aos passageiros os cuidados mínimos e básicos que quase tudo pode ser evitado. Até o aumento de peso devido à comilança desregrada. Para quem for viajar, boa navegação.
Um comentário:
Trabalhei 3 temporadas a bordo e posso falar que vi algumas coisas realmente bizarras. Desde argentina louca brigando com o namorado e tentando se matar no nossa frente na recepção, viuva já de idade se aventurando com menino novo, crises de diabetes na Europa era o que mais acontecia, hospedes tento epilepsia e por ai vai. Mas a experiência como tripuante é maravilhosa, apesar desses probleminhas. E como passageiro ainda melhor!
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