domingo, 31 de outubro de 2010

Irmã Dulce - o anjo bom da Bahia entra no fluxo do turismo religioso



Minha amiga, profa. Mag Magnavita, gentilmente levou-me para conhecer parte da obra e do memorial de Irmã Dulce, em Salvador. Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes (irmã Dulce) nasceu em Salvador, no dia 26 de maio de 1914 e morreu em 13 de março de 1992 e dedicou sua vida a cuidar dos excluídos e explorados de sua região.


Várias obras de arte (quadros, esculturas, artesanato, murais), fotos, documentos, móveis, instrumentos musicais e diversos artefatos formam o memorial dedicado à história dessa freira que tanto incomodou parte da população baiana graças à sua dedicação e perseverança junto aos pobres. 



Seu corpo está em uma tumba circular, aberta à visitação pública ...


... mas seu trabalho e exemplo estão vivos por uma vasta área. Desde a igreja que faz parte do complexo ...


... até na fé das pessoas que se inspiram em seu exemplo de vida. Irmã Dulce dizia que não se deve falar tanto sobre caridade, mas fazê-la.


Era uma mulher de pouco mais de um metro e meio de tamanho mas de grande elevação moral e ascética.


O prof. Osvaldo Gouveia é o coordenador responsável pela gestão do complexo, inserido em uma teia organizacional que abrange o hospital, o memorial, a futura parte turística, a igreja e outras dependências.


Essa é uma das cozinhas dos hospitais. Segundo a wikipedia, "Entre os diversos estabelecimentos que ela Irmã Dulce fundou estão o Hospital Santo Antônio, capaz de atender setecentos pacientes e duzentos casos ambulatoriais; e o Centro Educacional Santo Antônio (CESA), instalado em Simões Filho, que abriga mais de trezentas crianças de 3 a 17 anos. No Centro, os jovens têm acesso a cursos profissionalizantes. Irmã Dulce fundou também o “Círculo Operário da Bahia”, que, além de escola de ofícios, proporcionava atividades culturais e recreativas."



Tudo isso começou com um simples barracão abandonado para abrigar mendigos. Chegou a receber a visita do Papa João Paulo II, quando esse esteve no Brasil, em virtude de seu trabalho com idosos, doentes, pobres, crianças e jovens carentes.


Toda uma estrutura hoje se distribui em dois grandes complexos e outras obras menores para garantir o serviço de saúde e social a milhares de pessoas.

Essa é parte do pequeno museu. O afresco é do italiano Battista Mombrini.


As maquetes das duas grandes obras de saúde e promoção social, localizadas em Salvador...


... e o detalhe do lugar onde estive, perto da Igreja do Bonfim. A parte da igreja e do memorial é a ponta da esquerda. Após a recente confirmação da beatificação de Irmã Dulce, o complexo prepara-se para receber fluxos de turistas e peregrinos cada vez maiores.


Irmã Dulce continua no imaginário popular, onde esteve desde quando era viva, representada não apenas pela iconografia oficial católica ou das artes plásticas formais, mas especialmente na arte popular que recria e renova permanentemente os santos, reconhecidos ou não, que lhes foram importantes.

sábado, 30 de outubro de 2010

Café com turismo na Bahia


Na sexta-feira, 29 de outubro, aconteceu o quinto Café com Turismo em Salvador, Bahia, promovido pelo Salvador Convention Bureau e Sebrae. Tive a honra de ser convidado como palestrante e voltei à terra da feliciade. O evento foi no hotel Pestana, onde estou com Lívia (esq.) do Sebrae BA e com Izabela, do hotel Pestana.


É um encontro matinal onde os convidados falam sobre algum tema e depois os participantes perguntam, comentam, discordam ou dão sugestões. 


Falei sobre inovação e turismo, comentando os desafios, oportunidades e novos cenários para nossa área e para o mundo em geral. Dei exemplos da Tailândia, Singapura, Malásia, Chile, do espaço (Virgin Galactic) e, claro, do Brasil. Os pontos fortes do debate foram as comissões para os agentes de viagens; a gestão do sistema aéreo nacional que ainda hoje, no Brasil é feita pelos militares, o que para mim é um atraso; o decréscimo dos cursos superiores de turismo no país; e a situação da Bahia perante o turismo nacional  e internacional.


