segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um churrasco de cinquentões refestelados

Tenho um grupo de amigos antigos (jurássicos mesmo, inclusive eu), pois nos conhecemos desde os 16 ou 17 anos de idade, antes da gente entrar na universidade. Isso significa que somos amigos a uns 35 anos, pelo menos, pois todo mundo está com 51 ou 52 anos de idade. De uns anos para cá a gente se reúne, a cada semestre, em média, na casa de campo do Marcos, que possui um espaço confortável para a gente relaxar e curtir. Nesse post resolvemos mostrar para os mais jovens como é um churrasco típico da nossa meia idade.


Cada geração tem sua própria perturbação. A nossa foi a guerra fria, a ditadura militar (1964-1985), o início da informática de massa, o surgimento da AIDS, o colapso do socialismo, a fragmentação pós-industrial e os trabalhos esquizóides aos quais todos nos submetemos. Nos conhecemos nas comunidades de jovens da Igreja Católica e ali solidificamos a amizade. Depois cursamos a universidade, fomos batalhar, namorar, alguns constituíram famílias e todo mundo fez e faz sua história, mas sempre mantivemos contato. Eventualmente precisamos relaxar em um ambiente propício e junto às nossas raízes arcaicas.


Marcos e Cláudia são o casal que nos recebe, sempre de ótimo humor e com uma hospitalidade (e paciência) exemplares. A casa de campo deles fica em algum lugar entre Sorocaba e Itu, interior de São Paulo mas perto de Campinas e da capital onde a maioria reside


O Luiz, em geral, leva as carnes e outros iguarias dietéticas e saudáveis. Junto com o Marcos eles preparam o churrasco propriamente dito enquanto a gente bebe, dá palpite, discute, fala bobagens e frases de efeito moral (ou imoral, ou amoral ou...).


Sempre há crianças que não são nossos filhos (são sobrinhos, primos...), pois esses estão com 16 ou 17 anos (para mais) e não suportam ficar direto junto da gente, pois pode ser que a gente não se comporte muito adequadamente. 


Os pais do casal sempre estão presentes e formam uma confraria de respeitabilidade que nos segura nos momentos de desespero e mergulho nas delícias de Baco.


É uma refeição compartilhada com gosto e bom humor ...


... regada a boa cerveja, porcaritos, carnes e até alguns vegetais (poucos, que a gente não é tão degenerado assim).  Dessa vez o Geraldo não foi, mas ele é nosso enólogo militante e sempre leva garrafas escolhidas a dedo que a gente bebe antes ou depois das cervejas.


As novas gerações que interagem conosco são um frescor para nossos paradigmas espaço-temporais.


E temos nós, o grupo. Aqui estão Marcos, Laderlei, Luiz e eu. Faltaram uns três dos membros titulares da corja (o Douglas aparece logo adiante) que sempre comparece nos eventos.


As conversas vão de política a sexo, de religião a drogas, de sociedade e cultura (de todo tipo), de alfa a ômega, de abobrinha a hermenêutica.


A gente se preocupa tanto com o conteúdo de nossas falas... Aqui Celi e Laderlei se refestelam em sua cumplicidade conjugal.


Temos nossas frescuras, suscetibilidades, neuroses e idiossincrasias. Essa cerveja, por exemplo (Medieval, brasileira), deve ter a tampa esquentada para derreter seu lacre que se liquefaz, como sangue vertido das chamas.


Luiz, Douglas e Marcelo comentam suas angústias e ansiedades.



A Solange é a auxiliar da casa e sempre faz algo especial. Dessa vez foi essa farofa úmida, densa e muito saborosa. Uma vez ela fez paella, um ensaio gastronômico épico.


E teve UMA saladinha, que é para não dizer que comemos o verde da esperança.


Assim passamos o domingo em meio aos casos, as querelas, os discursos jogados de forma franca e despreocupada, típicos dos companheiros que se conhecem dos tempos em que a amizade era uma forma de prazer gratuito e descompromissado. Não falamos muito do passado, não somos saudosistas; não pensamos no futuro, pois ele a Deus pertence. Vivemos o quinhão de nossos dias sobre a Terra curtindo os momentos, pois sabemos que 50 anos passam rápido como os sonhos (dos sonos ou das vigílias) curtidos ao longo de nossas vidas.


O mais importante não são as bebidas, mas os bebedores.


A corja que atingiu os cinquenta anos de idade está de bem com a vida (apesar dos problemas) e pensa que os primeiros dos últimos anos a seguir serão simplesmente os melhores. Até o último gole; até a última risada.

Um comentário:

sopc_fde disse...

Grande Trigo!
Li na integra (caso raro nesta idade avançada) e quero parabenizar tanto sua descrição quanto discrição, de nossas vidas e de nosso encontro.
Legal ter assim documentado para que possamos dividir com outros (novos ou velhos, afinal, muitos tem este problema...) o que seja uma verdadeira amizade.
Legal e t+