A imprensa publicou, no dia 2 de outubro, o inquérito da Aeronáutica afirmando que uma série de 11 erros levaram à colisão entre o Legacy e o Boeing da GOL a um ano atrás, matando 154 pessoas. Esses erros podem ser resumidos em "relaxo", "displicência", "falta de diligência" e "demora excessiva para comunicação" por parte do pessoal das torres de controle do tráfego aéreo. Em suma, a Aeronáutica jogou a culpa nos controladores de vôos. É a mesma coisa que os japoneses culparem os pilotos dos aviões pelo ataque à base naval de Pearl Harbour, em 1941. Ou os EUA dizerem que a culpa pelas bombas atômica no Japão foi também dos pilotos que as lançaram.
O sindicato dos controladores de vôo pediu uma auditoria internacional para avaliar as condições do tráfego aéreo brasileiro. A Aeronáutica não concorda, certamente porque essa auditoria independente apontaria as más condições de nosso tráfego e controle do espaço aéreo. Isso levaria à punição de oficiais, brigadeiros, ministros etc., afinal são eles os chefes que contratam a linha de frente mal treinada, mal remunerada, que não fala inglês, não sabe os códigos de procedimentos para comunicações e das emergências.
E os pilotos americanos? Ah, eles deveriam questionar as ordens idiotas da torre e adivinhar a frequencia certa da porra do rádio sobre a Amazônia. Também são meio culpados. A situação ficou mais ou menos assim. E os 154 mortos? Será que é para usar o ato do assessor especial Marco Aurelio "top top top" Garcia como ilustração? Acho que não, os mortos merecem respeito.
O pior são essas mortes inúteis. Mortes causadas pela estupidez e arrogância de uma gente que só quer permanecer no poder pelos seus interesses mesquinhos, por cargos de direção, por passagens gratuitas, por um "status" pontilhado de medalhinhas e condecorações que mesclam homenagens merecedoras com atitudes políticas medíocres, como a malfadada condecoração ao pessoal da ANAC em julho de 2007. Mortes horríveis em meio ao nada da Amazônia, ou em meio às chamas de Congonhas. Vidas destruídas, tanto dos mortos como dos parentes que ficaram, porque uma corja de incompetentes se nega a assumir seus erros e responsabilidades. Mortes mostradas pela mídia global, perdas que ilustram tristemente o cenário de nosso subdesenvolvimento ao mundo. Mortes nos aviões, nas estradas, nos assaltos violentos, nos postos de saúde abandonados, nas casas de repouso de velhinhos solitários entregues ao próprio azar.
Enquanto isso há inquéritos, movimentos na justiça, absolvições de políticos corruptos, liberdade para presos perigosos, liminares, greves nos aeroportos (dos controladores de vôo ao pessoal administrativo da Polícia Federal), obstruções judiciais, mentiras nos jornais...
Não há virgens na zona. As empresa aéreas se locupletaram com a crise; o governo tripudiou; os controladores se desesperaram; os militares da Aeronáutica tentam se safar culpando os controladores; e a ANAC, ora o que é essa agência que chafurdou na incompetência em apenas pouco meses? O governo não sabe de nada; os passageiros se omitiram por agum tempo e agora, depois dos 350 estupidamente mortos, talvez façam algo.
Cada vez que chego a algum lugar e me perguntam como foi a viagem respondo: qualquer vôo do qual você sai andando é um ótimo vôo. É o que nos resta.
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