Há diferença entre isolamento obrigatório (sistema prisional, prisão domiciliar, quarentenas compulsórias, estado de sítio, ou por razões de guerras ou terrorismo) e o isolamento caracterísrico de algumas profissões como tripulantes de submarinos, navios cargueiros, plataformas de petróleo, bases na Antárctica ou outros lugares ermos, estação espacial etc. No segundo caso, essas tripulações são selecionadas, qualificadas e monitoradas por complexos sistemas de gestão e controle, além de lá estarem voluntariamente, seja por motivação profissional, financeira ou ideológica.
Neste caso do Covid-19 estamos em uma situação inédita e com suas fronteiras de ameaças desconhecidas devido aos acontecimentos tão recentes. Esse isolamento é uma novidade para a grande maioria da população, estamos aprendendo juntos como agir nesses casos emergenciais .
A doença é bem recente, foi identificada pela primeira vez em Wuhan, China, no início de dezembro de 2019 e reportada oficialmente em 31 de dezembro. A expansão pelo mundo foi rápida, graças ao sistema internacional de transporte aéreo comercial. No dia 25 de fevereiro apareceu o primeiro caso no Brasil; em 13 de março a pandemia chegou aos cem casos; em 17 de março houve a primeira morte e hoje são 1.891 casos e 35 mortos em nosso país. Os primeiros casos foram trazidos por pessoas que estiveram na Europa, América do Norte ou Ásia. O avião presidencial brasileiro, por exemplo, voltou dos Estados Unidos no início de março com 24 pessoas contaminadas. Dias depois a doença já era disseminada por pessoas que nunca estiveram no exterior, porém foi o sistema aéreo internacional que se encarregou da distribuição global do vírus, as usual.
A comitiva presidencial contaminada à bordo do Força Aérea 1
Em 1998, Tom Clancy publicou o livro Rainbow 6 (que virou um game), sobre um grupo de eco-terroristas que planejam dizimar a raça humana para preservar o planeta da poluição e devastação. Manipulam genéticamente o vírus Ébola e planejam borrifá-lo no encerramento da olimpíada de Sidney, através dos condutos de ar-condicionado e refrigeração líquida aspergida no estádio. A lógica era que essas milhares de pessoas pegariam aviões para seus países e em cerca de 24 horas a maior parte do planeta estaria contaminada. O ambiente de aviões e navios, com seus sistemas de ar-condicionado e áreas completamente fechadas, favorece a disseminação de vírus.
The game
The book
Em julho de 2018, estive no navio Rotterdam, da Holland America, no Atlantico Norte, cruzando de Boston até Rotterdam, passando pelo Canadá, Groenlândia, Islândia e Noruega. Viajei com um amigo que é médico epidemiologista, especializado em modelos estatísticos. Tivemos um surto de norovírus a bordo, uma doença tão específica de ambientes fecjados, como navios de cruzeiros, que nem meu amigo conhecia. Na época nada comentei nas redes sociais sobre a pandemia à bordo para evitar sensacionalismo desnecessário, mas estudos recentes sugerem que esses grandes barcos podem ser como "placas de Petri" (criadores de microorganismos para pesquisas em laboratórios) se a higiene não for rigorosa e permanente. O problema são ... os passageiros. Várias pessoas não obedecem às regras de higiene (lavar as mãos depois de ir ao banheiro e antes das refeições, algo simples) por vários motivos: são estúpidas, não acreditam na possibilidade desses surtos; são porcas, não estão acostumadas a uma higiene caprichada; possuem transtornos mentais devido a doenças ou idade e não conseguem entender os procedimentos básicos de limpeza; outros são canalhas mesmo e não sabem viver em comunidade. Em alguns raros casos, a própria companhia marítima é relapsa em questões sanitárias, por ganância ou má gestão. Por isso tudo é difícil garantir a completa segurança a bordo, haja vista a contaminação de Covid-19 no Diamond Princess que contaminou 712 passageiros, com 8 mortes em feveriro de 2020, nas costas do Japão. Outros navios tiveram casos a bordo e ficaram em quarentena por várias semanas. Hoje, os quase 300 navios de passageiros existentes estão parados pelos portos, aguardando o retorno das atividades após o final dessa pandemia, mas as empresas sabem que será uma retomada difícil e demorada.
Os bons tempos dos cruzeiros sofrem sua maior crise
Uma matéria da revista Forbes mostra o drama vivido à bordo e o que se aprendeu com essa trágica experiência.
E agora?
Quanto tempo ficaremos isolados? Ninguém sabe. Dependerá da evolução do surto da pandemia no Brasil. Na Europa os estragos são imensos especialmente na Itália, Espanha, Alemanha, França, Suiça, Reino Unido, Holanda e Áustria, países com maior número de casos, em ordem decrescente
Se você quiser saber a evolução da doença a cada instante visite esse site:
Aí estão os dados do Covid-19, globais e de cada país, permanentemente atualizados.
Na Europa e Estados Unidos a situação é extremamente delicada, com exceção da Alemanha que possui um número bem menor de mortos (123), contra mais de 6 mil mortos na Itália, 2.200 na Espanha e quase 900 na França. Na Ásia a situação está mais controlada, especialmente na China, país origem do surto, que teve o maior número de casos (81 mil) e 3.270 mortes, com decréscimo dos casos nos últimos dias que pode significar a superação da crise. A Coréia do Sul teve 9 mil casos e apenas 111 mortes. Os outros países asiáticos parecem ter maior controle sobre a crise devido às suas características políticas (são historicamente autoritários), à sua disciplina e organização social bem estruturada, pois já passaram por várias guerras e desastres naturais, têm consciencia de que a merda acontece (shit happens) e se preparadam para minorar e superar seus efeitos.
Leia esse texto escrito pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han e analise as características asiáticas que levam a um maior sucesso no combate ao vírus:
Quanto à África, pouco se fala sobre esse continente aqui no Brasil, mas os dados do site acima referido mostram que está em um processo inicial do surto.
No próximo post comentarei as análises sobre o tempo calculado que ficaremos em isolamento social ou quarentena. Já adianto que não há consenso entre os palpiteiros.
Ótimo isolamento para vocês e aproveitem para aprender algo interessante,. Aprendam especialmente com essa crise, pois ela mudará o mundo como o conhecemos hoje.
Luiz Gonzaga Godoi Trigo, 2020
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