Tem uma disciplina que ofereço
para o primeiro ano de Lazer e Turismo, da EACH, que eu curto muito: História
da Cultura, do Lazer e do Turismo. É uma viagem pela literatura, mitologia,
artes, história, filosofia, nos diversos aspectos relacionados ao ato de
viajar.
Uma viagem é uma
ruptura do cotidiano e, ao mesmo tempo, um encontro com nossas expectativas e
desejos. Ao nos perdermos no insólito, como estrangeiros, “estranhos numa terra
estranha”, talvez busquemos sentidos e significados em nosso próprio passado,
na experiência de vida construída a partir do lugar onde nascemos e começamos a
entender a vida e suas coisas misteriosas e fascinantes. Assim como os
primeiros seres humanos tiveram consciência paulatina do que era seu mundo,
também emergimos para uma consciência que primeiramente descortinou o que
vimos, sentimos e pensamos sobre nossa existência.
Se esse universo é
pleno de perigos, também é pródigo em encantos e surpresas agradáveis. “Porque a viagem é geralmente um prazer
triste e parcialmente masoquista, a chegada em um lugar obscuro e sombriamente
pitoresco é uma das delícias do viajante.” (Theroux, 2012, p. 3). Chegar à
noite em um vilarejo distante, sem a percepção de seus arredores ou cenários, é
como mergulhar em um estado de perda de referenciais. Então emerge a
necessidade atávica de responder prontamente ao desconhecido que, geralmente,
abriga ameaças subliminares e perigos latentes.
Cruzar fronteiras e
descobrir outras facetas do mundo, das pessoas e de si mesmo. A descoberta de
um mundo que, aos primeiros olhares da infância ou da ingenuidade, nos parece
infinito e eterno. Talvez até seja. Com o tempo, percebemos que nunca
descobriremos tudo e alguns mistérios permanecem, apesar de nossos esforços
para desvendá-los. O que fica é o Amor, Eros em sua plenitude, pairando sobre o
futuro certo que nos levará à morte, mas que não consegue inibir a aventura da
vida que nos foi dada. Nada é eterno, mas a vida vale ser vivida. Assim
acontece com o navegador, personagem de Morris West, que sai em busca de uma
ilha distante no Pacífico, de um lugar sagrado onde vão morrer os alii, os grandes chefes e os grandes
navegantes. Isso aconteceu com os europeus e outros povos que colonizaram,
evangelizaram, exploraram, escravizaram, profanaram as outras terras, onde
encontraram mistérios insondáveis e ali deixaram suas vidas, mesmo os que
voltaram aos seus países, pois voltaram transformados de maneira inexorável. O
mesmo ocorre com os africanos, americanos, asiáticos, os insulares de todos os
oceanos, quando deixam suas terras para ver outros mundos e conhecer outras
realidades. A viagem nos transforma em algo diferente do nosso antigo Eu.
Na primeira aula pedi
que me dissessem, em uma palavra, o que seria uma viagem. Veja o elenco de
palavras, sensações e desejos sobre a viagem:
Fuga, busca de
liberdade,
Descanso, novas
experiências e sensações,
Encantamento, diversão,
vivenciar novas culturas,
Satisfazer desejos,
realização pessoal,
“camaleão”, desvirtuar,
deliciar-se,
Inenarrável, insubstituível,
indescritível,
Inesquecível, incomparável,
Vivências, uma nova
forma de adaptação à realidade,
Mais lazer, algo
maravilhoso, novo,
Viver, sentir-se
diferente, rejuvenescer,
Algo gratificante,
necessário, purificante,
Brincar com o
desconhecido,
Valiosa, excepcional,
permitir-se,
Desconexão dos
problemas,
Mudança, relaxamento,
renovação,
Experiência individual,
interessante,
surpreendente,
aprender,
Conhecer novas
paisagens, arriscar-se,
Emocionante,
felicidade, oportunidade,
Cansaço,
Auto-conhecimento,
Prazer...
Outros ainda escreveriam
tantas outras coisas...
Luiz Gonzaga Godoi Trigo
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