"e tal assim sucedeu em dias que já não vemos
porque o tempo é isso, é isto:
àquilo que já não se vê não podes chamar presente
- é memória ou futuro, invisibilidade portanto."
Gonçalo M. Tavares, 2014
Os velhos também querem viver, p. 11
Nossos tempos
Luiz G. G. Trigo, 2016
Muito se fala, se escreve, se posta, se vocifera...
Mas pouco se reflete, se
escuta, se estuda e compara.
Há poucos pensamentos
complexos, profundos, estruturados de maneira aberta
e articulada.
Há gritos,
interjeições, memes, charges, textos curtos e diretos, rasos e estéreis
de baixa fecundidade
existencial, intelectual ou espiritual.
Há rezas, pragas,
conjuros, lendas, superstições, maldições e bênçãos artificiais.
Chatices, mimimis,
picuinhas, teimosias e ciúmes.
Amarguras, gracinhas,
calúnias, ofensas, ressentimentos, humores, má-fé, piadas e gracejos.
Há um cipoal, um amálgama,
um enredar intrincado de nós cortantes, mas muitos veem apenas como um jardim
ou uma selva. Poucos veem “muito além do jardim”. Poucos entram “no coração das
trevas”. Muitos correm atrás de um sol
fantasma de uma galáxia distante...
E muito se fala, se
escreve, se posta, se zurra...
Se murmura e se sussura em "versos e trovas",
entre gritos e certezas caducas de ética e estética.
Assim o mundo líquido
dissolve antigos temores e amores,
as mudanças
assolam e assanham e solapam as fundações do universo e a infância humana
atinge seu ápice telúrico, numa espetacular e lipovestkyana mescla entre
tecnologia, arte, inconsciência e instinto.
Enquanto falamos, postamos, rangimos os dentes e gargalhamos para nós mesmos....
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