Fotos: Luiz
Gonzaga Godoi Trigo
Textos: dos
alunos e alunas do primeiro semestre de Lazer e Turismo da EACH-USP,
devidamente identificado(a)s.
Tenho uma disciplina chamada História
da Cultura, do Lazer e do Turismo, ministrada no primeiro semestre de
Lazer e Turismo, na EACH-USP. É uma viagem pelo sentido e significado da
viagem, desde os primórdios mitológicos, religiosos e filosóficos passando pela
arte em geral, literatura e todo tipo de relato relacionado às viagens.
Nesse semestre corrigi 152
provas, dos períodos vespertino e noturno, e selecionei alguns trechos que acho
interessante partilhar para que você veja como quatro meses de delírios e
reflexões podem gerar algumas linhas plenas de saber e sabor, espontaneidade e
constatações que envolvem a própria trajetória pessoal e os desafios de cada um
na vida acadêmica, profissional e na sua existência em geral. Nem todos os
trechos interessantes de outras provas aqui estão, o material é vasto e a
seleção não foi muito apurada. Mas ficam aqui alguns dos bons pensamentos e
sentimentos sobre a viagem e viajantes.
Meus agradecimentos às turmas que
pensaram e escreveram coisas descoladas e refletidas sobre o ato de viajar,
conhecer o mundo e conhecer a si mesmo. Nem todos aproveitam essas facetas
possibilitadas pelos deslocamentos e jornadas afinal, como diz o velho ditado,
“não é porque um jumento viaja que ele
volta um corcel”.
“Acreditando que a poesia é a grande vitamina da alma, fico com os
sussurros de Carlos Drummond de Andrade:
‘... Restam outros sistemas fora do solar a colonizar.
Ao acabarem todos,
só resta ao homem (estará equipado?),
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo.”
“A viagem representa a busca, a consciência de si mesmo no universo. O
auto-conhecimento doutrina o olhar que se torna capaz de discernir sobre o
mundo que o cerca. Porém o deslocamento não é sinônimo de auto-conhecimento.
Para isso é necessário que o indivíduo esteja preparado e disposto a lidar com
os ciclopes que poderá encontrar dentro de si. Nem sempre essa disposição
existe.”
“Para mim, um dos significados da viagem é o do auto-conhecimento, o
momento que podemos tirar para nos organizarmos interiormente, colocar pensamentos
em ordem, como também o momento de conhecer novas pessoas, histórias, lugares e
paisagens...”
Lucas Soares Brito
Marques
“A viagem é necessária, é vivida, é uma experiência única; ela
transforma, dá-nos o poder da possibilidade da metamorfose. ... A viagem é o
nosso portal, não místico, mas ainda assim desconhecido e excitante.”
“Contudo, a viagem é tão somente uma busca interminável pelos saberes
que nos trazem a realização pessoal, que nos fazem aceitar como somos, agregando
a nossa própria história e as experiências que se tornam riquezas no decorrer
da trajetória de nossas vidas.”
“Para se ter uma grande viagem
como uma grande experiência, é necessário uma série de atitudes e saberes. A
viagem precisa superar a banalidade, os aspectos triviais, estereotipados e
convencionais e estruturar-se como uma experiência que nasça de uma riqueza
pessoal do viajante em busca de momentos e lugares que enriqueçam sua história.
Que seja algo sem retorno, levando ao auto-conhecimento e maior consciência das
possibilidades e limitações, vitórias e derrotas. A busca do eu interior
desconhecido.”
“E por termos uma única vida, limitada, é preciso deixar de lado o apego
pelo mundo, pela família, e ter a atitude de escolher com discernimento o que é
melhor para si. Permita-se vivenciar momentos que mostrarão o que você
realmente é, seus valores, defeitos; mesmo que algumas descobertas o assustem,
elas são importantes ao serem reveladas.”
“No início do curso meu conceito de viagem era diferente, eu acreditava
que viajar era somente visitar lugares, descansar e ter prazer. Agora vejo como
uma busca pelo auto-conhecimento onde podemos passar por situações e adquirir
sabedoria que não teríamos em nossas casas, em nossa zona de conforto.”
“Sou uma viajante rouca, pois gritei a minha liberdade e cá estou eu em
busca da voz, da vida, do sentir que já possuo. Mas sou incompreendida.
Insatisfeita. Eterna insatisfação. Eu quero sempre mais.”
“A experiência de você entrar em contato consigo mesmo é muito clara...
O prazer meio que some e o medo junto da emoção que com ele vem, aparece de
forma que não é colocada para fora, externalizada. É uma espécie de euforia
intensa combinada com um turbilhão de emoções internas. É o ser humano
realmente entrando em contato consigo, só e desprotegido e, apesar de o medo
remeter a um sentimento ruim, o resultado disso é maravilhoso.”
“A viagem é um encontro consigo mesmo, com sua história e suas memórias
e para isso é preciso coragem.”
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