O evento foi no hotel Pestana Bahia, antigo Meridien. A rede portuguesa fez uma série de reformas quando assumiu  o antigo prédio. O fato de ser uma torre coberta por mármore e vidro, em frente ao mar, exige um trabalho constante de limpeza e conservação devido à maresia. Os gradis de metal dos apartamentos foram trocados por madeira, os carpetes retirados dos apartamentos e as áreas comuns repaginadas, como o bar do lobby, acima.


O restaurante principal possui uma ilha com frios, quentes e sobremesas, ...


... uma ilha de pães e uma outra ilha com pratos quentes feitos na hora, na sexta-feira eram almôndegas. Um destaque para o ótimo atendimento humano que a rede Pestana propicia aos seus hóspedes e clientes.


O salão de refeições possui a vantagem competitiva cênica de estar pairando acima do mar ...


... em uma ponta rochosa cercada por um jardim de gramíneas, cactos e muita tranquilidade. 

O Pestana Bahia, Sebrae BA e Salvador Convention and Visitors Bureau proporcionaram um profícuo dia de debates e reflexões sobre turismo, hospitalidade e a importância da Bahia para o setor.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Juréia, SP - into the wilderness

No último final de semana migrei para um paraíso intocado e selvagem no sentido pleno que a palavra oferece. Fui para Peruíbe (litoral sul de São Paulo)  e de lá me enfiei na Juréia, um santuário ecológico protegido e belíssimo. A floresta Atlântica e o oceano Atlântico ali se encontram em meio a manguezais e rios sinuosos.


A floresta está sobre morros e planícies inundadas; encontra o mar em praias de areias finas ou paredões de pedra, o tipo de cenário que Freud adoraria para escrever sobre o sonho perdido dos paraísos terrestres. Fui nesse barquinho aí de cima, era o único meio de transporte na praia do Arpoador, com oitocentos metros de comprimento e zero de população. Chega-se ali através de uma trilha quilométrica ou pelos barcos dos pescadores nativos ...


... que zarpam do pequeno porto de Guaraú, uma vila a poucos quilômetros de Peruíbe. Em Guaráu há pousadas, restaurantes, lojinhas e o deque do Toshio, um japonês que aluga barcos para pesca ou passeios. 


Imagine uma praia onde não há pessoas berrando, músicas estridentes, buzinas de carros ou os ruídos de nossa civilização, apenas a brisa e as ondas do mar formam a trilha sonora local.


Nem sempre é assim no alto verão, mas certamente a capacidade de carga (ocupação humana) da Juréia, na temporada, fica dentro dos limites bem razoáveis.


Outro passeio legal é navegar pelo rio Una, que passa por Guaraú em seu caminho rumo ao mar.


O barquinho entra pelos mangues e permite uma visão privilegiada do santuário ecológico ...


... e a gente se sente voltando ao tempo em que o continente era quase desabitado. Nos séculos 14 ou 15 os cenários naturais eram os mesmos que vemos hoje, espero que continuem assim por muitos séculos. Para conseguir o barco é só falar com os locais. Leve protetor solar e repelente de insetos. Há passeios organizados por agências mas certifique-se do roteiro e dos preços. Paguei R$ 25,00 (por pessoa) para cada passeio que fiz (à praia deserta de Arpoador e pelo rio Una), no deque do Toshio (pergunte na vila de Guaraú que todo mundo o conhece).


Bromélias crescem imensas pelos galhos e troncos da vegetação arbórea. No lodo estão caranguejos, borboletas, insetos e cobras. Evidentemente você não entrará andando pelos manguezais, mantenha-se no barco e desça apenas onde os guias indicarem.

No caso de ir à barra do Una, onde o rio encontra o mar, a uns trinta quilômetros de Guaráu por uma estrada de terra, tome muito cuidado com a correnteza do rio. É muito forte e na vazante ela pode arrastar uma pessoa para o fundo do mar. Se for nadar informe-se com muito cuidado antes de cair n' água.


Logo ao sair de Peruíbe, na estrada para Guaraú, está uma lojinha empoleirada nas pedras, por entre a mata, chamada Chão de Pedra. É um desses lugarzinhos artesanais e encantadores que proliferam na Serra do Mar .


Seus criadores aproveitaram ao máximo o entorno ...


... para criar um entreposto artístico que une a cultura popular e mística à natureza.


Ali encontra-se colares, espelhos, vitrais, pedras energéticas (sic), vasos e ...


