De nossa mãe temos uma
certeza genética baseada em um óvulo mensal. De nosso pai temos os bilhões de espermatozoides-possibilidades
jorrando quase constantemente, do qual um – apenas um – se junta ao raro óvulo
mensal para nos formar enquanto pessoas.
Pai é algo mais etéreo,
um anjo sublime por seu distanciamento dúbio e racional, tão propício ao que
precisamos para nos jogar na vida e seus mistérios.
Nem todos possuem o
nome do pai em sua certidão de nascimento. Outros convivem pouco com seus pais.
Alguns vivem a relação paternal profunda e intensa. Não importa. Temos em
nossas vidas um legado genético fundamental da mãe e do pai e, geralmente, um
exemplo paterno que nos marca indelevelmente a existência. Mesmo desconhecido
(por morte prematura ou por ter sido um caso fortuito na vida de nossas mães),
o pai está presente em nossos genes, em nosso imaginário (ou saudades) e na
nossa história.
Por isso, entre tantas variáveis,
é bom abraçar o pai e curtir sua presença.
Do meu pai eu curto
suas lições de vida, sua coragem em assumir desafios e projetos, a firmeza ao
superar as dificuldades e o otimismo pétreo perante a vida. Seu idealismo faz contraponto
com minha racionalidade; sua intuição arguta compensa as lacunas de minhas
análises cartesianas; sua capacidade de ouvir – e entender – faz dele um confidente
precioso, pois há coisas que não se deve confiar a estranhos, porque não
sabemos as sombras e as carências no caráter das pessoas.
Meu pai esteve em todas
as minhas defesas acadêmicas (mestrado, doutorado e livre docência) e quando nos víamos (ele mora em outra cidade)
ouvia, pacientemente, minhas dúvidas,
anseios e devaneios. Ele sabe bem como fica a criatura antes dos momentos
decisivos na vida acadêmica. Também acompanhou
os ups and downs de minha vida
profissional.
No final deste mês fará
78 anos, mas é ainda capaz (e teimoso) o suficiente para fazer acrobacias numa
esteira rolante na academia ou ignorar o desgaste ósseo para dançar com sua
mulher. Está certo que, entre outras coisas, ele fez Educação Física na praia
Vermelha (Rio de Janeiro), foi paraquedista do Exército, mariner,
diretor de Educação Física do CIAGA (Marinha Mercante) e malha desde sempre.
É duro na queda,
flexível e aberto no raciocínio, teimoso na medida (do que não sei, mas minha
teimosia vem de quatro costados) e vive de acordo com seu imaginário e anseios.
Possui um lado místico acentuado, um bom humor constante e uma intuição tão
forte quanto respeitosa. Meus pais se separaram pouco tempo após o casamento e
minha mãe (já falecida), sempre falou muito bem dele (e vice-versa). Um ótimo
sinal e testemunho de sua pessoa.
Para mim é mais fácil
escrever tudo isso num blog do que falar pessoalmente. Mas ele lerá e hoje, no
nosso almoço, terá entendido que cada um expressa suas emoções e afetos da
maneira que melhor lhe convém e parece honorável.
Quanto aos meus
compadres, amigos, parentes e agregados que são pais (biológicos, honoríficos
ou por afeto) deixo minhas felicitações, não apenas pelo “dia dos Pais”, mas
porque a benção de ter filhos merece ser celebrada por toda a eternidade.
Luiz Gonzaga Godoi
Trigo, 2013