segunda-feira, 11 de março de 2013

A viagem - reflexões com nossos alunos(as)






Tem uma disciplina que ofereço para o primeiro ano de Lazer e Turismo, da EACH, que eu curto muito: História da Cultura, do Lazer e do Turismo. É uma viagem pela literatura, mitologia, artes, história, filosofia, nos diversos aspectos relacionados ao ato de viajar. 

Uma viagem é uma ruptura do cotidiano e, ao mesmo tempo, um encontro com nossas expectativas e desejos. Ao nos perdermos no insólito, como estrangeiros, “estranhos numa terra estranha”, talvez busquemos sentidos e significados em nosso próprio passado, na experiência de vida construída a partir do lugar onde nascemos e começamos a entender a vida e suas coisas misteriosas e fascinantes. Assim como os primeiros seres humanos tiveram consciência paulatina do que era seu mundo, também emergimos para uma consciência que primeiramente descortinou o que vimos, sentimos e pensamos sobre nossa existência. 


 Se esse universo é pleno de perigos, também é pródigo em encantos e surpresas agradáveis. “Porque a viagem é geralmente um prazer triste e parcialmente masoquista, a chegada em um lugar obscuro e sombriamente pitoresco é uma das delícias do viajante.” (Theroux, 2012, p. 3). Chegar à noite em um vilarejo distante, sem a percepção de seus arredores ou cenários, é como mergulhar em um estado de perda de referenciais. Então emerge a necessidade atávica de responder prontamente ao desconhecido que, geralmente, abriga ameaças subliminares e perigos latentes.

Cruzar fronteiras e descobrir outras facetas do mundo, das pessoas e de si mesmo. A descoberta de um mundo que, aos primeiros olhares da infância ou da ingenuidade, nos parece infinito e eterno. Talvez até seja. Com o tempo, percebemos que nunca descobriremos tudo e alguns mistérios permanecem, apesar de nossos esforços para desvendá-los. O que fica é o Amor, Eros em sua plenitude, pairando sobre o futuro certo que nos levará à morte, mas que não consegue inibir a aventura da vida que nos foi dada. Nada é eterno, mas a vida vale ser vivida. Assim acontece com o navegador, personagem de Morris West, que sai em busca de uma ilha distante no Pacífico, de um lugar sagrado onde vão morrer os alii, os grandes chefes e os grandes navegantes. Isso aconteceu com os europeus e outros povos que colonizaram, evangelizaram, exploraram, escravizaram, profanaram as outras terras, onde encontraram mistérios insondáveis e ali deixaram suas vidas, mesmo os que voltaram aos seus países, pois voltaram transformados de maneira inexorável. O mesmo ocorre com os africanos, americanos, asiáticos, os insulares de todos os oceanos, quando deixam suas terras para ver outros mundos e conhecer outras realidades. A viagem nos transforma em algo diferente do nosso antigo Eu. 



Na primeira aula pedi que me dissessem, em uma palavra, o que seria uma viagem. Veja o elenco de palavras, sensações e desejos sobre a viagem:

Fuga, busca de liberdade,
Descanso, novas experiências e sensações,
Encantamento, diversão, vivenciar novas culturas,
Satisfazer desejos, realização pessoal,
“camaleão”, desvirtuar, deliciar-se,
Inenarrável, insubstituível, indescritível,
Inesquecível, incomparável,
Vivências, uma nova forma de adaptação à realidade,
Mais lazer, algo maravilhoso, novo,
Viver, sentir-se diferente, rejuvenescer,
Algo gratificante, necessário, purificante,
Brincar com o desconhecido,
Valiosa, excepcional, permitir-se,
Desconexão dos problemas,
Mudança, relaxamento, renovação,
Experiência individual, interessante,
surpreendente, aprender,
Conhecer novas paisagens, arriscar-se,
Emocionante, felicidade, oportunidade,
Cansaço,
Auto-conhecimento,
Prazer...

Outros ainda escreveriam tantas outras coisas...

Luiz Gonzaga Godoi Trigo

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