sábado, 5 de dezembro de 2015

Como se comportar nas festas de fim de ano

Texto: Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Texto originalmente publicado no site Hotelier News. 
Versão atualizada e ampliada, 2015.



Final de ano é época de churrascos, festinhas, comemorações, coquetéis e almoços ou jantares para comemorar a passagem simbólica de mais um ano e do Natal. Quando a festa reúne colegas de trabalho, isso significa que alguns cuidados devem ser tomados para que você não pague micos ou seja o bobo da corte. Ou pior, seja demitido logo depois da farra ou comprometa sua carreira. Festa corporativas ou institucionais não tem nada a ver com festas familiares ou da universidade (quando se é estudante), onde a gente põe o pé na jaca e não se preocupa com as consequencias. 

Para evitar vexames e constrangimentos no mundo do trabalho, aqui está o Guia básico Luiz Trigo para Festas Corporativas, um texto prático, exemplificado e comentado, para que você sobreviva às festas de final de ano e não fique com ressaca moral pós esbórnia. Sei o que escrevo porque nem sempre cumpri todas as regras, mas sobrevivi aos percalços e soube onde amarrar minha capivara comportamental. Por via das dúvidas, leia e se cuide.

  1. Bebida

Cair de boca em tudo que é líquido alcoólico é pavimentar o caminho para o desastre. O álcool nos deixa relaxados, informais, melancólicos, agressivos, desbocados e inconvenientes, não exatamente nessa ordem. Beba sem moderação só em casa ou com seus amigos íntimos e nunca com colegas de trabalho, porque seus chefes - e aquelas pessoas que te detestam - estarão na festa esperando você pisar no tomate para te espinafrar. Não misture bebidas, não beba demais, não cuspa no chão e nem pense em usar drogas no banheiro ou no terraço. Em todo caso, lembre-se de que moral de bêbado não tem dono.

  1. Roupas
 (Zardoz, 1974. Filme de ficção científica)

Sempre discretas, decentes e de qualidade. Se a festa for na piscina ou na praia, nada de sungas ou biquinis sumários. Se for algo informal, use tênis, jeans (ou bermudas) e camiseta. Para a noite ou em almoços mais formais, um blazer sempre dá um ar cerimonial. Evite gravata, a não ser que todo mundo use, o que é raro. Discrição e elegância jogam juntas, mas com bom humor e bom senso muita coisa é permitida. Higiene pessoal é obrigação básica. Enfim, pondere se o contexto cultural da festa permite certas liberalidades ou não.

  1. A língua

Não fale mal da festa ou das pessoas que lá estão. Evidentemente essa é a parte mais divertida e sempre há muita gente que se expõe para ser ridicularizada ou achincalhada, mas ali não é o local adequado. Quando muito, comente com seus asseclas mais íntimos, lembrando que numa briga futura tudo pode ser usado contra você. Seja agradável, social, educado(a) e ouça mais do que fale, pois qualquer pessoa parece inteligente quando fica de boca fechada. Pode fazer comentários espirituosos ou contar casos interessantes, mas sem monopolizar a conversa ou querer se mostrar além do que é razoável e isso é difícil de delimitar, especialmente depois de beber. Nada de polemizar, discutir, fazer propaganda política ou religiosa, ainda mais nesses tempos obscuros e plenos de ódio. Também não é OK enaltecer seu time, fazer autoelogios, mostrar fotos de suas crianças ou das cicatrizes de acidentes ou cirurgias. Outra coisa, nada de propor o “jogo da verdade” com seus amiguinhos, pois sempre tem um(a) tonto(a) que não sabe quando parar de falar besteira sobre si mesmo e os outros, inclusive de você. .


  1. Onde se posicionar?

Circulando, fazendo networking, mudando de grupos e pessoas. Não fique na sua panelinha, dando carão aos outros, você não está numa balada. Não fique na frente de portas, escadas ou passagens atrapalhando o trânsito dos garçons ou dos convidados. Tenha certeza de que as pessoas que importam te viram na festa e cumprimente-os com sobriedade e polidez. Não grude em gente que não te quer por perto, a menos que você queira propositalmente irritar a criatura ou delimitar seu espaço profissional, mas não abuse desse artifício, pois festa é para se divertir e não para aporrinhar os outros.

