quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ribera del Duero - vinho, gastronomia e história

Há várias rotas do vinho pelo mundo: Califórnia, França, Alemanha, Portugal, sul do Brasil, Itália e Espanha. Na minha viagem, em julho, o professor Félix Tomillo me levou para conhecer a região de Ribera del Duero, perto de Valladolid (Espanha), rica em história, vinhedos e vinícolas, restaurantes deliciosos e antigos mosteiros.


Um ponto alto da visita é o castelo de Peñafiel, onde do alto avista-se o povoado.


No caminho a abadia Retuerta, transformada em hotel de luxo e sofisticada loja de vinhos.


A região engloba quatro municípios (Valladolid, Burgos, Segovia e Soria), possui 66 mil habitantes, conta cm 21 mil hectares de vinhedos plantados e mais de 250 bodegas (vinícolas) que engarrafam anualmente quase 50 milhões de litros de vinho, uma economia inebriante.


Algumas safras mais excelentes e envelhecidas são vendidas em caxas especiais, juntamente com os sais do vinho.


Vinhedos, matas remanescentes, rodovias interioranas de ótima qualidade e grande oferta de hospedagem, gastronomia e produtos regionais garantem uma oferta variada e saborosa para os visitantes.


Nesses países compra-se garrafas de vinho de qualidade (crianza, reserva ou gran reserva) por preços altamente vantajosos, especialmente para nós brasileiros. Uma boa garrafa de vinho para uso cotidiano custa entre 5 e 20 euros; uma garrafa mais sofisticada de 30 a 50 euros e as safras top, acima de cem euros.  A foto acima foi na Retuerta.


O grupo Emina tem um museu sobre a vinicultura em Ribera del Duero, por onde passa o rio Duero (ou Dourpo, no norte de Portugal). O setor foi iniciado pelos antigos monges cistercienses que desenvolveram o cultivo de uvas em seus mosteiros e abadias e depois passaram o conhecimento para os leigos.


Félix Tomillo, Alexandre Panosso e eu a caminho da Rota do Vinho.


A Plaza Mayor de Valladolid, uma cidade com vários parques e museus, como o Museu Oriental, na sede dos padres Agostinianos (de Santo Agostinho), de onde partiram missionários para o Brasil, África e Ásia.


A imensa vinícola Protos, em Peñafiel, possui um circuito de visitação pelos seus subterrâneos e áreas de estoque.

São centenas de metros com barris, garrafas e tonéis armazenados com a bebida clássica de gregos e romanos, de Dionisos e Baco, em um ritual que se repete a cada nova safra.


Os vinhedos são organizados de acordo com o tipo de uvas. O setor químico ajuda na preparação do néctar, para desespero dos puristas.


Dezenas de pequenos restaurantes servem carnes e cozidos, massas e peixes, com muito esmero e sabor. Tudo acompanhado por bons vinhos e digestivos marcantes.


Esse nós tomamos depois no final de um almoço digno de um abade medieval. Por Diós...


Monastério de Santa Maria de Valbuena, que surgiu como mosteiro beneditino em 1151, são 900 anos de história. O lugar está preservado e é um centro cultural regional.


Vista do castelo de Peñafiel, a partir do povoado.


Interior da igreja de Valbuena, com seus altares góticos refinados.


Do alto do castelo vê-se a região de Peñafiel ...


... em todos os seus ângulos. O castelo tem a forma de um navio de pedra, aí seria a proa.


Do alto percebe-se o tamanho da vinícola Protos.


No topo da torre, uma visão vertiginosa das torres e ameias do castelo.


O interior da Espanha (ou da Itália, da França, de Portugal, da Europa...) é pontilhado de tesouros históricos e arquitetônicos que nos remetem ao passado e a um mundo medieval marcado pelo misticismo e pela estética transcendental.


O mosteiro de Santa Maria de Espina possui obras de arte, é uma escola agrícola administrada pelo estado e por irmãos maristas e possui, segundo a tradição, um dos espinhos da coroa de Cristo...


... preservada nesse ampola de vidro.


Vinhos topo de linha da Vega-Sicilia, de Ribera del Duero, vendidos no free shop do aeroporto de Barajas, em Madrid. Eles chegam nos restaurantes de São Paulo custando entre R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 a garrrafa.

Para terminar uma curiosidade religiosa: nesse painel do altar, em Valbuena, vê-se a Cristo na cruz cercado pelos dois ladrões, uma raridade em iconografia cristã. Alguém conhece outra igreja onde as três cruzes são representadas em escultura, no altar?

E aqui deixo o mapa virtual do tesouro. Foi esse o roteiro que o prof. Félix Tomillo me passou para pesquisar os detalhes sobre a Rota do Vinho de Ribera del Duero. Degustem sem moderação.

