terça-feira, 30 de outubro de 2007

Uma festa diferente

Na sexta-feira, 26 de outubro, fui convidado para os dez anos do curso de Turismo da Universidade de Sorocaba (UNISO). Em 1996, a Maria Angela Ambrizzi Bissoli e eu fizemos o projeto do curso, ele foi implantado e de vez em quando tínhamos notícia do filho crescendo pelas mãos dos outros. O Luiz Octávio Camargo foi o primeiro coordenador e atualmente o Cláudio é o piloto do projeto. Um curso que chega aos dez anos de idade merece elogios, afinal a volatilidade do mercado de cursos de turismo é bem alta e acabou com vários deles (muitos merecidamente porque eram ruins mesmo).
Diferente nessa festa foi a minha participação, afinal um projeto lançado no tempo a mais de uma década aparece, agora, festejando uma década com professores, alunos, gente graduada e trabalhando pelo mundo. Temos uma responsabilidade razoável quando fazemos as coisas porque em geral há consequencias e essas são ótimas. Então fiz algo inédito: terminei a minha palestra com uma poesia que escrevi ali, na hora, enquanto os outros falavam ao povo.
Lá vai poesia em homenagem aos dez anos do curso de Turismo da UNISO:
Uma década (1997-2007)
Um período de tempo. Um momento.
Um projeto que se desdobra. Aflora.
Uma semente a evoluir. Fluir.
Uma parte da vida passada em conjunto. A construir.
Uma noite, dez anos depois, lembramos o tempo, o projeto, a semente
e nos admiramos com a árvore, o fluxo, a história,
nos divertimos com tudo que existe na memória
e sentimos que a década não foi vivida em vão.
O momento estendeu-se em um fluxo temporal;
a semente virou bosque;
nossas vidas, em conjunto, ergueram uma construção
e nesta noite, ao mesmo tempo que sentimos
agradecidos o passado,
comemoramos as vitórias presentes
e vislumbramos outras décadas,
em um futuro infinito.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Vote nos Lençóis Maranhenses


Está rolando uma nova enquete mundial. No site http://www.new7wonders.com/ dá para conhecer e votar nas belezas naturais preferidas. Votarei nos lençóis Maranhenses.

Qual o motivo? Veja acima. Esta foto foi feita pelo Fernando, marido da profa. Fabiana da Uniceuma, São Luís.

É uma pequena amostra da beleza primordial que se estende de Barreirinhas, percorre o rio Preguiça, um curso d´água límpida ladeado por matas, mangues e dunas de areia, até desembocar em sua foz no oceano Atlântico. Essa foz é uma plenitude de águas límpidas, ventos fortes, céus azuis e profundos dominados pela luz inclemente do sol equatorial. Paisagem dionisíaca. Um orgasmo da natureza.

Lugares estranhos do Brasil

Existe, nos EUA, um livro sobre os lugares esquisitos do país, chama-se Eccentric America, de Jan Friedman. Penso que dá para fazer um sobre o Brasil. Vi dois lugares estranhos nos últimos dias. Um deles foi em Presidente Prudente (extremo oeste do estado de São Paulo, a uns 550 km da capital). Fui dar uma palestra na Unoeste, uma instituição criada e mantida pelo Agripino de Oliveira Lima Filho, prefeito cassado da cidade e ex-deputado federal. Visitei o hospital-escola da Unoeste (imenso) e o campus principal, localizado em uma fazenda com árvores, caminhos de terra e barracões, além dos prédios amplos e com terraços de onde se avistam os campos e a noite estrelada. Tudo muito bonito.
Depois fui levado para ver algo inédito. O Agripino reside em uma outra fazenda, à margem da rodovia Washington Luís, onde construiu um tipo de parque temático religioso imenso chamado Morada de Deus. Ali estão as 13 estações da via sacra de Jesus Cristo, uma pequena capela e uma igreja. Essa igreja possui uma estrutura de concreto e é coberta por extensos vitrais. Parece uma coroa alianígena. O templo é cercado por pisos de granito e por estacionamentos imensos, asfaltados. O lugar é bem mantido, limpo e naquele dia só havia dois visitantes: o professor que me levou e eu. Dizem que ele é católico fervoroso e fez isso para cumprir uma promessa. Aliás o campus principal possui uma capela de porte médio, com pinturas, pisos decorados e um nível de conforto acima da média. se forem a Presidente Prudente visitem o local. É, no mínimo, insólito.
Outro lugar estranho é Iperó, pertinho de Sorocaba, também interior de São Paulo. Lá tem o Centro de Pesquisas da Marinha brasileira (Aramar) que eu não visitei por que é proibido. Desde 1982, há burocratas, cientistas e investimento maciço para desenvolver propulsor nuclear para um submarino brasileiro. Pelo tempo e dinheiro investidos já dava para ter desenvolvido o propulsor do destróier espacial do Darth Wader. Mas a Marinha não é o mais estranho em Iperó.
Ali está a Floresta Nacional de Ipanema e a Real Fábrica de Ferro Ipanema, a primeira siderurgia do Brasil, fundada no século 18. O lugar tem casas, fornos, barracões em pedra, represas e uma vegetação exuberante. A área é controlada pelo Ibama e está semi-abandonada. Há alguns projetos turísticos para aproveitar o local, mas a burocracia federal empaca todas as propostas. Em meio à mata e às belíssimas construções seculares, o governo da ditadura militar (1964-1985) construiu dois caixotões de concreto - horrorosos - para servirem de área administrativa e hospedagem.
Há umas trilhas pelo meio do mato que podem ser percorridas. É necessário pagar uma pequena taxa na entrada e há um restaurante (ruim) lá dentro. O lugar é destaque no site www.ufoecoturismo.com. Aliás, o que é ufoecoturismo? Delírios esquizóides, certamente.
O cenário como um todo é estranho, pelas ruínas (algumas restauradas) e pela disposição dos edifícios ao longo dos amplos terrenos. Ao fundo vê-se uma pequena serra com um cruzeiro (aquelas cruzes no alto da montanha). O lugar seria ideal para um centro cultural, spa ou escola tecnológica. Quem sabe até como área de pouso das naves da República?