  1. Como tratar as pessoas
 

Sem intimidades ou atrevimentos, sem gritar ou chamar a atenção para alguém ou um grupo. Fique na sua. Seus colegas não são seus amigos íntimos (muito menos seus chefes) e não é porque você tomou um vinho com algum superior(a) que será convidará para a casa da criatura. Não fale palavrões fora do padrão médio do público onde você está. Não faça fofocas, intrigas, fuxicos ou conte piadas (muito) politicamente incorretas, você não sabe quem está ao seu lado ou qual a preferência sexual ou alimentar dos colegas. Se for apresentado a alguém mais velho, trate de senhor/senhora a menos que a pessoa libere o tratamento mais informal.

  1. Flertar

Faça isso como os porco-espinhos fazem sexo: com cuidado, muito cuidado. Um olhar, uma gracinha de bom gosto ou um elogio espirituoso são passáveis. Agora, se perceber permissão para aproximação e gostou da oferta, converse, sorria, marque discretamente e saia para terminar a confraternização fora do ambiente profissional. Os outros não precisam saber com quem você dormiu depois da festa (ou durante, quem sabe). Atualmente o rótulo de galinha não pega bem, nem para homens, nem para mulheres. Se você trabalha num prostíbulo essa regra não se aplica, mas sempre há uma ética e etiqueta locais que precisam ser conhecidas e obedecidas em todos os lugares, até mesmo num lupanar.

  1. Tretas e badernas

 Quer coisa melhor que subir na mesa, no meio da festa, berrar o nome do seu chefe e fazer uma rima terminando com hu-huuuuuu!!!  Mas é uma péssima ideia. Se você seguiu a regra número 1 (não beber), estará provavelmente livre desses micos execráveis como cantar músicas em coro, abrir a camisa para mostrar os músculos (ou a gordura), fazer trenzinho dançando com os colegas, tirar os sapatos ou jogar comidinhas (cerejas, amendoim, ovos de codorna, azeitonas, caroços de azeitonas) nos outros. Para aqueles(as) que piram apenas respirando oxigênio, não esqueçam de tomar um gardenal antes do evento. O mesmo vale para certas brincadeiras e atividades recreativas. Bom humor é bom, mas grosseria e chatices são detestáveis. Não tire fotos ou filme as pessoas em posições constrangedoras para depois colocar nas redes sociais, as festas corporativas são privadas e não devem ser expostas indiscriminadamente ao público. Eu mesmo tenho algumas fotos indecentes de amigos(as) e morro de vontade de postar, mas enquanto  estiver lúcido não o farei.

  1. Dançar
 

Sempre é bom e saudável, mas sem fazer coisas como a dança da garrafa, ser mais grotesco ou vulgar que a mídia, encostar nas pessoas, passar a mão boba, dar tapas ou jogar os outros no chão. Faça isso na sua casa, nunca numa festa da empresa ou da instituição.

  1. Comida

Pode comer à vontade e repetir (discretamente) quantas vezes quiser, mas nada de encher o prato ou falar de boca cheia. Se for uma dessas festas onde há comida para usar garfo e faca e não tiver onde sentar, procure algo que possa cortar com o garfo e mesmo assim você não terá uma terceira mão para segurar o copo. Nada de arrotar, fazer barulhos com a boca, palitar os dentes ou limpar os lábios na manga da sua camisa (muito menos nas dos outros). Não fale mal da comida; não elogie demais, pois você não é carente; não se espante com entradas ou pratos exóticos, pois isso passa a imagem de jeca ou desinformado; se for alérgico a algo, identifique o perigo antes de por na boca, será horrível ter um choque anafilático no meio da farra; não cheire as coisas antes de comer; não pegue algo, olhe com cara de nojo e coloque de volta. Se não gostou da gororoba, deixe no prato e depois jogue discretamente em algum lixo. Outra coisa, não pegue comida do prato dos outros, a menos que seja alguém muito íntimo, mas mesmo assim é uma ação dúbia.


  1. Lembrancinhas

Nada de levar como recordação vasinhos de flores, bexigas, garrafas de bebidas, comida, copos, candelabros ou peças de roupas dos outros. Se derem um prêmio, ganhar algo no sorteio, entregarem uma lembrança para você levar, tudo bem, senão saia de mãos abanando. Passar por jeca ou miserável é a pior coisa que pode acontecer a um profissional.


  1. Regra de ouro


Última regra. 

Se nada disso funcionar, pelo menos lembre do 11º Mandamento: não serás pego em flagrante.

Boas festas de final de ano e não faça nada que eu não faria.


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