... muitas peças decorativas que formam um clima e um estilo peculiar à loja.


A Juréia paz parte de uma vasta região preservada no litoral sul de São Paulo e norte do Paraná. Do outro lado da Juréia, ao sul, está Iguape e Ilha Comprida e depois vem o Parque Nacional de Superagui, que abriga a ilha do Cardoso (SP), ilhas do Mel, das Peças e de Superagui (PR) e um mundo de rios, matas e mares internos altamente preservados. Mas isso é outra viagem, milhas e milhas ao sul de Peruíbe.  


Há vários lugares para se comer bem em Peruíbe. O melhor restaurante chama-se A Ponte, é muito bom, com ótimo serviço e preços elevados (mas que valem a pena). Um lugar típico é esse acima, também na estada para Guaraú, conhecido como Pau do Índio. É um pequeno restaurante que serve ostras e petiscos muito gostosos. As mesinhas ficam sob choupanas ou em deques debruçados sobre a mata, o lago de carpas ou a piscina natural. Lindo e delicioso, mas não esqueça o repelente, pois os borrachudos e outras criaturas locais se refestelam na área. O paraíso tem seus pequenos cuidados, mas é uma experiência memorável. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Francisco Brennand - o ateliê do inconsciente

Um dos lugares mais estranhos e belos do Brasil está nos arredores de Recife (PE), numa antiga fazenda transformada em ateliê, museu e espaço cultural.


O artífice desses recantos oníricos é Brennand. Com sua visão especial de mundo e técnicas de manipulação em cerâmica, compõe formas e cores, linhas e curvas, volumes e atrações únicas em sua expressão. 


Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu a 11 de junho de 1927,  na cidade do Recife,  Pernambuco.
Em novembro de 1971, o artista começou a reconstruir a velha Cerâmica São João da Várzea, fundada pelo seu pai em 1917. Esse conjunto, encontrado em ruínas, deu início a um colossal projeto de esculturas cerâmicas que deveriam povoar os espaços internos e externos do ambiente.



Oficina Brennand foi sendo instalada a partir de 1971 nas ruínas de uma olaria do início do século XX, como materialização de um projeto obstinado do artista Francisco Brennand.  Antiga fábrica de tijolos e telhas herdada de seu pai, instalada nas terras do Engenho Santos Cosme e Damião, no bairro histórico da Várzea, e cercada por remanescentes da Mata Atlântica e pelas águas do Rio Capibaribe, a Cerâmica São João tornou-se fonte inspiradora e depositária da história do artista pernambucano.


Lugar único no mundo, a Oficina Brennand constitui-se num conjunto arquitetônico monumental de grande originalidade, em constante processo de mutação, onde a obra se associa à arquitetura para dar forma a um universo abissal, dionisíaco, subterrâneo, obscuro, sexual e religioso.


Ali também se criam peças para serem vendidas por todo o país e pelo mundo.


São vasos, artefatos, pisos, ladrilhos para paredes e tudo o que se possa imaginar em cerâmica para uso funcional ou decorativo. São peças belas, estranhas, exclusivas e caras, magnificamente dispendiosas . 


Tudo remete ao mundo dos sonhos, dos mitos e dos desejos inconscientes reunidos ...


... em amálgamas culturais pontilhados de referências naturais. 


Antigos mitos quase lovecraftianos, formas que remetem a Gigger (criador de Alien), expressões simbólicas ou míticas dignas de Jung ou Eliade ...


... e citações bíblicas como os quatro evangelistas em frente à capela branca e despojada que enfeita a fazenda.


Mas é  paganismo primitivo que demarca as fronteiras do imaginário. 

Obs.: para ampliar e ver os detalhes clique nas fotos.


Gigantescos painéis mostram as fontes nas quais Brennand bebeu para fertilizar sua mente e fortalecer sua estética. Esse painel remete a Ariano Suassuna.


Esse, é uma homenagem a Gaia, a Mãe Terra.


Não podia faltar Jorge Luis Borges...


... ou a fluidez grega...


... ou ainda os temores de Conrad.


Só a poesia pode dar conta dessas obras magníficas, seja em português...


... ou em inglês.



A arte conversa com outras artes e saberes...


... em um fluxo que ninguém sabe onde pode terminar ou desaparecer.

Para saber mais: www.brennand.com.br