Parte do imaginário turístico sobre o litoral catarinense repousa nessa imagem. A foto foi tirada em Balneário Camboriú. É uma praia de quase sete quilômetros de extensão que reune prédios de apartamentos, residências primárias ou secundárias de gente que enriqueceu, de várias maneiras, na região. O imaginário remete à tranquilidade, à placidez da natureza...
... bem diferente do que se vê, se a gente virar 180 graus. A praia foi tomada por uma muralha de concreto que começa a grande altura bem em frente ao mar, ao longo da Av. Atlântica, e avança para o interior.Na faixa litorânea os preços começam com quase um milhão de reais e sobem saudáveis, de acordo com a ambição e o bolso do consumidor.
O resultado é a queda da qualidade de vida em geral. Essa é uma das vistas do 12º andar do Hotel Plaza Camboriú. Vive-se cercado de edifícios caoticamente reunidos numa urbe sem planejamento, sem respeito pelo meio ambiente e sem observar sua capacidade de carga. Essa desgraça, vendida como progresso e desenvolvimento, se repete em muitas cidades do litoral brasileiro.
Com o crescimento econômico nacional e regional, uma segunda onda de construções foi detonada nos últimos anos. Dá para perceber a diferença qualitativa entre a arquitetura mais antiga (direita) e a mais nova, com prédios alvos cobertos por uma película de vidros esverdeados, em linhas curvas e ousadas. Vários desses edifícios pós-tudo têm entre 30 e 46 andares. São os mais altos do país.
Mas isso não é o suficiente para a cidade que sonha em ser um tipo de Dubai tropical. Talvez não saiba que seu arquétipo urbano está em crise e passou por uma bolha imobiliária da qual ainda não se recuperou. Sem contar os vastos danos ambientais que assolam Dubai e são censurados pela bilionária família, proprietária e ditadora dessa fatia dos Emirados. Mas isso não se comenta no Ocidente, pois eles são nossos parceiros comerciais privilegiados.
A mini-Dubai sub-tropical proclama ser a futura sede do mais alto prédio residencial da América Latina, uma torre com mais de 60 andares, a ser construída quase em frente ao mar (poluído durante todo o verão). o projeto será instalado em uma estreita faixa de terra, ao lado de um riozinho imundo que corta a barra norte da cidade. Os apartamentos, com uns 140 metros quadrados, custam quase dois milhões de reais. Vai demorar cinco anos para o projeto ser entregue e as reservas estão sendo feitas.
O prédio está sendo lançado por uma construtora local, a FG Empreendimentos, uma das donas das novas e espetaculares torres da cidade.Veja no site:
http://www.fgempreendimentos.com.br/lancamentos/infinity.cfm
Postei a foto da maquete ontem, no facebook, e muita gente perguntou se o projeto estava dentro do plano diretor da cidade, se respeitava o meio ambiente e se havia tratamento de águas servidas. Ha ha ha ha ha. Está vendo todos esses prédios? Por que você acha que no verão as águas do Atlantico ficam poluídas? A capacidade de carga da praia estouros há umas duas décadas, e continua bombando. Veja o que o Ministério Público de Santa Catarina tem a dizer:
"Santa Catarina não deve cumprir uma das principais Metas do Milênio, do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud): reduzir pela
metade o percentual da população não atendida por esgoto sanitário entre
1990 e 2015. Hoje, só 12% da população do Estado tem acesso à rede de
esgoto. Em 1990, o índice era de 9,5%."
Fonte: http://saudefloripa33pj.wordpress.com/2011/02/06/vergonha-saneamento-de-sc-em-2015-ainda-sera-pessimo/
O gigante imobiliário, revestido de alvura marmórea e vidros espelhados, tem seus alicerces fundados em cocô.
Durante o verão a cidade encalacra porque o trânsito, com suas ruelas estreitíssimas (poucas avenidas são mais largas) entra em colapso. A avenida Brasil, faixa de desfile de Porshes e Ferraris nos finais de semana, tem apenas duas faixas. Ali, no auge da estação ensolarada, Lamborghini anda à velocidade de carroça. Mas (quase) todo mundo se diverte.
Isso não acontece apenas em Balneário Camboriú. Florianópolis tem sido sistematicamente desrespeitada pelos interesses imobiliários que contornam (sic) a legislação para destruir morros, manguezais, dunas e amontoar edificações em escala absurda. O mesmo pode se dizer de muitas cidades do Brasil. Em São Luís (MA), recentemente o MP obrigou a divulgar os índices de contaminação das praias, o que afugentou os turistas informados. A baixada santista, em São Paulo, já entupida de gente e carros, passa por mais um processo de valorização imobiliária e novas construções. O verão encontrará mais e mais gente vivendo nos paraísos tropicais, agitados, descolados e contaminados.E pagando caro por isso.
Outra foto que postei no FB e fez sucesso foi essa, do melhor hotel da cidade, o Mercure. Desde sábado está fragmentado em seu brand , algo que o gerente bem poderia evitar com manutenção preventiva. Mais um exemplo do planejamento do macaco gordo, tambem conhecido como "quebra-galho".
Mas chega de problemas. Temos pela frente as festas de final de ano, verãozão e o carnaval. A anomalia passa a ser normal e tacitamente aceita como inexorável. Boa diversão.