ITINERARIO DE IDA
En Quintanilla de Onésimo, cruzamos el Duero hacia Olivares, Valbuena de Duero (http://www.emina.es/), San Bernardo (http://www.diputaciondevalladolid.es/turismo/municipio/san_bernardo), Pesquera, Curiel y Peñafiel
ITINERARIO DE VUELTA
Por Vega-Sicilia (http://www.vega-sicilia.com/) en Valbuena de Duero y Arzuaga (http://www.hotelarzuaga.com/) en Quintanilla de Onésimo.
WEB DE TURISMO DE CURIEL
WEB DE TURISMO DE PEÑAFIEL
PEÑAFIEL: BODEGAS PROTOS (Los fines de semana recibe muchos visitantes. Estamos pendientes de que nos confirmen si nos admiten)
CURIEL: BODEGAS COMENGE (Bodega nueva, menos conocida, alternativa a Protos)
PEÑAFIEL: MUSEO DEL VINO
PEÑAFIEL: RESTAURANTE LAGAR DE SAN VICENTE
PEÑAFIEL: HOTEL DE ALEJANDRO FERNÁNDEZ

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Barcelona: vida largada, cenários instigantes

As origens da cidade remontam aos gregos e romanos e sua história recente foi marcada por guerras e dificuldades, todas superadas após a democratização da Espanha e com a revitalização da Catalunha que forjou uma cidade linda, moderna, excitante e espraiada entre o Mediterrâneo e a serra de Tibidabo.


As torres da igreja da Sagrada Família, obra inacabada de Gaudi, são complementadas pelos guindastes encarregados de dar os detalhes finais a essa obra onírica de misticismo ancestral.


Aí está novamente a Igreja, em meio à cidade que cresceu nos últimos anos até chegar a cinco milhões de pessoas na região metropolitana.


Vista do alto do Tibidabo, a cidade faz um contato com o mar. A torre redonda é Agbar, um exemplo da arquitetura contemporânea local.


Chega-se a Barcelona por avião (excelente aeroporto), mar ou por terra, em rodovia ou pelos AVE, os trens de alta velocidade que atingem 300 km/h. Esse é o que faz Barcelona/Madrid em quatro horas (700 km).


As estações são modernas e confortáveis. Essa é a de Zaragoza, com um hotel dentro da gare.


O trem AVE, um dos orgulhos espanhóis.


A torre Agbar vista à noite, na praça Glories. Fiquei num hotel Íbis a três quadras dali.


No verão catalão as pessoas ficam pelas praças, jardins e lugares públicos onde se é possível sentar e relaxar. Pode-se beber na rua, sem problemas. Essa é uma das pracinhas da parte velha da cidade.


Alguns turistas mais populares se excederam nos goles de Baco e ficaram sob o sol catalão, no chão.


Backpeckers (mochileiros) adoram o centro velho e as ramblas para flanar e deixar a vida rolar.


Comi umas empanadas e quiches, regados à sangria saborosa, nesse barzinho que pertence a duas argentinas. Muy bueno, chicas.


Essa casa, localizada na rambla de Barcelona, é uma antiga casa de chocolates que foi decorada, em 1902, pelo pintor Antoni Ros Y Guell.


Coisinhas gostosinhas são devoradas em um ambiente requintado e muito tradicional.


Nada que não possa ter as calorias queimadas em caminhadas quilométricas pelas ramblas e ruas da cidade que, por sinal, não possui esquinas em noventa graus. As esquinas são recortadas formando espaços livres octogonais nos cruzamentos que oferecem uma outra perspectiva da malha urbana.


No final das ramblas estão as áreas de ócio (lazer) e o cais do porto. Ao cair da tarde o bom é ficar largado aí, vendo o mar, os barcos, as gaivotas...


O navio ambiental Sea Shepherd  (www.seashepherd.org) esteve uns dias de julho em Barcelona antes de ir para a Dinamarca proteger a pesca do salmão. No verão austral ele vem para a Antárctica proteger baleias e golfinhos.


O crepúsculo em um dia nublado dá uma nostalgia gostosa que pode ser melhor regada a vinho tinto y bocadillos, antes do jantar.


No metrô de Barcelona uma cena comum que são os imigrantes do norte da África que tentam se colocar na sociedade espanhola ou em outros países mediterrâneos.


São exilados, foragidos da fome e de guerras que lutam pela sobrevivência na "Fortaleza Européia"  como passou a se chamar o continente, fechado pelas regras e prestígios da União Européia e suas políticas contra a imigração que beiram cada vez mais o antigo fascismo ou a intolerância racial. Essas pessoas vendem artesanato ou produtos eletrônicos pelas ruas. São o subproduto econômico da crise européia.

Entre modernidades, contradições, cultura exuberante e lutas sociais, Barcelona é o lugar ideal para se ficar num sábado à noite. Ou por umas duas semanas de ócio.