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

São Luís - viagem à ilha do sol

Fiquei cinco deliciosos dias em São Luís, no Maranhão. Fui dar um curso de pós na Uniceuma e fazer a primeira reunião de retorno do projeto "Caminhos do Futuro" (http://www.caminhosdofuturo.com.br/).

Na canção "Ilha Bela", Carlinhos Veloz reza: "Deus te conserve regado a reggae...". Faço votos. Foi uma viagem proveitosa, permeada pela hospitalidade e atenção do povo maranhense. Abaixo os tops and downs da ilha.

Dez tops de São Luís:

1. A torta de caranguejo da "Cabana do Sol";

2. O roteiro dos "Papagaios amarelos", sobre a breve colonização francesa;

3. A Casa de Cultura Josué Montello;

4. As lendas sobre os túneis da Fonte do Ribeirão;

5. As ruas antigas com seus casarões ao luar, com o som dos tambores ao fundo...;

6. O cheiro acre do mercado público com seus produtos exóticos (para nós);

7. O humor da primeira turma de pós em turismo da Uniceuma;

8. A amplitude das marés é sempre impressionante;

9. O vento refrescante que sopra em outubro, quebrando o calor e agitando as árvores e o mar;

10. O trabalho que a turma da Secretaria Estadual de Turismo e dos municípios dos "Lençoís" fez com base nos "Caminhos do Futuro".

Alguns downs:

1. A incompetente da Infraero fez um novo terminal de passageiros no aeroporto com teto de metal e sem ar condicionado. Calorosa burrice.

2. O antigo Hotel Vila Rica ficou fechado e foi reaberto em dezembro de 2006 com outro nome e proprietários. Agora chama-se Grã São Luís. Serviço péssimo. Evite.

3. O Sarney continua por lá...

Placar final: 10 a 3. Ganhou de goleada. A ilha é um tesão mesmo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Salvador numa tese pós-industrial.

Imagine uma professora descolada de economia. Ajunte uma cidade instigante e bem temperada como Salvador. Adicione um doutorado em Barcelona. Publique tudo de forma bem estruturada, com um monte de informações, graficos e figuras coloridas. Use o patrocínio da Fapesb (a Fapesp da Bahia) e do governo da Bahia. Sirva em um volume de 300 páginas. Está aí a receita do novo livro de Lúcia Aquino de Queiroz, "Turismo urbano - gestão pública e competitividade: a exeriência da cidade de Salvador". O livro será lançado em Salvador com uma baita festa num boteco local.

A Bahia é um dos estados pioneiros na valorização do turismo e de sua cultura e o livro mostra como o pessoal trabalha a competitividade em comparação com outras cidades do mundo, seus problemas e as relações complicadas com o poder público. Os caras aprenderam ao longo de 25 anos a fazer um lazer, turismo e entretenimento de maneira um pouco mais profissional que os outros. Não está perfeito, claro, afinal Salvador fica no Brasil, mas melhorou muito.

Em setembro de 2001, Mário Beni e eu estávamos num congresso da AIEST, em Malta. No ultimo dia o presidente da Associação, um suiço bem folgado, virou para nós e disse: "Beni, Trigo, the next congress will be in Brasil. In Bahia." Pensei, que droga, o ACM acabou de brigar com o FHC e não vai dar para ajuntar a Embratur com os baianos para sediar o primeiro congresso da AIEST no Brasil. Voltei para cá e cheguei na manhã do dia 11 de setembro, a tempo de ver o show do Bin Laden pela TV. As coisas foram rápidas. Em fevereiro o secretário geral veio para São Paulo, nos encontramos em Guarulhos e voamos para Salvador. Lá o pessoal da secretaria de estado nos recebeu, ouviu os detalhes sobre o congresso, nos mostrou alguns hotéis e deixou uma empresa para operacionalizar tudo. O Paulo Gaudenzi me disse, não se preocupe que está tudo OK". Claro que me preocupei, e muito, porque no final a responsabilidade pela festa ficou comigo, com todos os problemas dali decorrentes. Mas não teve encrenca. O pessoal da agência de eventos entendeu as necessidades dos quase 80 estrangeiros (muitos chatíssimos) especialistas em turismo que vieram e no ultimo dia a equipe foi chamada ao palco para receber os parabéns, coisa rara num congresso desse tipo. Das reuniões às festas, dos passeios às refeições, tudo correu bem, mais ou menos no horário e com tranquilidade.

