Fotos: Luiz GG Trigo
O escultor, pintor e ceramista Francisco Brennand domina Recife com seus símbolos. Ele capturou o imaginário lúbrico e estranho de seu tempo e espaço. Suas esculturas estão no aeroporto de Recife, em murais imensos da cidade, na estação do metrô MASP em São Paulo e ...
Mas seus domínios oníricos estão do outro lado da cidade, na antiga cerâmica São João da Várzea, reconstruída e adaptada por F. Brennand, em 1971, como um espaço único para expor suas obras e as projeções mais estranhas e sinuosas de nossas mentes.
A chamada Oficina Brennand (www.brennand.com.br), em Santos Cosme e Damião, Várzea, Recife, possui dez espaços de atrações: Os Comediantes, Templo Central, Salão de Esculturas, Anfiteatro, Praça Burle Marx, Accademia, Auditório Heitor Villa-Lobos, Templo do Sacrifício, Estádio e loja-Café. Sem contar uma capela pós-hodierna, do lado de fora do complexo principal. Percebeu o estilo da arte? Mítico e simbólico até o DNA.
Arthur Filipe, estagiário da SETUR e aluno de Turismo da UFPE, foi meu anfitrião no passeio. Ainda bem que ele gosta de arte, pois aguentou três horas enquanto eu tirava mais de 200 fotos na Oficina.
O símbolo da Oficina Brennand, feito azulejos decorados. F. Brennand também produz e vende cerâmica para fins comerciais. São lindas, exclusivas ... e caras.
Esses muros esculpidos em detalhes, levantam colunas contra o céu tropical deste país tão rico em idéias coloridas e articuladas em formas geométricas fantásticas.
Curvas e esferas. Dádivas nadegais que se deixam aquecer ao sol e se refrescar nas águas frescas dos temporais.
Formas inquietantes (para quem?) em planos pseudo-geométricos largados ao tempo, ao sol e às estrelas.
Casulos? ovos? Cápsulas? Veja se isso não se parece com as formas alienígenas de H. R. Giger, o criador do Alien?
E esses portais arquetípicos, por acaso não lembram o universo de H.P. Lovecraft? Só a "Mãe Terra" nos diz que vieram das regiões telúricas, para nos sossegar nos sonhos.
Ariano Suassuna, amigo de F. Brennand, está em seus domínios, com um texto propício e igualmente simbólico. Este é o país real de Suassuna, encontrado no imaginário de um viajante das sombras e luzes das artes.
As águas ladeiam as rochas e submetem suas raízes pétreas à pureza das imagens refletidas nos espelhos da mente.
Conrad escreveu essas frase no romance In the hearth of darkness. Francis Coppola usou-as na boca de Marlon Brando em Apocalipse Now. Francisco Brennand a possui em seu parque de experiências subliminares.
Entre rosáceas e mandalas, totens e falta de tabus, a obra de Brennand fez da antiga olaria um lugar de refletir sobre ...
Termino com um poema de Carlos Pena Filho, dedicado a F. Brennand (hoje com quase 82 anos) e exposto na Accademia:
A solidão e sua porta
Quando mais nada resistir que valha
a pena viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sózinho na batalha
A arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório
lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no ocaso e amar o transitório.
3 comentários:
adorei tudo.....
bjs
Luiz , as fotos são realmente um primor.
Locais inspiradores, berço de cultura, simplicidade e beleza.
Uma viagem inesquecível !
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