sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Melting down na economia - Black friday

As más notícias começaram na madrugada brasileira com as quedas brutais das bolsas asiáticas (entre 4% e 10%). Pela manhã foi a queda das bolsas européias e norte-americanas O índice Bovespa chegou a -10,19% às 10h35 e parou por meia hora. Foi a terceira vez que isso aconteceu em menos de uma semana. A bolsa de Moscou nem abriu. As notícias se precipitam em um jorro de fatos inéditos: seguradoras quebram na Europa; bancos quebraram nos EUA; a General Motors e a Ford tem quedas expressivas em suas ações; o sistema bancário da Islândia quebra levando investimentos de países europeus para buraco; agências de risco desacreditadas em suas avaliações; falta de confiança; mercado em pânico; pessimismo. E o FMI avisou que a crise ainda não acabou.

2009 será um ano de desaceleração na economia mundial. A crise chegou ao Brasil com a falta de crédito, queda das bolsas, aumento do dólar. Tenho um tio de 95 anos, lúcido como uma raposa, que trabalhou no Banco do Brasil e no Banco Central. Já viu muita coisa em sua vida. Suas palavras sobre a crise foram: é um período de indecisões, de expectativas, de receios perante o futuro.


A situação ficou sombria em semanas. É um cenário de ficção científica. No passado li relatórios sobre uma eventual quebra sistêmica do sistema financeiro internacional. Não é o caso, mas a sucessão de quedas nas bolsas é inédita, depois de 1929. Esta crise é diferente porque acontece em um mundo globalizado com as informações cobrindo o planeta em tempo real, interrompidas apenas pelos fusos horários e o movimento de rotação do planeta que alterna dias e noites. Mas a crise funciona 24 horas, juntamente com o sistema financeiro internacional. As sociedades pós-industriais estão interligadas pelos novos meios de telecomunicações desenvolvidos nás últimas décadas. E os países, empresas e pessoas funcionam na base da confiança.

E aí reside o problema. A confiança foi quebrada. Por quem? Analistas de crédito gananciosos. Consumidores iludidos pela alta dos preços dos imóveis nos Estados Unidos, o que gerou hipotecas e dívidas em escalas acima do recomendado pelo bom senso. Agências de controle lenientes, cúmplices de uma especulação absurda. Bancos irresponsáveis. Uma corrente que se transformou num círculo vicioso terrível. Subprime significa crédito para pessoas com pouca capacidade de pagamento. O sub da palavra é o mesmo que em português: abaixo da capacidade. A lógica perversa dos ganhos a qualquer preço encontrou ambiente favorável no contexto político perverso do governo Bush. Esta é mais uma crise cíclica do capitalismo, agora monopolista e financeiro, globalizado e interligado eletronicamente. On time. Just in time. "Welcome to the desert of the real".

O futuro? O sistema não quebrará totalmente mas centenas de bilhões de dólares se evaporaram e outros derreterão em uma crise que envolve quanto? 40, 50 trilhões de dólares? Não dá para prever. Estamos no meio à crise. Pânico é o que se vê nas TVs e se lê nas telas de computador. Esse frio na barriga é uma queda e ainda não dá para ver o fundo. O ponto de inflexão demora a aparecer. Fique frio. Fique ligado.

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