O que possibilitou essa capacidade, esse pioneirismo baiano em tratar do turismo de forma tão competente e divertida? É isso que Lúcia Queiroz propõe a analisar ao longo de sua tese. Apesar de ser um trabalho acadêmico (foi uma tese de doutorado denfendida na Universidade de Barcelona) é bem legível e clara para todas as pessoas.

Ela fala de cluster, de competitividade, de entretenimento e de políticas públicas em lazer e turismo. E reconhece os problemas que ainda existem na cidade, seu livro é dedicado inclusive "aos que dormem nas ruas de Salvador à espera, nem sempre, de dias melhores."

Já li e gostei (tive a honra de ser convidado para escrever o prefácio). Deverá ser vendido em Salvador. A Lúcia é coordenadora do curso de Turismo da Unifacs, onde pode ser encontrada.

E a Embratur? Apoiou e não entrou por motivos políticos, mas mandou todo o material publicitário para ser distribuído no congresso.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Mais um inquérito da Aeronáutica

A imprensa publicou, no dia 2 de outubro, o inquérito da Aeronáutica afirmando que uma série de 11 erros levaram à colisão entre o Legacy e o Boeing da GOL a um ano atrás, matando 154 pessoas. Esses erros podem ser resumidos em "relaxo", "displicência", "falta de diligência" e "demora excessiva para comunicação" por parte do pessoal das torres de controle do tráfego aéreo. Em suma, a Aeronáutica jogou a culpa nos controladores de vôos. É a mesma coisa que os japoneses culparem os pilotos dos aviões pelo ataque à base naval de Pearl Harbour, em 1941. Ou os EUA dizerem que a culpa pelas bombas atômica no Japão foi também dos pilotos que as lançaram.

O sindicato dos controladores de vôo pediu uma auditoria internacional para avaliar as condições do tráfego aéreo brasileiro. A Aeronáutica não concorda, certamente porque essa auditoria independente apontaria as más condições de nosso tráfego e controle do espaço aéreo. Isso levaria à punição de oficiais, brigadeiros, ministros etc., afinal são eles os chefes que contratam a linha de frente mal treinada, mal remunerada, que não fala inglês, não sabe os códigos de procedimentos para comunicações e das emergências.

E os pilotos americanos? Ah, eles deveriam questionar as ordens idiotas da torre e adivinhar a frequencia certa da porra do rádio sobre a Amazônia. Também são meio culpados. A situação ficou mais ou menos assim. E os 154 mortos? Será que é para usar o ato do assessor especial Marco Aurelio "top top top" Garcia como ilustração? Acho que não, os mortos merecem respeito.

O pior são essas mortes inúteis. Mortes causadas pela estupidez e arrogância de uma gente que só quer permanecer no poder pelos seus interesses mesquinhos, por cargos de direção, por passagens gratuitas, por um "status" pontilhado de medalhinhas e condecorações que mesclam homenagens merecedoras com atitudes políticas medíocres, como a malfadada condecoração ao pessoal da ANAC em julho de 2007. Mortes horríveis em meio ao nada da Amazônia, ou em meio às chamas de Congonhas. Vidas destruídas, tanto dos mortos como dos parentes que ficaram, porque uma corja de incompetentes se nega a assumir seus erros e responsabilidades. Mortes mostradas pela mídia global, perdas que ilustram tristemente o cenário de nosso subdesenvolvimento ao mundo. Mortes nos aviões, nas estradas, nos assaltos violentos, nos postos de saúde abandonados, nas casas de repouso de velhinhos solitários entregues ao próprio azar.

Enquanto isso há inquéritos, movimentos na justiça, absolvições de políticos corruptos, liberdade para presos perigosos, liminares, greves nos aeroportos (dos controladores de vôo ao pessoal administrativo da Polícia Federal), obstruções judiciais, mentiras nos jornais...

Não há virgens na zona. As empresa aéreas se locupletaram com a crise; o governo tripudiou; os controladores se desesperaram; os militares da Aeronáutica tentam se safar culpando os controladores; e a ANAC, ora o que é essa agência que chafurdou na incompetência em apenas pouco meses? O governo não sabe de nada; os passageiros se omitiram por agum tempo e agora, depois dos 350 estupidamente mortos, talvez façam algo.

Cada vez que chego a algum lugar e me perguntam como foi a viagem respondo: qualquer vôo do qual você sai andando é um ótimo vôo. É o que nos resta.