sábado, 1 de maio de 2010

Legionários de Cristo - uma vergonha religiosa

Encaminho uma coluna digital sobre o mais vergonhoso escândalo da Igreja Católica, precisamente de uma de suas alas mais conservadoras e moralistas: Os Legionários de Cristo. Quanto mais puritanas e rigorosas, em geral mais corruptas e depravadas são as pessoas que renegam a liberdade e o prazer. São essas quedas de máscaras dos hipócritas que me dão a certeza da existência de Deus...



A Legião espera um novo superior geral. E treme.

Um comissário apontado pelo Vaticano tomará o comando dos Legionários de Cristo, órfãos de seu fundador Marcial Maciel, envolto em escândalos. É o desfecho previsível de oito meses de averiguações. Muitas coisas deverão mudar, inclusive os atuais chefes.

por Sandro Magister – www.chiesa

ROMA, 16 de março de 2010 – Em plena tempestade que sacode a Igreja Católica por conta dos abusos sexuais contra menores perpetrados por sacerdotes, encerrou-se a visitação apostólica ordenada pela Santa Sé aos Legionários de Cristo, a congregação fundada por Marcial Maciel.

O caso Maciel é extremo em tudo. Leva a limites exasperantes o contraste entre a imagem e a realidade; entre a imagem beatífica do sacerdote fundador de uma congregação religiosa ultra-ortodoxa, ascética, devota, florescente de vocações também exemplares, e a realidade de uma segunda vida dissoluta, composta de incessantes violações não apenas dos votos, mas dos mandamentos, de contínuas aventuras pecaminosas com mulheres, homens e meninos de toda idade e condição, com filhos e cônjuges espalhados por todo o mundo, em número até agora impreciso.

Uma segunda vida que também no momento de sua morte apareceu em brilho sulfúreo. Relatos mórbidos vazaram sobre os últimos dias de Maciel em Houston, no fim de janeiro do ano de 2008, antes de seu sepultamento em Cotija, sua cidade natal, no México.

A visitação apostólica começou em 15 de julho de 2009. Os cinco bispos visitantes concluíram seu mandato em meados deste mês de março, com a entrega de seu relatório às autoridades vaticanas.

Serão as autoridades vaticanas que decidirão o que fazer. Os três cardeais encarregados do caso são Tarcisio Bertone, Secretário de Estado, William J. Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e Franc Rode, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada.

Mas a última palavra será pronunciada de toda maneira por Bento XVI, o mais clarividente de todos. Já antes de ser elevado ao papado e quando Maciel ainda tinha protetores fortíssimos no Vaticano, Joseph Ratzinger fez investigar a fundo as acusações contra o fundador dos Legionários. E como Papa, em 19 de maio de 2006, o condenou “a uma vida reservada de oração e de penitência”.

Depois desta condenação, a congregação dos Legionários se submeteu à ordem papal. Mas seguiu prestando veneração ao próprio “pai” fundador, como “vítima inocente” de falsas acusações.

Só após a morte e ao aflorar de outros escândalos a admissão de algumas culpas do fundador encontrou espaço entre os dirigentes da Congregação, mas não de modo a induzi-los a desmentir a bondade de sua obra.

Ainda hoje, depois de oito meses da visitação apostólica, o sucessor de Maciel como superior geral da congregação, Dom Álvaro Corcuera, e o vigário geral Luis Garza Medina – que durante décadas foram também, especialmente o segundo, colaboradores muito próximos do fundador – não manifestam nenhuma intenção de deixar o comando. E assim outros dirigentes médio-altos, centrais e periféricos.

Sua linha de defesa é que sempre lhes fora ocultado a segunda vida de Maciel e que sua fidelidade à Igreja e ao Papa, mais que sua experiência de guia, assegurariam da melhor maneira a continuidade da congregação.

Em 5 de fevereiro passado, no “L’Osservatore Romano”, o padre Luiz Garza Medina publicou inabalável um artigo para descrever como deveria ser a “vida virtuosa” do sacerdote ideal. Ele, que viveu ao lado de Maciel mais que ninguém, conhecendo todos os segredos e administrando o dinheiro, e que o exaltou sempre como modelo.

Mas é totalmente inverossímil que os atuais líderes dos Legionários sejam deixados na direção da Congregação pelas autoridades vaticanas. A decisão mais provável é que a Santa Sé nomeie um comissário próprio, dotado de plenos poderes, e fixe as linhas-guias para uma refundação completa, incluída a substituição dos atuais dirigentes.

Mas será uma empresa árdua refundar desde a cabeça uma Congregação na qual o estigma do indigno fundador é, até agora, fortíssimo.

