Às 11h03, o monstro de alumínio ordinário e de concreto mal acabado foi pelos ares...
Vai demorar uns três meses para tirar o entulho.
Este blog relata momentos, lugares, livros, filmes e pessoas relevantes da minha vida; há também alguns sonhos e devaneios, críticas, comentários e relatos de experiências memoráveis.
Nessse blog apresento de forma inédita, no Brasil, as principais conclusões do trabalho que, por sinal, é bem agradável de se ler:
“As origens da Agência Abreu encontram-se indissociavelmente ligadas ao Brasil, muito especialmente à emigração que do norte de Portugal se desenvolveu na primeira metade do século XIX, com destino àquele país.” (pág. 11). O texto deixa claro que até a publicação do livro não existia qualquer estudo, mesmo sumário, sobre a empresa devido à dificuldade de não existir arquivos documentais sobre sua atividade no século XIX (pág. 14). O fundador, Bernardo Luís Vieira de Abreu (1801-1878), emigrou para a Bahia aos 18 anos de idade (provavelmente em 1819) e regressou ao Porto, já casado e com filhos, em 1838, com capital e conhecimento para estabelecer-se como comerciante, intimamente ligado aos negócios com a Bahia e o Rio de Janeiro devido aos seus conhecimentos do Brasil. Os documentos oficiais referem-se à empresa como agência de viagens apenas em 1948, mas “a Agência Abreu, enquanto continuadora direta de agentes de viagens que se sucederam ininterruptamente no tempo, sempre pertencentes à família Abreu (hoje na sexta geração), remonta, segundo a tradição e de acordo com fontes históricas da segunda etade do século XIX, a 1840”. (pág. 51). Bernardo Abreu provavelmente regressou a Portugal devido aos conflitos provocados pelos levantes populares após a independência do Brasil (1822), como a Sabinada, na Bahia, em novembro de 1937, que causou mortes e prejuízos aos portugueses radicados em Salvador. Bernardo estabeleceu-se no Porto e aproveitou a onda de inovações tecnológicas (ferrovias, navios a vapor) e as ondas migratórias para o Brasil, em razão das condições limitadas de trabalho na Europa e do crescimento da população não apenas em Portugal continental, mas também nas ilhas de Açores e Madeira.
Ao morrer, Bernardo era dono de uma pequena fortuna, como consta em seu testamento, e foi sucedido pelo seu filho Daniel Luís Vieira de Abreu, nascido em 1842, que deu novo impulso à empresa fundada por seu pai e aproveitando a expansão da emigração portuguesa a partir de 1880.
Com esse livro a história da Agência Abreu finalmente adquire o merecido estatuto acadêmico e insere-se formalmente na história do turismo internacional como uma das pioneiras no setor. O livro traz a reprodução de 47 documentos referentes à emigração portuguesa para o Brasil, onze documentos específicos sobre Bernardo Abreu e sua família, cronologia da Agência Abreu e de Portugal, além das fontes e bibliografia minuciosamente citadas. Mas o trabalho não acabou, a mesma equipe prepara a História da Agência Abreu, que deverá ser publicada em 2010 ou 2011.
Aos 170 anos de idade a empresa traz à luz sua história e o interessante contexto internacional luso-brasileiro que marcou seu nascimento e algumas de suas décadas mais estimulantes. Agora aguardemos a segunda parte da pesquisa que ampliará o conhecimento sobre a empresa, seus personagens e feitos.
Entrevistador: Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Entrevistado: Victor Hugo Costa
Entrevista feita pela internet, inserida na íntegra com as respostas do entrevistado.
Victor Hugo Costa é um colega do Senac que viveu uma experiência importante em Dubai. Foi ele que me deu os sites decisivos para minha pesquisa sobre a bolha imobiliária em 2009. Agora, de volta a Brasil e trabalhando novamente no Senac-SP, ele conta para o blog como foi sua vivência.
1. Sua formação
Eu me formei em Turismo pelo SENAC SP em 2004 e logo engatei em uma pós-graduação em Administração e Organização de Eventos, também no SENAC SP concluída no final de 2005, embora na época eu estivesse trabalhando em Hotelaria, na rede Accor, onde fui recepcionista e auditor por 02 anos.
Em dezembro de 2005 saí da Accor para prestar serviços de docência para o SENAC nos cursos de Hotelaria, em nível técnico. Em fevereiro de 2006 ingressei no MBA em Administração, pela FCG-Jundiaí e obtive meu diploma com certificado internacional pela Florida Christian University, de Orlando (EUA).
Em agosto de 2007 passei a coordenar a área de Hotelaria do Senac Osasco, na reimplantação do curso na unidade. Foi um grande desafio considerando um histórico negativo da área naquela unidade e, em fevereiro de 2008 abrimos uma turma de 30 alunos no curso técnico com uma boa programação para o curso, com parcerias importantes com o mercado hoteleiro da região. Foi uma ótima experiência.
