É hoje. Início de primavera e o lançamento de nosso novo livro Turismo de experiência (São Paulo: Senac, 2010). A organização é de Alexandre Panosso Netto (USP) e Cecília Gaeta (Senac), conta com vários autores e eu assino o primeiro capítulo, uma reflexão baseada na literatura e na filosofia (leia trecho abaixo).
Experimentar o mundo é percorrer desde o outro lado do planeta (como as baías do Vietnam, acima), até os cantos cheios de lembranças das nossas gavetas pouco utilizadas, como comentava Bachelard.
O lançamento será no meio do congresso da AMFORHT, cujo tema é justamente Turismo de experiência e formação profissional e a festa será nesses belos salões do Centro de Convenções do Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro (Av. Enhenheiro Eusébio Stevaux, 823, São Paulo).
Está tudo preparado e arrumado. Ontem foi a abertura do Fórum Mundial da AMFORHT ...
... com a conferência de Albert Boswijk, do Centro Europeu para a Economia da Experiência e a Transformação.
Vários nomes nacionais e internacionais estarão presentes, inclusive o filósofo Gilles Lipovetsky. Imperdível.
E agora, trechos do meu capítulo para você viajar na maionese...
Uma viagem é uma experiência e não apenas teorias ou abstrações sobre o caminhar. Ao longo das reflexões percebe-se que a viagem não diz respeito somente à trajetória para um lugar, mas de um caminho para si mesmo. Peregrinação, portanto, não é tão somente ir a um lugar distante ou exótico, a peregrinação busca o que está dentro de nós mesmos. A maior dificuldade das pessoas é reconhecer que a grande busca não é por algo insólito, diferente, nunca experimentado. As pessoas querem algo que já possuem, mas estão afastadas de si mesmas e não podem – ou não querem – ter acesso a aspectos importantes de suas vidas. Então viajam pelo mundo. Alguns encontram o que buscam, muitas vezes na volta; outros se perdem no caminho para nunca mais voltar. Quem pode dizer quem encontrou o que? Apenas o que busca e adquiriu consciência de sua própria busca, de suas perdas, suas faltas; de seus ganhos e acertos. A grande viagem é a vida, mas o planeta é tão vasto e o universo tão incognoscível...
Uma viagem especial exige pessoas e condições especiais. Isso não significa apenas poder econômico, mas fundamentalmente atitudes e posturas sociais, culturais, estéticas e políticas. A antropologia é uma das ciências essenciais para se desfrutar melhor uma viagem.
Procurei fazer uma análise do que entendo sobre viagens como experiências inesquecíveis, tomando por base minhas próprias experiências:
A primeira vez que atravessei a cordilheira dos Andes, na cabine de um Boeing 707 da Varig, em fevereiro de 1979;
O primeiro grupo que acompanhei (como guia) para os Estados Unidos, em julho de 1979;
A viagem à Antarctica, no navio Marco Pólo, em janeiro de 1999;
A volta ao mundo que fiz, também como guia pela Abreutur, em julho de 1980;
Um jantar especial em Marrakech, num congresso da AIEST, em 1998;
Quando vi o porão de carga do navio Funchal inundado em plena viagem de Mar Del Plata para Santos, em 1991 (conseguimos chegar ao porto em segurança);
Os campings que fazia com amigos na minha adolescência em Ilhabela (SP) ou na região de Itatiaia (MG/RJ);
A chegada e estada no mosteiro Simono Petras, em Monte Athos, na Grécia (1995);
Um almoço ou jantar à beira do Mediterrâneo, em um restaurante delicioso (Itália, Líbano, Barcelona...);
Um voo de helicóptero sobre Rio de Janeiro ou New York;
Uma noite de amor nas areias da praia de Acapulco...
O que essas experiências especiais possuem em comum? Elas são intensas e remetem ao ineditismo, às condições específicas e à própria subjetividade. Há pessoas que não gostam de voar ou de viajar e que jamais acampariam. Na viagem à Antarctica havia um outro brasileiro a bordo, embarcado em Buenos Aires, que deixou o navio na primeira escala nas ilhas Malvinas. Ele ficou com medo de atravessar o estreito de Drake, embarcou num voo para Londres e de lá para São Paulo, tudo às suas custas, pois teve medo de realizar o sonho de conhecer o continente mais inóspito do planeta.
Viagens em geral são, no sentido literal, experiências, porém ficam aquém do sentido e significado de uma experiência mais profunda no sentido épico, filosófico, epistemológico ou, especialmente, existencial. Há experiências medíocres, ordinárias e banais. Há serviços que são prestados e recebidos com absoluta frigidez, de forma mecânica e sem nenhum impacto em nossas vidas.
Nem todo serviço ou viagem são experiências que mereçam ser repetidas ou que marcam significativamente nossas vidas. A experiência tem a ver com emoção e com o prazer, não com o sentimentalismo e a acomodação estéril.