Para mim, o dia 11 de setembro de 2011 começou bem cedo. Depois de voar a noite toda, vindo de Roma, pousei às cinco da manhã no aeroporto de Guarulhos, a bordo de um 767 da Varig. Estive no congresso da AIEST (Associação Internacional de Especialistas Científicos do Turismo), em Malta, e depois passei uns dias em Taormina, na Sicília. Um primo de Campinas, o Celso, estava em férias e nos encontramos na Itália, programados para regressar juntos ao Brasil.
Foram dias agradáveis, curtindo o suave outono mediterrâneo, tão parecido com o outono ensolarado de Nova Iorque. Ainda na viagem soube do seqüestro da filha do Silvio Santos e me admirei com a ousadia dos bandidos.
Quando chegamos em Guarulhos o Celso pegou um ônibus para Campinas e eu fui de táxi, para meu apartamento em São Paulo. Logo que me sentei comentei com o motorista sobre a violência no país com o sequestro e tudo. O motorista me disse que isso não era nada e que na noite anterior mataram o prefeito de Campinas. Isso muito me espantou, pois conhecia o Toninho, era colega docente da PUC-Campinas e trabalhamos juntos na gestão municipal da cidade, entre 1989 e 1992. Ele era o vice-prefeito e Secretário de Obras, até brigar com o prefeito Jacó Bittar e se retirar da administração. Cheguei em casa e fui correndo tomar banho e desarrumar as malas. Queria chegar o quanto antes ao trabalho e saber as notícias telefonando aos amigos de Campinas. Naqueles dias eu era o diretor de turismo e hotelaria do Senac São Paulo, trabalhando na avenida Francisco Matarazzo, em Perdizes e dava aulas na PUC-Campinas.
Antes de sair parei na portaria do edifício para buscar a correspondência. Enquanto selecionava as cartas ouvi pelo rádio do zelador uma notícia confirmando a colisão de um jato comercial com uma das torres do World Trade Center, em Nova Iorque. Achei aquilo muito estranho, peguei o carro e fui para o Senac. Encontrei minha mesa repleta de papéis, pois ficara fora duas semanas. Pedi para minha secretária procurar notícias sobre um acidente aéreo em Nova Iorque enquanto ligava o computador, fazia uns telefonemas urgentes e começava a despachar a papelada. Então a secretária trouxe uma folha impressa onde dizia que um outro avião se chocara contra a torre sul do WTC. A Internet estava muito lenta, mas quando consegui acessar a torre sul tinha caído. Tentei ligar a TV na sala ao lado mas o sinal estava péssimo. Esqueci o Toninho, os telefonemas do trabalho e fiquei ligado na Internet. Quando a segunda torre caiu telefonei para o Grande Hotel São Pedro e, tocado por uma paranóia hollywoodiana, falei com o gerente geral para reforçar a segurança no complexo como se aquilo fosse um alvo estratégico. Então liguei para meus chefes na diretoria regional do Senac. Estavam em frente à TV, assim como bilhões de pessoas, vendo espantados a história mudar ante nossos olhos. Fui para a sala dos professores e dei a notícia aos que por lá estavam. Peguei o carro e fui para casa assistir a TV. Eu conhecia o World Trade Center, tinha subido numa das torres, aquela com um mirante para visitantes, lá no topo. Uma vez passeei de helicóptero por Nova Iorque e o roteiro passava ao lado do WTC. Era estranho ver o colapso daquelas torres tão retas e sem graça arquitetônica, mas que eram os símbolos do poderio econômico norte-americano, como o Pentágono era o símbolo do poderio militar.
Voltei à tarde para o Senac e lá fiquei quieto, entre o despacho automático dos papéis que me esperavam, os telefonemas para os amigos e a busca de notícias pela Internet, ainda lenta pela quantidade de acessos. Pensei nas minhas futuras aulas sobre cenários políticos, em como a imprensa e as pessoas já começavam a interpretar o evento, a ouvir os primeiros comentários ressentidos de anti-americanismo. Percebia-se a mudança pela atitude e discursos das pessoas. Nos próximos dias daria duas palestras sobre turismo e naqueles momentos não sabia exatamente como re-estruturar minha fala e as idéias.
À tarde liguei para eu primo e falei com os outros parentes de Campinas. Comentei com ele que enquanto voávamos num 767, um equipamento idêntico aos usados nos atentados, no continente ao norte os terroristas se preparavam para sua investida.
À noite assisti a todos os telejornais. Dormi cansado e pensativo. Não lembro dos sonhos. Lembro quase nada do dia 12 de setembro.
Um comentário:
Lembro de ter encontrado você na ABAV en Brasilia
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