Viagem literária. Terminei de ler As benevolentes, de Jonathan Littell. Foram dias viajando atrávés de suas quase 900 páginas, densas e inquietantes. Algumas delas cruéis, muito cruéis. Fazia tempo que um romance não me envolvia tanto. Sonhava com ele à noite. Pensava em algumas passagens durante o dia. O personagem é complexo e nos surpreende cada vez mais e de forma diferente com sua vida, seus atos, suas palavras. Aí está a literatura. O autor nos prende com suas palavras, nos provoca com seus argumentos, nos enreda na história e de repente acabava me comparando àqueles personagens canalhas.
Raramente sinto uma certa náusea quase fisiológica lendo um texto. Senti nesse livro, especialmente nas descrições de violência da guerra e das condições nos campos de trabalho forçado da Alemanha nazista.
O personagem mergulha em si, nos seus pesadelos, em sua culpa, em sua mente ensandecida e no seu desejo sexual devasso e nos convida a sentir, a pensar o que ele está sentindo e pensando. Ele - o personagem - se compara a nós. Chega a dizer que, em seu lugar, provavelmente faríamos o mesmo. Ele surpreende pela amplitude e tranquilidade de seus atos e pensamentos malignos.
Mas, ao terminar a última página, fechei o livro e pensei: ele é muito pior do que nós. Assim espero. Assim tento me convencer.
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