Sacerdotes e seminaristas que até ontem foram embebidos nos escritos atribuídos a Maciel terão dificuldade para encontrar novas fontes inspiradoras, não genéricas, mas específicas para sua ordem. Tampouco ajudam os atuais líderes da Congregação. Ainda mais, um ex-secretário pessoal de Maciel, o padre Felipe Castro, junto de outros sacerdotes da Legião, trabalhou durante estes meses selecionando entre as numerosissímas cartas do fundador um grupo delas para “salvá-las” para o futuro, e assim ter viva uma imagem positiva de Maciel.

A dependência dos Legionários para com Maciel era – e para muitos ainda é – total. Não havia rincão da vida cotidiana que escapasse às regras ditadas por ele. Regras minuciosas até o inverossímil, que ordenavam, por exemplo, como sentar-se à mesa, como usar o guardanapo, como ingerir alimentos, como comer o frango sem usar as mãos, como tirar as espinhas de um peixe.

Mas isso não era nada diante do controle exercido sobre as consciências. O manual para o exame de consciência ao fim de um dia era de 332 páginas, com milhares de exigências.

E depois estavam – e estão – os estatutos próprios e autênticos. Muito mais amplos e detalhados que os entregues aos bispos das dioceses nas quais os Legionários têm suas casas. Os cinco visitadores tiveram que se esforçar muito para obter os estatutos completos.

Dos estatutos surge que, além dos três votos clássicos das ordens religiosas (pobreza, castidade e obediência), os Legionários professavam outros dois votos – mais um terceiro chamado “de fidelidade e caridade” para os membros seletos da Congregação – que proibiam qualquer tipo de crítica e ao mesmo tempo obrigavam ante os superiores os confrades que tivessem sido vistos violando a proibição.

Estes votos acrescidos tinham sido abolidos em 2007 por ordem da Santa Sé. Mas não consta que esta revogação tenha sido notificada ao corpo dos Legionários.

Na Congregação fundada por Maciel, não são sempre perceptíveis os limites entre o espírito de obediência e o espírito de submissão.

Entre os Legionários, a concorrência encorajada pelas regras é entre os que conseguem fazer mais prosélitos. E o noviço ingressa imediatamente numa maquinaria coletiva que absorve completamente sua individualidade. Tudo está controlado e regulado meticulosamente, dentro de uma selva de limitações: desde o correio pessoal até as leituras, desde as visitas até as viagens.

Nos oito meses que durou a visitação apostólica este controle foi relaxado somente em parte. Alguns sacerdotes denunciaram aos visitadores as coisas que consideravam errôneas. Outros abandonaram a Congregação e se incardinaram no clero diocesano. Por último, outros ainda têm confiança no renascimento sobre novas bases de uma Congregação religiosa que é parte de suas vidas e aquela que continuam amando.

Escrito por G. M. Ferretti

março 16, 2010 em 11:04 am

3 comentários:

Mari Aldrigui disse...

Sem dúvida, uma vergonha religiosa, entre tantas outras que a ortodoxia acaba por estimular.

Acho que é por isso que é melhor manter-se no chamado self service espiritual...um pouco de cada uma, no que elas oferecem de bom. :-)

R. Sena disse...

É... nem tudo é perfeito... alguns tem vocação e outros não... não defendo a igreja desses abusos, quem sou eu, mera estudante, porém, a igreja é feita de seres humanos como nós, que estão sujeitos a errar, e que como nós também devem ser punidos de acordo com os seus preceitos... o fato de criticarmos tanto a igreja é que achamos que é inabalável e perfeita... (pensamento equivocado)... se persarmos bem também nos achamos perfeitos no que fazemos, o atendimento público é um exemplo do que falo, pois eles acham que estão fazendo um trabalho ótimo, quando na verdade, nós sabemos o nível de serviço prestado por eles. Mesmo assim não mudo a minha opinião nem minha preferência pelo catolicismo romano, não ortodoxo, com todo respeito acredito que ter religião é aceitar qualidades e defeitos e não buscar um pedaço de cada uma, seria como tentar encontrar a pessoa perfeita que não existe. De forma alguma desmerecendo a opinião acima, pelo contrário respeito muito, mas opinião é diversificada.

Unknown disse...

Seguinte. Eu era um seminarista legionário. Simplesmente digo que la aprendi tudo de bom na vida, coisas que meus pais não me ensinaram de fé aprendi com os legionários.. Por mim seguiria o caminho religioso, mas Deus não me concedeu essa graça.

A você que fez esta pesquisa. Deus age como deve e não da satisfações a uns desmoralizados de uns jornalistas que para ganhar a matéria do dia postam mil e uma coisas na internet...
Acredito que o verdadeiro deve ser mostrado como foi visto e não inventado..
BY: Gustavo Dal Piva ªLC