Não esqueça: o escritor contemporâneo descolado da Catalunha (e da Espanha toda) é Eduardo Mendoza. Li seu livro Sin noticias de Gurb (Barcelona: Seix Barral, 1991) e dava altas risadas, sozinho, no quarto do hotel. Outro de seus livros é A cidade dos prodígios, justamente sobre Barcelona.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Espanha - modernidade e contradições

A Espanha tem quase 47 milhões de habitantes e é a 12ª economia do mundo. A partir de 2008 entrou em uma recessão que provocou uma taxa de 20% de desemprego (2011), cerca de 700 mil imóveis fechados graças à crise imobiliária e uma certa instabilidade perante o futuro. Mas o país, que se democratizou em 1975 e ingressou na União Européia em 1986, teve um longo período de crescimento econômico, garantia de liberdades civis e diretos humanos e atingiu um patamar social onde as liberdades individuais, a cultura e os investimentos em infra-estrutura floresceram por todo o país. Em suma, é uma gostosura viajar pela Espanha.



Nessa minha última viagem estive em Barcelona, Madrid e Valladolid. A postagem de hoje é sobre Madrid, uma cidade de quatro milhões de habitantes, com arquitetura monumental e seus habitantes dizem te uma expressão "de Madrid ao cielo" que não deixa dúvidas do que eles pensam da cidade.  Acima a Plaza Mayor. 


Fiquei no apartamento de um velho amigo, hoje professor na Inglaterra que estava em período sabático na Espanha. Ele alugou um apartamento no subúrbio (estação Pan Bendito do metrô). Olha a vista do apartamento, localizado no décimo andar. Ao fundo está o centro de Madrid.



A Gran Via continua clássica, cortando o centro da cidade, conservou seus prédios antigos. Buenos Aires lembra bastante Madrid, mas a capital espanhola tem mais charme histórico e estilístico devido à antiguidade.


Essa é uma das pontes que levam à Puerta de Toledo.


Esses jardins são novos. Antigamente havia avenidas nesse local que foram transformadas em túneis viários que cortam boa parte da cidade. As avenidas foram enterradas e por cima criaram fontes, praças, jardins e trilhas de caminhada.


Turismo, esporte, cultura, gastronomia e entretenimento tem tudo a ver com Madrid e com a Espanha.


A monumental Puerta de Toledo, uma das antigas entradas da cidade.


Localizada em um lugar alto, está perto do Clube de Campo, uma imensa área verde na capital (muito maior que Retiro) e do centro da cidade. É cercada por residências e apartamentos sofisticados.


Da Plaza Mayor saem várias ruas estreitas e estilosas com lojinhas, bares, casas noturnas e preciosidades como El Aventurero, uma loja de histórias em quadrinhos na calle Toledo, ao lado da Plaza.


Da Gran Via várias ruas conduzem à Plaza del Sol.


Já a alguns meses a Plaza del Sol está tomada, em parte, por manifestações contra a crise econômica na Espanha e na Europa.


Murais populares ilustram a indignação e a revolta perante o desemprego, a queda do poder aquisitivo, a ambição desmedida do sistema e ...


... a situação mundial que se deteriora em parte da Europa, mais especificamente em Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, o famoso PIIGS, em inglês.


Esse é um bar descolado, unido à uma loja, no início da Gran Via (número 74), perto da Plaza de España. Sabe o nome do bar e loja?


National Geographic Store. É a sétima loja da Nat Geo criada para levar consciência ambiental, informação sobre viagens e cultura e angariar fundos para o grupo. As outras lojas são em Londres, Málaga, Palma de Mallorca, Andorra, Cingapura e Kuala Lumpur. O café tem uns pinchos (comidinhas) e bebidas descoladíssimos. Dê uma olhada nas lojas da Nat Geo no site:

http://www.ngmadridstore.com/ES/madrid.html



Essa é a frente da loja. Tem mapas, livros, roupas, badulaques, brinquedos, globos, mochilas e toda a tralha imaginável para viajar pelo mundo.


Ali pertinho está a Plaza de España, com suas fontes, jardins e ...


... até  mendigos se banhando nas águas cálidas no verão espanhol. A crise é visível em alguns pontos da cidade. Andando de onde estava até o centro, passei por uma praça onde se concentravam desempregados. Um dos rapazes, pensando que eu era espanhol, não me pediu dinheiro mas perguntou se eu não tinha um emprego para ele. Disse que não era dali e me afastei com um nó na garganta que demorou a se desfazer. 


As fontes são uma marca da Espanha da França, da Itália e mantém sua beleza em pedra ou bronze, sempre com as águas límpidas.


Esse prédio da Plaza de España sediava escritórios e o hotel Crowne Plaza, fiquei lá umas duas vezes, antigamente. Hoje está fechado para reforma, mas quando será ocupado novamente, com a crise imobiliária?



Na extremidade norte da cidade, perto da estação ferroviária Chamartin, estão os novos espigões pós-modernos reluzindo ao sol.


Essa foto tirei na garupa da BMW 1200 do meu amigo, Marcos Caruso, em plenos túneis viários de Madrid. Ele é professor em Nottingham (foi no apartamento dele que fiquei hospedado), adora velejar, pilotar moto e fazer pesquisa sobre bioquímica. Sua mulher é professora em uma escola católica de Norwich. Estão a mais de vinte anos na Inglaterra e seus dois filhos cresceram tipicamente britânicos.

Na próxima postagem mais comentários sobre a Espanha e seus contrastes.