Recentemente fiz duas postagens sobre a realidade da aviação comercial brasileira. Uma delas (29/04/2013) foi sobre os rankings da Skytrax World Airlines e a situação das empresas e aeroportos brasileiros, não muito bem colocados no cenário internacional. A outra (05/05/2013), foi uma entrevista com Lucas Batista, que trabalha no aeroporto de Viracopos (Campinas, SP) como despachante e é um jovem piloto.
Para a presidência foi convidado Eduardo Sanovicz, um conhecido executivo da área de turismo e eventos. Sanovicz é amigo pessoal e professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, onde somos colegas. Gentilmente abriu sua agenda para responder a algumas perguntas neste blog. Confira a entrevista para conhecer sua trajetória profissional e acadêmica, ideias e propostas. No final há um link para a Agenda 2020 da ABEAR, onde você pode acessar mais informações e detalhes.
1. Fale sobre você, sua história
profissional etc.
Sou Presidente da ABEAR e Professor Doutor do
Curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade
de São Paulo. Atuei até recentemente como consultor-sênior em programas e ações
na área de Marketing e Turismo. Graduado em História, sou Mestre e Doutor em
Turismo pela Universidade de São Paulo.
Entre 2007 e 2010 fui Diretor da Reed Exhibitions Alcantara Machado.
Entre 2001 e 2007, Vice-Presidente da ICCA – International Congress & Convention Association.
De janeiro de 2003 a agosto de 2006, presidente da Embratur, tendo sido responsável pela
implantação do Plano Aquarela e pela criação da Marca Brasil.
Entre janeiro de 2001 e janeiro de 2003, fui
Presidente da Anhembi Turismo e Eventos
da Cidade de São Paulo e, entre abril de 1997 e dezembro de 2000, Diretor
de Operações do São Paulo Convention
& Visitors Bureau. Entre 1993 e 1996, Diretor de Turismo da Prefeitura Municipal de Santos.
2. O que é a ABEAR? Quais seus objetivos, metas, estrutura.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) foi criada pelas cinco principais
companhias aéreas brasileiras – AVIANCA, AZUL, GOL, TAM e TRIP, com a missão de
estimular o hábito de voar no Brasil. Nosso foco de trabalho está centrado no
tratamento de questões institucionais do setor aéreo. As estratégias de atuação
da ABEAR compreendem planejar, implementar e apoiar ações e programas que
promovam o crescimento da aviação civil de forma consistente e sustentável,
tanto para o transporte de passageiros como para o de cargas.
Além de
contribuir para o fortalecimento de toda a cadeia produtiva da aviação, a ABEAR
atua em constante relacionamento junto aos setores público e privado, entidades
de classe e consumidores.
A criação
da ABEAR se deu a partir de um estudo da Fundação Dom Cabral, a pedido do
Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA). Em 2011, o SNEA identificou
a necessidade de uma reorganização da forma como as companhias aéreas dialogam
com o público, em um momento em que o total de usuários de avião já supera o de
transporte rodoviário. Em parceria com o SNEA, que se dedica exclusivamente aos
temas trabalhistas e jurídicos, a ABEAR trata das questões institucionais e dos
temas relacionados à segurança e operação de voo do setor aéreo.
Nossa
estrutura é bastante simplificada. As decisões são tomadas por um Conselho
Deliberativo que conta com um representante de cada empresa associada. O
trabalho é posto em prática a partir de dois comitês: um Institucional, que discute estratégias e ações de relacionamentos
institucionais e corporativos da entidade; e um de Comunicação, destinado a dialogar com diversos públicos de
interesse.
3. Como você analisa a situação da
aviação comercial brasileira hoje, com os problemas econômicos das empresas etc.?
Hoje o Brasil é o terceiro maior mercado doméstico
do mundo, atrás somente de EUA e China. De 2002 até 2012, o número de viagens
domésticas e internacionais aumentou 161%, saindo de 38 milhões de passageiros
transportados para mais de 100 milhões. O aumento do poder de compra do
brasileiro, assim como a inclusão de novos consumidores nos últimos dez anos
são responsáveis por este salto, também provocado por uma redução brutal no
preço das tarifas aéreas.
Em média, de 2006 até 2012, os valores caíram 46% e
hoje o avião é considerado o meio de transporte mais barato para viagens
planejadas de longas distâncias no Brasil. Tais fatos colaboram para a geração
de 1,2 milhão de empregos e a adição de R$ 73 bilhões ao PIB brasileiro. As
companhias aéreas brasileiras são fortes, estruturadas e eficientes. Mas
trabalham com margens bastante apertadas, muito em função dos altos custos,
inerentes do setor e ao modelo brasileiro. Uma parte importante do trabalho da
ABEAR é justamente tratar essas questões (custo de combustível, ICMS,
aperfeiçoamento profissional etc.) junto aos principais interlocutores para
tornar o transporte aéreo brasileiro ainda mais competitivo em nível mundial.
4. A crise aérea acabou mesmo?
Aquilo que se convencionou chamar de crise aérea
foi um período marcado por uma série de questões peculiares por volta de 2006.
Desde então o mercado continuou crescendo, passou pelos ajustes necessários e
atingiu um grau de maturidade bastante grande. Hoje temos pelo menos
quatro grandes empresas robustas e que prestam um excelente trabalho aos
passageiros. Não sem razão, chegamos a 2012 com 100 milhões de
passageiros transportados no Brasil. Esse é o fato que melhor mostra que aquele
período foi superado. Para continuarmos crescendo com sustentabilidade,
entretanto, estamos sempre atentos e em contato com os demais interlocutores do
setor para que todas as áreas que compõem essa complexa atividade estejam
adequadamente preparadas, incluindo-se aí a força de trabalho, composta pelos aeronautas
e aeroviários, a infraestrutura aeroportuária e de navegação, além das próprias
companhias aéreas.