2. Por que ir a Dubai?
A idéia de ir à Dubai surgiu no início de 2008, pela influência de uma prima que já morava lá há 2 anos, trabalhando pela Emirates. Certa vez ela esteve em São Paulo e me ligou para visitá-la no hotel onde a tripulação se hospedava em SP, no Grand Hyatt Morumbi. Eu nunca havia entrado no Grand Hyatt e fiquei impressionado com o luxo, estrutura e serviços. Para minha maior surpresa minha prima comentou que aquele era um bom hotel e que a tripulação da Emirates sempre ficava hospedada em hotéis daquele nível e de níveis superiores pelos mais de 100 destinos que a CIA Aérea opera. Aquela visita me despertou o interesse de me candidatar no processo seletivo da Emirates e ter a possibilidade de morar em Dubai num momento onde o desenvolvimento do Turismo estava em maior evidência nos Emirados Árabes (principalmente em Dubai).
Minhas intenções, em deixar o Brasil rumo a Dubai, eram de conhecer algumas das principais capitais turísticas do mundo, ficando hospedado em hotéis de luxo nesses destinos e, assim poder ter mais vivência em serviços de luxo no mundo todo.
3. Quais foram os pontos positivos de sua experiência em Dubai?
Nunca escondi minha insatisfação com Dubai, porém esta experiência foi fundamental para o meu desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional. Não estaria galgando novos desafios profissionais hoje, se não fosse por este tempo que tive nos Emirados Árabes.
Atribuo ao tempo que morei em Dubai (1 ano e 5 meses) uma importância muito relevante para o meu crescimento pessoal e maturidade. Valorizo muito as oportunidades que tive trabalhando para a Emirates, como comissário de bordo. Conhecer importantes destinos turísticos e usufruir dos serviços de luxo de redes hoteleiras como a Accor, Marriott, Kempinski e outras, foram experiências que não consigo mensurar a relevância.
Acima deste conhecimento, o contato com culturas diversificadas também contribuiu muito para desenvolver uma visão diferenciada das peculiaridades culturais, das idiossincrasias de cada povo (por que os indianos balançam a cabeça, por que os árabes se cumprimentam tocando as pontas do naris etc.), que me ajuda a respeitar com muito mais naturalidade as diferenças culturais.
As experiências que tive em Dubai e pelo mundo foram, e tem sido, fundamental para o meu crescimento profissional. Além das oportunidades que tive de vivenciar hospedagens em hotéis de luxo pelo mundo todo, tive que passar por intensos treinamentos, pela Emirates, em qualidade em serviços de luxo.
O fato de estar em Dubai em um momento em que o Emirado estava a todo vapor no desenvolvimento do turismo, com os olhos do mundo todo voltados para ele, era um aspecto muito fascinante. Eu cheguei na Emirates no momento em que a Empresa também recebia o tão falado A380, o airbus de luxo, doubledeck, com capacidade para até 700 passageiros, bar, suítes e até mesmo um mini spa a bordo.
Outro acontecimento importante neste período foi a inauguração do Atlantis The Palm, um resort localizado na primeira ilha artificial The Palm Jumeirah. Nesta festa de inauguração, em setembro de 2008, foram gastos mais de 20 milhões (US$) para fazer uma queima de fogos 7 vezes maior que a da abertura dos jogos olímpicos da China.
Abu Dhabi inaugurava a mais magestosa mesquita antes vista, a Sheik Zaed Bin Sultan Al Nahyan Mosque, um símbolo opulente do islam, aberto para visitantes de qualquer outra religião.
Em Abu Dhabi tive também a oportunidade de conhecer o magnífico e suntuoso The Emirates Palace, resort de luxo da Kempinski.
Outra experiência inesquecível foi o café da manhã no Burj Al Arab, ícone hoteleiro mundial. Na verdade foi um pouco frustrante pelo tanto que esperava, mas sim, inesquecível. Fiz uma postagem no meu blog sobre essa experiência, para os que se interessarem, segue o link: http://victorhugocosta.blogspot.com/2009/07/burj-al-arab-experience.html.
Hoje consigo ser crítico no que diz respeito a serviços e estruturas de luxo, por ter vivenciado essas experiências.
4. E os pontos negativos?
Vou colocar esta resposta em tópicos:
* Ausência de ambientes familiares.
Embora as pessoas em Dubai se reúnam com frequencia, dificilmente nesses encontros se notará um ambiente familiar, com pessoas de uma mesma família, com gerações diferentes (avós, pais, filhos etc.). Eu sentia muito falta de estar em ambientes assim. Embora eu consiga viver longe a minha família, por ter a convicção de que eles sempre estarão ao meu lado, mesmo separados pela distância, não consigo ficar muito tempo longe do ambiente familiar.
* Calor.