5. A infraestrutura de transportes no Brasil é muito criticada. Como você analisa a situação no que se refere ao transporte aéreo?
A má distribuição geográfica para o transporte
aéreo e a sobrecarga dos aeroportos são problemas que impactam diretamente na
infraestrutura do setor no Brasil. Hoje o transporte aéreo de passageiros está
concentrado em poucas regiões e, dos 12 maiores aeroportos do país, oito já
estão com utilização igual ou acima da capacidade reportada. Uma infraestrutura
aeroportuária deficiente prejudica o setor, limitando muitas vezes o tráfego
aéreo e obrigando as companhias a voar com uma capacidade menor do que poderiam
oferecer. Com as novas concessões acreditamos que este quadro começa a mudar.
Só com um amplo investimento conseguiremos dobrar, nos próximos dez anos, o
volume de passageiros no país, algo plenamente factível.
6. Os governos mais ajudam ou atrapalham as empresas aéreas?
Três fatores são cruciais para que possamos, juntos
com o governo, melhorar a situação do setor e também das empresas aéreas:
infraestrutura, custos e regulação. É necessária a viabilização de
investimentos em ampliação, manutenção e construção de aeroportos, controle de
tráfego aéreo e desenvolvimento de novas rotas aéreas. Com relação aos custos,
o principal fator é o do QAV e a alíquota de ICMS deste combustível. A abertura
de um diálogo com a Petrobras para revisão da fórmula de precificação do QAV e
a equalização do ICMS entre os estados, além da garantia do marco regulatório,
são pontos de extrema importância para alcançarmos nossas metas até 2020.
7. Como fica a situação nos megaeventos
que se aproximam? Há vários terminais aéreos com atraso em obras, vias de
acesso etc. Por favor, comente.
Os eventos são casos muito pontuais. É sempre
possível gerenciar a demanda adicional gerada com reforços de voos e de
equipes. Além disso, é sabido que durante o período dos eventos o mercado faz
um ajuste natural, uma vez que, por exemplo, as empresas acabam por agendar
compromissos e viagens para outras datas, criando uma folga para o atendimento
do público dos eventos. Quanto às obras em cursos, a expectativa é que sejam
concluídas dentro dos prazos estipulados, de forma que possamos obter uma
melhora para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo.
Em 2013, a ABEAR
fez um estudo nomeado de Agenda 2020, no qual demonstramos nossas perspectivas
até o ano de 2020. Acreditamos que o setor aéreo deverá demandar entre R$ 42
bilhões e R$ 57 bilhões em investimentos na infraestrutura aeroportuária,
organizar a construção ou reativação de 73 aeroportos, além da expansão de 47 aeroportos,
assim como o investimento em aeronaves entre R$ 26 bilhões e R$ 36 bilhões.
8. Espaço livre para suas manifestações sobre o que desejar.
Até 2020, a ABEAR espera que, com o
comprometimento dos setores públicos e privados para a solução dos problemas do
setor, o transporte aéreo brasileiro alcance um novo patamar. No Agenda 2020, afirmamos a
necessidade de investimentos entre R$ 26 bilhões e R$
36 bilhões, do setor privado e entre R$ 42 bilhões e R$ 57 bilhões, do setor
público. Com isso, a projeção para 2020, é que
dos atuais 100 milhões, passemos para 211 milhões de passageiros; 73 aeroportos a mais estejam
funcionando, totalizando 169; 316 novas rotas sejam incorporadas, alcançando
795 no país; sejam gerados 660 mil novos empregos, chegando a 1,9 milhão o
número de empregados pelo setor; e a adição de 526 novas aeronaves, chegando a
976 aviões.
Para conhecer os detalhes da Agenda 2020 da ABEAR e conhecer mais sobre o assunto, acesse o link:
http://www.abear.com.br/uploads/pdf/releases/agenda2020_230413174200.pdf
Um comentário:
Caro prof. Trigo, você disse que detesta burrice e adora bom humor. Espero que você aprecie a verdade também. Esse presidente da ABEAR que você entrevistou, veja, tem um belo currículo não? mas faltaram alguns itens no currículo dele: faltou ele dizer que foi condenado por improbidade administrativa em 2009 na 9ª vara da Fazenda Pública de SP e em 2011 teve a condenação confirmada pelo Tribunal de Justiça. Por que será hein? Faltou também ele dizer que o diretor administrativo e financeiro e o diretor de comunicação da ABEAR são pessoas da "trupe" do entrevistado, um tipo de "confraria" onde a competência fica em 2º plano e prevalecem a velha amizade, as indicações pessoais e o patrimonialismo (tradição cancerosa brasileira). Faltou, ainda, registrar que o entrevistado está sempre ligado ao patrão, aos executivos, ao empresariado, quer dizer, é servo e incentivador da patronagem, elitista ao meu ver, e creio que jamais assumiria a presidência de uma associação de empregados, ou seja, não é homem que luta pelos interesses populares, mas pelos interesses burgueses. Se você professor Trigo aprecia a verdade, tenha, portanto, devaneios com ela, pois só a verdade liberta o homem das ilusões da erudição e do poder.
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