Para quem não gosta muito do calor (o meu caso) Dubai é insuportável, principalmente no verão quando a temperatura ultrapassa os 50 graus com facilidade. Deste modo a vida nesta época se limita a ambientes fechados, com ar condicionado.
* Trabalho.
Ser comissário nunca foi meu objetivo profissional e de fato não era um trabalho onde encontrava prazer. Sei que toda profissão tem seus aspectos positivos e negativos, mas quando se faz algo que se gosta, os aspectos positivos sempre ofuscarão os pontos negativos e, o contrário disso também é verdadeiro.
Por não gostar do trabalho os pontos negativos se destacavam. Os horários malucos, a falta de desafio profissional, a minha ansiedade em trabalhar mais com o cérebro do que com o corpo, além de outros aspectos peculiares de se trabalhar na Emirates, como era o caso dos briefings antes dos vôos.
Os briefings são reuniões de 15 a 20 minutos antes de cada vôo. Nesses briefings o principal objetivo é conhecer rapidamente a equipe que fará a operação do vôo e também refrescar a memória no que tange aos procedimentos de segurança (safety and security). No entanto essas reuniões, na maior parte das vezes, eram muito tensas e estressantes. O purser (chefe dos comissários) podia fazer perguntas diretas sobre qualquer parte do manual de mais de mil páginas e, se o comissário exitasse ao responder ele podia ser retirado daquele vôo (off loaded) e obrigado a refazer os treinamentos da empresa. Alguns pursers fazia deste momento um terrorismo, ao invés de realmente usar o tempo para que um ajudasse ao outro a relembrar os procedimentos. O problema era mais agravante em vôos longos, pois se o clima começasse ruim, muitas vezes permanecia ruim durante o vôo todo, durante o layover e até a volta.
5. Havia muitos brasileiros ou sul-americanos morando em Dubai? Você
se relacionava com eles?
Brasileiros estão ganhando a mesma fama dos indianos e chineses!! Não existe qualquer lugar no mundo onde não se encontre um brasileiro! Em Dubai não era diferente, haviam muitos brasileiros sim, e alguns deles trabalhando pela Emirates também (afinal o grupo Emirates é o maior empregador dos Emirados Árabes Unidos). Eram comuns as festas latinas e festas de brasileiros em nightclubs e até mesmo em casas de brasileiros em Dubai. No entanto, as relações em Dubai sempre tomavam um ar superficial e, algumas vezes até movidas por algum tipo de interesse. Este aspecto me incomodava bastante, mesmo em meio aos brasileiros.
Hoje mantenho contato com poucas pessoas que conheci em Dubai, mais precisamente 04 pessoas, todos brasileiros.
6. Por que voltar ao Brasil?
Eu sentia que o impacto positivo que aquela experiência podia me proporcionar já havia acontecido e, ficar mais um mês em Dubai, ou mais 1 ano não traria mais tantas mudanças positivas relevantes.Eu queria desenvolver minha carreira na hotelaria e no meio acadêmico. Pensava da seguinte maneira: “se eu ficar em Dubai, trabalhando como comissário, durante 10 anos, posso engordar uma conta de investimentos financeiros, no entanto, será que este valor vale este investimento de 10 anos?” Eu sempre concordei com aquele jargão popular que diz que tempo é dinheiro. No meu ponto de vista, estava começando a perder tempo e consequentemente dinheiro também. O desenvolvimento de carreira exige um investimento de tempo e por isso resolvi voltar ao Brasil.
Além disso, no momento alge da crise mundial, Dubai se mostrava imponente e intocável. No entanto, eu percebia (e cheguei a comentar com o professor Trigo) que Dubai estava sofrendo com a crise e que em pouco tempo algo de muito sério poderia acontecer. Além de todas as notícias que vimos recentemente sobre a crise ter afetado Dubai, hoje converso com alguns colegas da Emirates que narram uma situação diferente, com uma empresa enxugando cada vez mais o quadro de funcionários, cortando regalias e até alguns benefícios que compensavam o “morar no deserto”.
7. A experiência valeu? por que?
A experiência valeu muito à pena! Sem esta vivência talvez eu não teria adquirido conhecimento e experiência suficientes para participar, atualmente, do programa de Movimentação Gerencial dos Hotéis escola do Senac. Tenho certeza que os examinadores da mesa de reunião do processo seletivo levaram em consideração a experiência que tive tanto trabalhando numa empresa que presta serviços de luxo, quanto vivenciando no dia a dia os benefícios desses serviços, principalmente nos hotéis que frequentava pelo mundo e em Dubai.
8. Quais são os planos agora?
Os planos agora são de me dedicar ao máximo neste novo desafio profissional (nos Hotéis-escola do Senac SP) e em breve iniciar um Mestrado voltado para área de marketing, provavelmente focando minhas pesquisas em hospitalidade e serviços de luxo.